A outra dimensão da comunicação

 

"Antes mundo era pequeno, porque Terra era grande. Hoje mundo é muito grande, porque Terra é pequena, do tamanho da antena ...Antes longe era distante, perto só quando dava, quando muito ali defronte...e o horizonte acabava...  Pela onda luminosa leva o tempo de um raio, tempo que levava Rosa pra aprumar o balaio, quando sentia que o balaio ia escorregar...." - Parabolicamará - Gilberto Gil

 

A notícia de que a Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Patos, a 300 quilômetros de João Pessoa, na  Paraíba, está com um projeto de inclusão digital saiu no "Blog" de Marcos Eugênio (http://garimpandopalavras.blogspot.com/2008/10/parquia-de-nossa-senhora-de-fatima.html). São três níveis de curso, com uma hora de aula de segunda a quinta-feira. As sextas-feiras são reservadas a palestras e com vistas à qualificação profissional. O curso recebe alunos entre 12 e 18 anos nos períodos matutino e vespertino e um horário noturno é oferecido ao público adulto. O projeto teve início em setembro de 2008 e já formou perto de 100 alunos.

A maior característica do modelo desta revolução é a  rapidez com que tudo se processa. "Queríamos apenas oferecer um meio de auxiliar jovens a se desenvolverem profissionalmente", diz o padre Fábio de Lima, (responsável pela paróquia de Patos) sugiro Pároco ou Vigário paroquial de N. Sra. de Fátima ou Administrador da Paróquia. "Fizemos a reforma de um grande salão, colocamos ar-condicionado e estruturamos o ambiente, pensando em colocar ali todos os recursos necessários, inclusive 30 computadores de última geração, ou seja, começamos com o melhor".

Parcerias valiosas

A Secretaria de Educação do município aderiu fornecendo o material didático, como apostilas, lápis e cadernos. A Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) garantiu os instrutores qualificados, além da emissão do certificado aos formandos, para que o curso efetivamente, lhes abrisse possibilidades de emprego. A parceria com o Sesc oferece refeições e a SolNet, empresa privada local, dá suporte técnico, banda larga e uniformes.

"Assim que lançamos esse projeto, a primeira reação observada foi em relação aos paroquianos. Ocorreu imediatamente uma significativa adesão de novos dizimistas", relata o padre.  "Em relação à rotina da igreja, vimos aumentar o número de pessoas na missa e também, o volume de engajamento de leigos à proposta.  Mas o mais interessante foi ver o despertar do interesse de novas empresas, que agora querem contribuir para que essa experiência se amplie", descreve. A paróquia já tem sete novas máquinas para abrir um outro curso em uma comunidade carente próxima, doados por uma empresa que não quer ser identificada, e o Bradesco deverá ser um parceiro para a nova fase. "As pessoas vêem que a paróquia se preocupa com o bem-estar delas, não só com a espiritualidade, mas em todas as suas dimensões. As comunidades mais carentes estão se aproximando mais da paróquia, enfim, a iniciativa está dando resultados exponenciais e tudo isso está acontecendo muito rapidamente", encerra.

O Papa  no YouTube

Quando o site de postagens de vídeos YouTube foi lançado, em 2005, ele ganhou uma mensagem  adicional: "Broadcast yourself", ou seja, "divulgue-se".  Sua história, como a maioria dos sucessos alcançados por essas novas mídias, teve início sem maiores pretensões e sem quase nenhuma estratégia. (A nascente) sugiro: O berço, neste caso, foi a garagem de uma casa em São Francisco (EUA). Lá, os jovens Chad Hurley e Steve Chen, ambos com pouco mais de 20 anos, iniciaram a criação de um programa de computador para dividir vídeos com os amigos. Cerca de 20 meses depois, a invenção foi comprada por US$ 1,65 bilhão pelo Google, que também havia nascido da sob características semelhantes, no início do século 21.

Em janeiro deste ano, o Vaticano anunciava os "posts" do Papa Bento XVI  por meio do link www.youtube.com/vaticanit , uma vídeo comunidade disponível em quatro idiomas: italiano, inglês, alemão e espanhol, cuja presença naquele ambiente virtual impactou a mídia leiga e também a especializada. O Jornal L´Osservatore Romano, veículo oficiosoal  (Oficial é somente as Acta Apostolicae Sedes AAS!) da Santa Sé, deu destaque à notícia, trazendo uma entrevista do Arcebispo Claudio Maria Celli, presidente do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais. Na coluna assinada por Mario Ponzi, estampa-se a idealização do presidente em relação a um site interativo, por meio do qual a Igreja possa estabelecer um dialogo rotineiro com o mundo, em um espírito de solidariedade e amizade. O arcebispo vê com entusiasmo as novas tecnologias, justamente pela possibilidade de difundir o magistério. O posicionamento do  Vaticano, então, torna-se claro em relação ao uso da tecnologia para levar sua mensagem também aos meios virtuais.

Na mesma edição do periódico oficiosoal do Vaticano, estão as palavras do papa, mas que em suas considerações, desfere um alerta: "...Os novos canais de comunicação digital devem favorecer a cooperação entre os povos e não incrementar o desnível que separa os pobres das novas redes que estão a desenvolver os serviços da informação e da sociedade humana..." , afirma, na passagem para o 43º. Dia Mundial das Comunicações Sociais, celebrado em 24 de maio, sob o tema "Novas tecnologias, novas relações. Promover uma cultura de respeito, de diálogo de amizade". (você conhece o cartaz?)

Estratégias

Ao contrário dos jovens milionários do Google e do Youtube, cuja destreza no uso e aplicação da tecnologia lhes deu a ousadia de agir em um ambiente ausente de limites, o Vaticano deixa claro o seu propósito de aderir às chamadas "redes sociais". Seus limites e princípios éticos são muito bem lastreados por uma estratégia de inovação, onde  a comunicação vai usar os novos canais para ampliar sua mensagem.

Há uma metáfora intrínseca que invoca os elementos da água para definir o que chamamos de  "fluxo da informação" ou "canais de comunicação", e não é por acaso. Tal como o sistema hidráulico, pensar na comunicação e nos contornos de uma mensagem institucional implicará em um desenho estratégico, que estabeleça meios adequados, fluxo pré-estabelecido e públicos-alvo muito bem desenhados.

Paulo Moraes, é um jovem analista de novas tecnologias e as novas mídias e redes sociais fazem parte deste guarda-chuva. Ele  trabalha com  tecnologia alicerçada à estratégia desde seus 18 anos. Há 17 anos, ele era uma espécie de professor particular de executivos para o uso da tecnologia, ou ‘personal training computer'. "Naquela ocasião aprendi, por força do trabalho, primeiro pensar em estratégia e depois pensar em tecnologia, mas é claro que nem sempre é esse o fluxo que as coisas tomam nessa área". Moraes hoje é palestrante do tema web 2.0, gestão de mídias sociais e digitais, e também trabalha como consultor em estratégias dessa área. Na maior parte do tempo, trabalha para o Sistema Canção Nova, que investe permanentemente em fomentar seus canais de comunicação.

"A adesão às novas mídias tem a palavra-chave COLABORAÇÃO. Foi isso que atraiu o Papa a escrever a catequese, mas sua mensagem pede que as pessoas tenham uma linguagem eclética, ampla".

Campus Party

Foi também em janeiro último que a segunda edição da Campus Party realizou-se em São Paulo (SP). O evento, uma proposta nascida na Espanha e tornado uma espécie de fórum de discussão desses novos tempos, durou uma semana e tinha no público jovem conectado o seu foco de trabalho. Lá estavam os interessados no assunto, mas também se instalaram as principais marcas de empresas, ligadas ou não, à tecnologia e mídias. Ora por estratégia de Marketing, ora para estar perto de clientes - prospect, fincar sua marca em um ambiente que atraiu mais de seis mil "campuseiros", como são chamados os participantes, era obrigatório.

Rogério da Costa é um pensador nascido nesse novo contexto social e mediou um dos debates realizados no evento. Seu currículo  estampa especialização nos  temas Inteligência Coletiva, Redes Sociais, Cibercultura, Comunidades virtuais, Micropolítica e Capitalismo cognitivo,  além de uma formação clássica, com Doutorado em História da Filosofia - Université de Paris IV (Paris-Sorbonne), Mestrado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1991), e graduação em Engenharia de Sistemas e Computação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1983).

"As novas mídia chegaram ao Brasil nos anos 90, mas eram um fenômeno iniciado nos anos 60. Para os estudiosos dos movimentos sociais tornou-se claro que a natureza do trabalho estava mudando e isso implicava na percepção sobre as atividades das pessoas, onde cada vez mais elas dependem do coletivo, da comunicação e dos relacionamentos", descreve. "Para provar que a primazia do industrialismo acabou, procure saber quantas pessoas trabalham no chão de fábrica de uma montadora de automóveis e quantas trabalham no departamento de Marketing da mesma empresa. Posso garantir que o chão de fábrica estará vazio, enquanto o departamento de Marketing é um dos mais relevantes para a empresa, ou seja, as máquinas fazem o operacional e as pessoas ‘pensam estrategicamente' sob as palavras de ordem, que são interação, comunicação e relacionamento". Costa afirma que o YouTube é a TV do futuro, o que justifica a estratégia do papa nessa nova mídia, para a veiculação de sua mensagem. "É uma ação midiática calculada, ou seja, uma estratégia pertinente  de posicionamento".

Pesquisa de campo (infográfico)

Segundo pesquisa do IBOPE no contexto do encontro, mais de 90% dos participantes da Campus Party estão envolvidos com práticas colaborativas online, baseado em entrevista a 600 campuseiros:

- 36% já contribuíram ao menos uma vez na edição de artigos em enciclopédias online;

- 87% usam Wikis para se informar;

- 21% contribuem todos os dias em algum fórum de discussão;

- 57% visitam fóruns ao menos uma vez por semana;

-  30% dos campuseiros são autores de blogs;

- 28% são adeptos diários a leitores RSS;

- 24% usam o Twitter;

- 46% sempre lêem comentários de internautas antes de uma compra.

Barreiras digitais

Nos países em desenvolvimento o custo da tecnologia sofre o fenômeno da economia de escala, ou seja, quanto menor for o consumo, mais caro é o produto. No campo da tecnologia isso não é diferente. As barreiras aos menos favorecidos aumentam de tamanho quando há a necessidade de ‘alfabetização' em relação aos recursos de acesso ao meio virtual. É esse o público-alvo do trabalho realizado na paróquia de Patos, bem como em inúmeros outros exemplos encontrados no país afora, além de uma preocupação explícita do papa, em seu pronunciamento. Para formar uma estratégia sólida de inclusão digital são contemplados três fatores - Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), renda e educação. A equação, quando transposta, entretanto, leva o indivíduo a um universo amplamente democrático, onde ferramentas e espaços virtuais lhes são disponibilizados gratuitamente. Os acessos à Wikipédia, Youtube, Orkut, Twitter, Sonico, Plaxo, MSN, Skype e tantos outros caminhos de comunicação digital são gratuitos em 90% dos casos, além do que os campos pagos apresentam baixíssimo custo aos usuários.

Indivíduo-mídia

Para Rogério da Costa, esses ambientes são muito bem dominados pelos jovens porque eles não têm uma visão crítica, própria das gerações de seus pais, por exemplo. "A relação com a mídia sempre foi de ‘idolatrar', de tornar ‘célebre' o indivíduo raro que usufrui da novidade da audiência. Isso era considerado um episódio", analisa. "A internet, entretanto, propicia que você crie sua audiência, ou seja, o jovem que ocupa um lugar comum tem a liberdade de ser visto, lido e interagir com um monte de gente. Estar na web lhe atribui o que chamo de ‘estado de audiência', como um mestre de cerimônias, um líder, mas que também é capaz de receber informações de seu público. E o  papa quer falar para essa moçada...", complementa.

O "blogueiro" Marcos Eugênio, que noticiou a história da paróquia de Patos é jornalista e assessor de imprensa da prefeitura local. Em sua página na internet estão dispostos vários banners de anunciantes e patrocinadores.  Em suma, o indivíduo que tem um formação técnica para elaborar a informação, pensou estrategicamente e criou para si um espaço de expressão e de informações, que são escolhidas por ele sem nenhum custo de implantação, pois criar um blog e até ganhar dinheiro com ele são algumas das ações gratuitas e acessíveis a qualquer um.

Mallu Magalhães é uma garota de apenas 15 anos que virou um sucesso do Youtube depois da postagem de quatro vídeos, gravados em estúdio, onde ela executa canções de sua autoria. A estratégia desenhada pela adolescente foi simples. Ela guardou o dinheiro que seus pais teriam gasto com a compra de presentes de aniversário e Natal e investiu na gravação dos clipes para que fossem postados na rede com uma boa qualidade de áudio e vídeo.  Tudo que ela queria era ser vista, ter uma audiência naquilo que ela mais gosta de fazer e a postagem, claro, não lhe custou nada.

Mas para Fábio Lima, o editor do Programa Link, da Rádio Eldorado, cuja linha editorial é a de noticiar esse novo mundo de idéias e ações, é preciso ter uma postura mais crítica em relação a  esse ‘vale tudo' da Internet. "Mallu Magalhães não é um fenômeno musical, mas sim, do Youtube", critica. Ele que tem 42 anos, é um observador atento desses processos e acredita que o jornal, no formato que conhecemos, está com os dias contados, pois o público já sabe que pode e deve interagir com o meio e não sabe mais se deter passivamente diante de uma folha de papel recheada de notícias. "No mais, a rede está cheia de gente conectada, mas com uma conversa muito rasa. Para que serve colecionar amigos no orkut, criar um "Myspace" ou twitter? Já no meio profissional essa rede é ótima, é fundamental. Cada indivíduo pode fazer seu jornal pessoal, tanto que a ‘blogsfera', para o mundo jornalístico, é muito importante. As pessoas consultam os blogs de jornalistas influentes, justamente porque  ali é um espaço isento para ser mais autêntico", conclui Lima, que confessa não ter computador em sua casa, justamente para poder viver mais tranqüilamente com a música, a natureza e as pessoas que estão à sua volta. Sugiro que os neologismos e anglicismos sejam postos em itálico!

Capacitação  para a novidade

Na Universidade Católica de Brasília, o curso de MBA para Gestão da Comunicação, foi desenvolvido há quase 10 anos. "Montamos esse curso  a partir da necessidade de capacitar profissionais que eram voltados para uma área que demandava competências de gestão, que iriam além do saber técnico, do mínimo de assessoramento de imprensa, e disseminar informação. Essa seria a formação de gestor que teria uma visão sistêmica, com uma gama cada vez maior de públicos', relata o  Prof. Dr. João José Azevedo Curvello, diretor do Programa de Mestrado em Comunicação da Universidade Católica de Brasília.

 

Além da visão clássica de gestão dessa comunicação, entretanto, há essas novidades todas, que precisam ser analisadas desde uma visão interna das instituições, sejam elas de que tamanho forem.  "A facilidade de acesso às mídias, de ter um blog, estar no twitter, ter um endereço no MSN, etc, permite que as pessoas conversem em um nível tão elevado, que elas foram midiatizadas", reitera o professor. Na visão da academia, o impacto maior, nem tanto é no potencial dessas mídias, mas é a capacidade de diálogo, pois esses espaços são colaborativos. As empresas estão percebendo que precisam mudar as suas abordagens, rumo a um manifesto da economia digital. "A regra é não ter regra, mas claro que há riscos quando não temos o controle de todo o processo". No campo da gestão, segundo a visão de Curvello, ainda não estamos prontos para atender a essa demanda, mas também não há como nos esquivar disso, de participar de forma humilde. "O momento exige que se estabeleça uma conversa clara, de duas mãos e dialógica, pois prender-se a um modelo hierarquizado hoje é um risco".

 

 

(fonte diversa!)Para a professora Beth Saad, doutora e livre-docente em Ciências da Comunicação da USP,  hoje qualquer instituição deve considerar a parte digital como um item do mix de comunicação. "A web e seus derivados, os celulares, a mídia móvel, que é considerada um canal de comunicação, acontecem tudo ao mesmo tempo, todos os meios estão na própria rede. O status da sociedade contemporânea não permite que você seja uma pessoa desconectada. "Mas antes de pensar estrategicamente a respeito desta realidade é importante conhecer seu público, analisar o perfil deste e sua adequação a esse novo ambiente."

Para a Igreja, o relacionamento direto com o fiel dependerá de ferramentas de interação. "Não adianta criar um web site se isso não tem utilidade para o paroquiano. Acredito que não seja missão da Igreja, mas considerando que este meio apresente maior facilidade de relacionamento e acesso com as pessoas, onde houver espaço para  diálogo como premissa, haverá formas dos paroquianos se envolverem nisso, e a inclusão digital é um meio para essas propostas religiosas.", defende.

Na visão de Dom Orani João Tempesta, que acaba de ser eleito  para Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, "a Igreja sempre esteve atenta à comunicação de massa, pois ela tem a necessidade de dar a boa notícia do Evangelho". Para ele, como presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Educação, Cultura e Comunicação da CNBB e  membro dos Conselhos Episcopal Pastoral Episcopal Permanente e Econômico da CNBB, é preciso que a sociedade ofereça meios para que todos tenham acesso a essa nova dimensão. A inclusão digital é um meio de evangelizar, já que esse processo tem de pensar, antes de mais nada, no valor do indivíduo. "A questão econômica, a dificuldade de ter e manter esses recursos, exigem mudanças na sociedade, e é necessária a presença da Igreja de forma cada vez mais eficaz, para a construção de um mundo mais justo".

 

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Sociedade da Informação

As relações com o tempo

(tamanho diferente) Toda essa revolução que ocorre nos sistemas produtivos, na gestão e estratégias, sob o ponto de vista organizacional, e os impactos disso na vida das pessoas, individualmente, recebeu o nome de Sociedade da Informação. O campo de estudos envolve profissionais de múltiplas áreas, mesmo porque, pelas suas características, não seria possível encapsular esse fenômeno em apenas uma área do conhecimento.

O advogado Fabio Reis  é um dos teóricos dessa nova conjuntura. Mestre em Direito da Sociedade da Informação, pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas, é mediador, conciliador e árbitro pela Escola Paulista de Magistratura e Membro Efetivo da Comissão de direito da Sociedade da Informação da OAB, e fala um pouco do contexto revolucionário que vivemos por meio da tecnologia.

O  que é sociedade da informação?

 

"A sociedade da informação se apresenta como uma nova "era", assim como a idade antiga e a idade média, temos o privilégio de vivenciar a era da Sociedade da Informação, que podemos chamar de "idade media" (idade mídia), para fazermos uma contraposição com a Idade Média. Nela, a informação passa a ter valor econômico, as fronteiras tendem a se encurtar. Uma das características principais é que a informação e a comunicação entre as pessoas passam a ser realizadas de forma imediata."

 

Desde quando essa nova configuração social vem sendo desenhada?

 

"Na verdade a sociedade da informação teve início na década de 60 do século passado com a invenção da internet pelos norte-americanos (estadunidenses, nos afastaria do colonialismo: AN: Canadá. EEUUA e México!). Entretanto, no Brasil, o reflexo da era informacional começou a partir dos anos 80,  intensificando-se a partir do ano 2000. Para se ter uma idéia, em 2003 Kevin Warwick de 49 anos, foi o primeiro homem a implantar um microchip no corpo para assinalar sua localização e para se comunicar com computadores, experiência financiada pelo governo britânico."

Como está o processo de inclusão digital no Brasil?

"No Brasil, como sempre ainda estamos engatinhando, apesar do governo já ter se manifestado sobre a inclusão digital por meio do Livro Verde da Sociedade da Informação para o Brasil. A obra publicada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia no ano 2000, organizado por Tadao Takahashi, é bastante abrangente prevendo a inclusão digital e informacional não só em relação ao mercado de trabalho como também em relação à educação, a governança eletrônica e a nova visão empresarial. Entretanto, ainda vivemos o fantasma da falta de vontade política. Apesar de terem sido habilitados aproximadamente 150 milhões de aparelhos celulares no Brasil, podemos dizer que não é suficiente para exterminar o analfabetismo digital."

Quais devem ser políticas públicas e privadas de inclusão digital?

"Em princípio é necessário ter vontade política. É necessário criar condições para que haja a inclusão digital, pois o que percebemos é ainda mais um distanciamento do excluído. Os governos precisam aparelhar as escolas e atualizar os professores, muitos deles ainda sem condições de ministrarem aula. Deve-se criar postos públicos de serviços como "lan-houses", onde o  cidadão pode se servir de computadores sem pagar por isso. A implementação de políticas públicas deve, necessariamente, ser regionalizada, pois a realidade de cada local é diferente uma da outra."

Como o anglicismo é mais um elemento de exclusão para aumentar o distanciamento de populações de baixa renda do universo pessoal?

Os anglicismos são termos ou expressões oriundos da língua inglesa introduzidos em outras línguas para designar objetos, coisas e situações que ainda não foram previstas em nossa língua. Esses termos se incorporam naturalmente. As pessoas que não possuem conhecimento passam a recebê-los e acabam a aceitá-los incondicionalmente. Entretanto é importante mencionar que essa é uma dificuldade recorrente, independente da classe social.

Teremos um dia o "equilíbrio" tão sonhado?

Se o equilíbrio desejado for a imposição de uma cultura sobre a outra, faço votos que não. Você deve ter notado que em nenhum momento da entrevista utilizei o termo "globalização", termo que nos remete ao assunto referente ao equilíbrio das coisas. A globalização só pode ser alcançada se houver a integralização de todos os cidadãos do mundo.  Na verdade quando falamos de globalização, mundialização ou até planificação do mundo, devemos entender que se trata de mais uma forma de imposição da cultura ocidental ‘americanizada' sobre as demais. O equilíbrio só será alcançado se respeitarmos todas as diferenças sociais, de raça, cor, costumes, religião. Acho que a internet pode ajudar nesse processo, e quando isso acontecer, teremos alcançado o equilíbrio.