Postado por Rhawy

POBREZA EVANGÉLICA COMO "NOVO" MODO DE APROXIMAR-SE DA REALIDADE.

(AS COISAS, OS OUTROS, OS MESMOS, DEUS)

Algumas premissas

O voto de pobreza converge a totalidade da pessoa e do ser. Investe não sobre o possuir das coisas, mas cada outra realidade que dá uma qualquer segurança: as coisas, os outros, Deus. " Não bastando os sinais externos da pobreza; isso não nos impede de conservar em si uma ambição humana, uma necessidade de potência, um desejo de dominar o próximo, apenas máscaras da aparência" (SCHTZ, R. Dinamica del provvisorio. Brescia, Morcellina, 1947, pp. 48-49).

Para poder viver a pobreza na ótica evangélica é necessário chegar ao positivo superamento (superação), ou melhor à reconciliação de duas opostas: a consciência da própria criaturalidade (pobreza radical) e a necessidade de auto-suficiência. Mas sobretudo ocorre verificar a própria atitude nos confrontos da vida, que pode ser sentida ou como dom ou como coisa própria. Isto requer um processo de maturidade da pessoa verso uma identidade fundada sobre a essencialidade e sobre a interioridade(Cf. PINKUS, Autorealizzazione 83). Pobreza e identidade são, pois, fundamentalmente coligados. Isto, porém, exige um caminho de maturidade que conduza a jovem à consciência que o conselho evangélico da pobreza, plenamente visto, liberta do perigo de ser enviscar-lhe na atraente riqueza de possuir, de saber e de poder, da escravidão das nossas necessidades e desejos, da ansiedade conexa com aquisição dos bens materiais e da tirania do consumismo.

Movimentos de um itinerário por viver a pobreza evangélica.

A série de tarefas ou de passagens que indicaram não segundo uma ordem de prioridade lógica, mas se entretecem reciprocamente sendo em estreita conexão entre eles. Por ter como fundo os conteúdos da pobreza evangélica, todavia pairaremos prevalentemente sobre atitudes, seus dinamismos que a pessoa coloca em jogo quando vive o voto de pobreza.

A tarefa de realizar uma sã relação com as mesmas, com as coisas e com os outros não é nem fácil, nem esgotado. Daqui se desenrola a reflexão que tenta de colher algumas passagens do cumprir por que a pobreza evangélica se torna raiz no coração, como dizia sabiamente Dom Bosco: " A pobreza é preciso tê-la no coração para praticá-la"( Memorie Biografiche V, 670).

Da "lógica do ter" à "lógica do ser".

Este primeiro movimento ou passagem é antes global e investe toda uma série de atitudes, de processos ou de impulsos motivacionais que sob aos nossos comportamentos e escolhas. São-nos, de fato, diversas modalidades de colocar-se de fronte aos outros, as coisas e a Deus, diversos modos de tomar atitudes nos confrontos da realidade que possam-nos facilitar ou condicionar o nosso viver a pobreza evangélica. Trata-se, isto é, de um juntos de atitudes e critérios que chegando uma lógica de vida e de ação. O verdadeiro problema consiste no representar uma correta relação entre ter e ser com uma particular atenção aos logismos do que está em baixo, o que nos sustenta.

No falar de lógica do ter e de lógica do ser farei referência ao pensar de Erich Fromm (Cf FROMM, E. Averer o essere? . Milano, Mondadori, 1977),o qual, por colocando-se em um contexto totalmente diverso e longe do discurso religioso, oferece todavia dos acenos de leitura preciosos e significativos do ponto de vista psicológico e antropológico, pela compreensão dos dinamismos, da problemática ou dificuldade no viver o voto de pobreza.

Ter e ser se apresentam como duas modalidades basilares da existência e constituem o nosso modo sólido de viver, antes colocada toda a experiência humana: atividade, motivações, mentalidade, inteligência e afetividade.

O ter - sustenta Enrich Fromm - constitui "uma normal função da nossa existência, no sentido que por viver, devemos ter sujeitos {...} que, se um não tem nada, não é nada"( Idem 31). Segundo esta lógica, a relação com as coisas, com as pessoas ou com o mundo é de possesso (o possuir), de propriedade. Que põe o seu bem no ter é infeliz e intrinsecamente inseguro, exposto continuamente à ânsia e à angústia, aflição, ansiedade por que o medo de perder qualquer coisa se aninha (Cria abrigo, ninho, proteção) sempre no coração.

A lógica do ter se traduz em diversas formas, qual o consumismo, a incorporação e o desfrute que escorvando dinamicamente antes destrutivos. O consumir, de fato, é uma forma do ter, um modo de tratar os bens de vida assimilando-os mediante a sua distribuição, oportunamente consumindo-os.

Nos confrontos das coisas o consumismo apoia sobre quantidade, produzindo avidez, intemperança, mas também dependência e necessidade(Cf FROMM, E. idem, 46). Entra agora em jogo o mecanismo da incorporação que é uma forma de possesso (de possuir). Nos confrontos dos outros deriva um modo por proceder ou custodiar como uma coisa própria; a relação se coloram de possessividade e de controle, de competição com quem tem mais, de ciúme e sobretudo de inveja. De modo que amar na modalidade do ter deriva antes limitação e prisioneira, sufocamento do outro, antes que liberdade e dedicação. Também nos confrontos da fé e de Deus esta mentalidade pode instaurar dinamismos de incorporação e de possesso (possuidor). A procura e a necessidade religiosa podem exprimir a tentação de receber segurança e respostas claras de cujo apoderar-se, se a fé não vem suficientemente purificada da tirania da necessidade de gratificação.

A lógica do ser, ao contrário, é totalmente diversa daquela de ter. Antes de tudo requer a essência e não a aparência, exprimindo assim a realidade e a verdade de si mais que o aparecer. Implica a renúncia ao próprio egoísmo, aquele desenfreado querer de apoderar-se de qualquer coisa ou de alguém por possuir. Ao contrário do ter, não se deseja nada por render-se apertos e votos, de modo que o próprio eu não obstrua o caminho próprio e dos outros. Amar na modalidade do ser quer dizer capacidade de deixar que o outro seja verdadeiramente o mesmo, deixar ao outro a liberdade de andar ou de ficar , atitude contrária a possessividade. Além disso, é atividade, isto é, dar expressão as próprias qualidade e talentos, crescer e expandir-se, auto-transcender-se, e sobretudo ocupar-se do outro, aceitar, acolher, levar a vida, contra cada tentação de egoísmo e de procura do prazer pessoal.

A relação da escolha da pobreza evangélica, evidentemente, as duas lógicas são os antípodas e é bastante claro que a lógica do ter é absolutamente incompatível com a pobreza.

Da necessidade/prazer de "possuir" à exigência de "condividir"

Por superar a dinâmica do ter ocorre realizar uma outra passagem que retém-se fundamentalmente: da necessidade ou prazer de possuir à exigência de condividir. Ocorre, isto é, modificar as atitudes de possuir profundamente radicados no coração humano. A tendência ao possuir, de fato, é presente em cada ser humano desde o início ao fim da sua existência. Tenciona-se à criança que primeiro diga "eu", mas diz "meu". O seu modo primitivo de aprender (pegando) contato com a realidade é dado precisamente da tentativa de aproximar no próprio campo visivo-perceptivo e de ação as coisas e as pessoas; por conhecer os mesmos, aos outros e as coisas eles tendem a tocar, a incorporar, a colocar na boca, cercando de engolir tudo como uma forma de possuir. O crescimento e a progressiva maturidade cognitiva e afetiva traz a pessoa a abandonar gradualmente esta modalidade, mas não rechaça a marca totalmente das atitudes de fundo, que, pelo contrário, podem permanecer e traduzir-se em atitudes, investindo assim cada comportamento, a fim de derivar parâmetros decisivos de cada escolha.

As atitudes do possuir são engajamentos que denota avidez e gulodice no querer apoderar-se das coisas, o proveito que traduz a tendência a servir-se das coisas e das pessoas por alguma vantagem pessoal, o hedonismo que é refere ao prazer porque isto que conta é o perceber e o gozar. A relação com a realidade, neste caso, deriva prevalentemente funcional e instrumental, pelo que a liberdade resulta muito limitada, antes se corre o risco de uma sujeição, às vezes, alienante, porque pode-se perder nas coisas deixando-se subverter dele.

Ao contrário, precisa opor as atitudes do condividir à expropriação, isto é, a capacidade de viver sem ligar-me em termos de posse ou propriedade, de viver no provisório sem pertencer-se; a disponibilidade como hospitalidade, como capacidade de deixar espaço para os outros dentro de si, a entrega de si que implica a capacidade de dizer de si a isto que somos, mas no mesmo tempo de doar-se, de colocar-se nas mãos de um outro, de render-se ao projeto de Deus.

O voto de pobreza, potencializa as atitudes do condividir, deriva um via privilegiada por liberar o homem e a mulher do instinto de possuir e de domínio, e, enquanto amadurece a liberdade interior, abre à solidariedade e à condivisão com outros irmãos e irmãs que estão em necessidade. Educa, além disso, à gratuidade, a construir ligações livres de qualquer possuir, ou poder ou interesse.

Da necessidade de "segurança" à aceitação da "provisoriedade"

Segurança e adaptação são duas necessidades fundamentais do homem. Se tal necessidade vem frustadas desde o início ao fim da vida o indivíduo pode perder o seu equilíbrio. A necessidade de segurança é sobretudo de caractere relacional e afetivo. O ter feito experiência de ser ao centro afetivo de alguém, de ser considerado importante, põe as bases para um sentido de segurança interiorizado que não vem menos do que o insucesso, a delusão ou a traição. Tal experiência é o núcleo fundante do qual sentido de integridade físico e psíquico que dificilmente abala, arruina, também se ameaçado.

Todavia a existência humana é continuamente exposta à insegurança e à precariedade. A sombra do insucesso, do medo ou da morte é sempre presente; necessário, pois, fazer frente a esta realidade com coragem e equilíbrio.

A vida religiosa, de resto, se apresenta como uma condição de vida que, enquanto de uma parte oferece determinante segurança, doutra expõe risco da provisoriedade e da mudança (sede, atividade, situação e desafios dos tempos ...) Exige, por isso, personalidade forte, capaz de enfrentar as mudanças e as incertezas, mas ao mesmo tempo flexibilidade, isto é, capaz de adaptar-se às situações novas e imprevistas com generosidade e criatividade. A tentação, bastante freqüente, de permanecer no já feito, de fincar-se sua posição que dão segurança, de enrijar-se seus rols (papeis) e atividade já experimenta profundamente as suas raízes na insegurança, na incapacidade de andar ao de lá do certo afrontando o risco da incerteza.

Doutra parte, a realidade do desatamento hoje se apresenta bastante freqüentemente na vida religiosa. Trata-se de pessoas que por motivos vários, pessoais ou institucionais, não sabem andar ao de lá da segurança e da adaptação, esbanjando notáveis energias e renasce na utilização de mecanismos defensivos mais que propulsivos.

Do incômodo (descomodidade) da "falta" à alegria da "beatitude".

A pobreza como "falta" na mesma não é um bem: tem uma conotação claramente negativa, porque a falta de qualquer coisa gera incômodo, sofrimento, necessidade, ansiedade. O problema, porém, não se situa a este nível.

Sob o perfil psicológico, também a falta e o incômodo conseguinte podem assumir um significado positivo de crescimento. De fato, cada frustração derivante da falta de satisfação de uma necessidade ativa a nível motivacional impulsos interiores de procura e de ação, de retomada, que não são inteiramente negativos.

A experiência em âmbito clínico tem demonstrado que uma justa dose de frustração é necessária à criança porque aprende existencialmente a capacidade de espera e de tolerância que o tornará forte e maduro a dinâmica da necessidade que comporta sempre uma dependência e que facilmente encontra a frustração, por promover e discernir o desejo que, impele, excita além do imediato e do material, estimula a capacidade de reenviar ao outro tempo a satisfação da necessidade.

É evidente que este movimento requer um caminho de ascese que é exercício, é luta, é procura do melhor e não só renúncia, destaque, separação. Trata-se de assumir constantemente o êxodo como atitude interior e deserto como símbolo de uma existência privada de ligações e de posses, em estado de caminho verso a felicidade de uma terra prometida. Só assim o incômodo da falta pode transformar-se em beatitude.

A modo de conclusão:  A pobreza evangélica, intensa como um "novo modo de aproximar-se" às coisas, à realidade dessas mesmas, dos outros, de Deus, exige um empenho de formação continua que conduza a jovem verso a construção de uma identidade caracterizada dos seguintes elementos: a humilde aceitação das mesmas, a entrega de si, a aceitação da "dispensa" existencial de um Outro, a capacidade de "fazer espaço a ..."e de "saber atender", a aceitação da precariedade do hoje, a atitude à condivisão, o recuperar da interioridade, como retorno aquela dimensão de essencialidade donde se sente ao mesmo tempo o despojar e o libertar (Cf. VANNUCCI, G. La vida della spogliazione, in Servitium 6 (1972), pp. 25-26).