A posteriori temos muita capacidade para apontar erros, praticados pelos nossos antepassados. A abolição da escravidão negra no Brasil - fomos o último país do mundo a fazê-la - careceu de algumas providências que, para nós hoje são evidentes: conceder a todas as famílias negras um pedaço de chão para trabalhar, e facilitar seu acesso à Escola. Nada de espantoso que, ao não fazê-lo, a sociedade brasileira empurrou os homens de cor para a cidadania de segunda classe. Talvez os políticos da época até se tenham considerado generosos, ao conceder-lhes apenas a liberdade. Assim, até bem pouco tempo, o Brasil era um país sem cultura e economia unitárias. Éramos, e em parte continuamos sendo, dois segmentos sociais, onde a tônica era, o progresso de um grupo, e o atraso de outro. A Escola para todos ajudou a eliminar grandes equívocos, que consideravam os irmãos negros como desprovidos de capacidade intelectual, e até propensos a serem marginais. Hoje está evidenciado que eles são tão inteligentes como os da raça caucásica, e perfeitamente disciplinados quando escolados. "Neste lugar sereis chamados filhos de Deus vivo" (Os 2, 1).

Mas ainda nos resta corrigir um outro erro. Falta o chão para trabalhar. A Constituição brasileira de 1988 prescreveu que se entregassem as terras aos negros, que se ajuntaram nos quilombos. Aquelas famílias estão lá há 100 anos, ou até 200 anos. Mas não tem titulação legal. O poder público tem o dever de demarcar aquelas terras e entregá-las aos legítimos proprietários históricos. Alguns Estados tem um número significativo de quilombolas, especialmente no Nordeste. Também no Norte e Nordeste de Minas Gerais eles são numerosos. Esse chão não deve ser entregue à especulação imobiliária, o que acarretaria evidentes prejuízos aos quilombolas.  A Assembléia dos Bispos da CNBB, (abril/2012), se manifestou ardorosamente a favor desse povo, pedindo que o poder público faça as demarcações e lhes entregue os documentos. Os Bispos pedem mais: que as terras que lhes foram surripiadas ou extorquidas, lhes sejam devolvidas. "Darei à tua descendência esta terra" (Gen 12, 7).

 

Dom Aloísio Roque Oppermann scj - Arcebispo Emérito de Uberaba, MG.

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