Acompanhei, pelo CTV, com grande interesse as solenidades do consistório público ordinário em que nosso amado irmão e particular amigo, Sua Eminência Reverendíssima Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist, foi inscrito no grêmio do Sacro Colégio dos Cardeais, tornando-se assim o 21o. Cardeal Brasileiro. Deus seja louvado por esta graça para o Brasil. Esta graça se justifica, primeiro porque Dom Orani não vive uma falsa santidade. Ao contrário ele é um homem santo, honesto, que não mente, que não finge, que não trama, que não persegue, que não esconde nada, que não propala que é miraculado, ao contrário, sempre se coloca como um batizado que, ordenado e sagrado bispo, feito Cardeal, é o primeiro a servir, o primeiro a construir a unidade e o primeiro a oferecer o perdão.
A fala, contundente, do Papa Francisco, na missa de ação de graças pelo Cardinalato, não se aplica somente aos novos e antigos Cardeais da Santa Igreja Romana, mas a todos os membros do Colégio Universal dos Bispos e, também, aos fiéis leigos: "O Cardeal entra na Igreja de Roma, não entra em uma corte. Ajudemo-nos, mutuamente, a evitar hábitos e comportamentos de corte: intrigas, críticas, facções, favoritismos, preferências. A nossa linguagem deve ser a do Evangelho: 'Sim, sim; não, não'; as nossas atitudes devem ser as das bem-aventuranças; e o nosso caminho, o da santidade".Hoje, disse o Pontífice, o Espírito Santo nos fala que "somos templos, onde se celebra uma liturgia existencial: a da bondade, do perdão, do serviço". Em uma única palavra, onde se celebra "a liturgia do amor".
O apóstolo Paulo se defronta com as divisões da comunidade de Corinto e explica que este modo de pensar e agir é errado, porque toda a comunidade de fiéis não pertence aos Apóstolos, mas são eles que pertencem a ela e, por sua vez, toda a comunidade pertence a Deus.
Todos aqueles que receberam um ministério para ser guia, fazer pregação, administrar os Sacramentos não devem achar que são donos de poderes especiais, que podem comprar com as suas tramas imobiliárias ou com lavagem de dinheiro as pessoas, as instituições, as reputações, mas devem se colocar a serviço da comunidade, ajudando-a a percorrer, com alegria, o caminho da santidade, que não é da boca para fora. O que adianta demonstrar piedade, ficar rezando em público o terço, se por trás, na vida privada comporta-se como um psicopata ou um demônio? Isso, definitivamente, não é santidade.
No livro do Levítico, primeira leitura do VII Domingo do Tempo Comum, nos diz: "Sêde santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo". E eu vos pergunto: e o que é ser santo? De acordo com a leitura é não ter ódio, é alertar o outro para que não peque, é não ser vingativo, é não guardar rancor e amar o próximo como a si mesmo. Ser santo é agir de modo diferente das outras pessoas que não conhecem sua origem divina. Quem sabe de onde vem, qual é sua família e tem consciência disso, se porta de um modo nobre, porque sabe qual é o valor de seu sangue. Nós, não apenas fomos criados por Deus à sua imagem e semelhança, mas fomos lavados pelo sangue de Cristo e renascidos no batismo. Somos verdadeiramente filhos do Santo.
Viver a santidade é colocar em prática o que diz o Evangelho: "Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito! Isso ele fala depois de nos exortar a uma vida de amor e de perdão em relação ao nosso próximo. Não retribuir ofensas e agressões, não odiar o inimigo e amá-lo, enfim agir como o Pai nos ensinou. Elevemos a Deus Santo orações e preces por nosso querido e amado Cardeal Tempesta, para que, seja sempre sinal e presença de santidade de Deus entre nós e tenha sempre a proteção de São Sebastião e da Virgem Aparecida!
+ Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito da Arquidiocese de Juiz de Fora(MG).