1.1.CONCEITO DE ADMINISTRAÇÃO

Podemos falar de uma administração dos "bens temporais da Igreja" (Cân. 1254), como devemos zelar pela boa administração dos bens da Igreja, colocados a serviço da Evangelização que é o "fim" de todas as atividades da comunidade Cristã, na organização eclesial.

1.2. O CONCEITO DE ORGANIZAÇÃO

Vem de organismo, onde as partes se estruturam não somente pela justaposição e sobreposição, mas na harmonia, na interação, e na cooperação, em benefício do todo. Dizemos, na linguagem administrativa, que numa organização existem diversos papéis ou funções. Assim, o bom cumprimento do papel de cada parte, de cada órgão ou indivíduo é que garante a vida e o desenvolvimento da organização.

Da definição de organismo decorre a noção de estrutura. A vida do indivíduo, das comunidades e sociedades se organiza numa estrutura que fundamenta e garante a existência e ações das mesmas. A estrutura é necessária e sempre existirá. Ela é o fundamento indispensável para que a vida aconteça e se organize em todas as suas expressões e dimensões.

A preocupação dos Bispos com a eficiente e eficaz administração dos assuntos temporais das Dioceses tem, pelo menos, duas boas razões. A primeira atende ao que prescreve o Código de Direito Canônico, Cânones 391, §1 e 1276 mais 1279 § 10.

A segunda razão, porque promove a atualização das Dioceses às exigências dos tempos modernos. É bom lembrar que a Igreja Católica é citada em muitos manuais de administração, como o modelo de organização que serviu como base às modernas e complexas organizações dos dias de hoje. O primeiro passo para uma boa administração é a disposição dos principais responsáveis para agirem pró ativamente. Não basta lamentar o que ainda não foi feito, mas estar decidido em aceitar e implantar o que deve ser feito.

A Ciência da Administração está cada vez mais sofisticada e especializada. A administração de marketing, por exemplo, exige qualidades e conhecimentos específicos do administrador que trabalha nesta área, diferente daqueles que se dedicam à administração financeira. Administrar um hospital requer habilidades especiais, diferentes de quem administra um conglomerado empresarial. E administrar uma Diocese? Com certeza o administrador tem que conhecer como funciona a estrutura da Igreja, mas também tem que ser um profissional, ou tem que assessorar-se de profissionais que conheçam os métodos e técnicas da ciência da administração. Esta ideia de profissionalismo deve estar presente em todas as áreas da administração diocesana. O amadorismo, às vezes inconsequente, leva a sérios prejuízos.

Existem muitas definições sobre o que é administrar. Não cabe aqui discorrer sobre elas. Há, entretanto, um elemento comum à maioria delas: a utilização de recursos humanos e materiais. E condição básica, no processo de administrar, contar com colaboradores eficientes e condições materiais indispensáveis. O sucesso de uma boa administração está na escolha da equipe e em dispor dos recursos materiais adequados.

Outro aspecto de extrema relevância, é a definição de objetivos claros e definidos. Ter metas, saber aonde se quer chegar, fazer projetos de curto, médio e longo prazos, avaliar e estar atento às mudanças para a construção de um processo. Partir da premissa de que não se deve pretender apenas resultados imediatos, mas a implantação de sistemas que possam oferecer condições de garantia de êxito no futuro.

Quais poderiam ser os objetivos temporais de uma Diocese? É claro que cada uma, dependendo de sua realidade e estágio organizacional, deve encontrar seus objetivos específicos. Todavia, pode-se afirmar que todas necessitarão de uma estrutura organizacional básica, para realizar o mínimo que uma instituição inserida na sociedade necessita: contabilidade, controle financeiro, patrimônio.

Na teoria, uma estrutura é, aparentemente, uma formalização burocrática e estável. Na prática, é exatamente o contrário. A estrutura deve ser definida visando-se, desde a sua concepção, mecanismos operacionais descomplicados e dinâmicos. Todos devem entendê-la e usá-la com facilidade. Trata-se de um sistema de interdependência, no qual um necessita do outro, um supervisiona o outro, para, no final, atingirem-se os objetivos da Instituição. Há de se ter, é claro, disciplina sistemática e obediência à ordem lógica na construção da estrutura, até mesmo, para se possibilitar a avaliação do todo e de cada uma das partes.

Uma estrutura organizacional bem elaborada e adequada aos objetivos escolhidos, oferecerá tranquilidade ao responsável maior pela instituição na obtenção de resultados consistentes, pela transparência dos negócios e na garantia da correta aplicação dos recursos que, em última instância, pertencem à comunidade.

A estrutura básica aqui sugerida é o ponto de partida. Quer ser, apenas, a indicação do mínimo indispensável para se chegar a melhores resultados práticos e facilitar a administração dos bens temporais das Dioceses. Com certeza, trará também inúmeros benefícios pastorais.

1.3. OBJETIVO DA IGREJA

A Missão da Igreja está muito bem fundamentada e sintetizada na expressão do documento. EN 14, donde extraímos o que se segue: Evangelizar constitui, de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe para evangelizar, ou seja, para pregar e ensinar, ser o canal do dom da graça, reconciliar os pecados com Deus e perpetuar o sacrifício de Cristo na Santa Missa, que é o memorial da sua morte e gloriosa Ressurreição.

As modernas teorias de administração contemplam, em seus tratados, com diferentes linguagens e estilos, a distinção geral nas atividades de uma organização, entre as classificadas de "fim" das classificadas de "meio".

Desnecessário, agora, aprofundar as justificativas do objetivo da Igreja como instrumento do Reino de Deus, pela manutenção e desenvolvimento do grande processo de Evangelização e Pastoral. Apenas reafirmamos que estas, a Evangelização e a Pastoral, são a sua atividade fim. Pergunta-se, com que recursos e instrumentos ela vai realizá-la? A busca concreta para esta resposta é a atividade meio. Assim, acabamos de identificar a autêntica natureza da proposta deste trabalho: o conhecimento, a organização metodológica e os enquadramentos legais, aliados à diversidade dos carismas, estilo e criatividade próprias de cada comunidade, em tudo o que planeja e realiza pela Igreja. Certamente, os equívocos gerados pela dificuldade de distinção entre as atividades classificadas como de meio e as outras definidas como de fim têm ocasionado desencontros e desgastes inúteis no processo em que se envolve o povo de Deus, na vida da Igreja. Mas, precisamos considerar que é, também, papel do administrador o esclarecimento destas questões e a criação de uma cultura administrativa eclesial moderna, transparente e dinâmica.

1.4. ESPIRITUALIDADE

O administrador dos bens temporais da Igreja (Cân. 1254) terá consciência, também, em todos os atos administrativos, da importância e dignidade do seu ministério dentro da comunidade eclesial e saberá desenvolver, em si próprio e nos seus colaboradores, a verdadeira mística cristã nestas tarefas muitas vezes insólitas, desgastantes e, por isso mesmo, considerada às vezes, de segunda categoria, ao lado do Apostolado, propriamente dito. Em toda história do Povo Hebreu e dos Cristãos, se deu importância aos aspectos da materialidade na organização do culto religioso. A consciência do reconhecimento e gratidão a Deus, leva pessoas, comunidades e organismos da Igreja a grandes feitos materializados em obras como catedrais, monumentos, obras de arte, que constituem o grande acervo artístico-cultural da Igreja, conservados até nossos dias. O cuidado com as coisas de Deus, o Sagrado, é uma atividade tão santa quanto a lide Apostólica, desde que seja motivada e mantida na consciência da doação generosa, fundamento da capacidade de multiplicar dons recebidos.