ANO 83 Nº 1250 JN. ARQUIDIOCESANO

I

A Confirmação na Sagrada Escritura, na Tradição Patrística, nos Concílios Ecumênicos.

A Confirmação ou Crisma é verdadeiro Sacramento, distinto do sacramento do batismo, que, conforme doutrina o Código de Direito canônico, promulgado dia 25 de março de 1983, "imprime caráter, pelo qual os batizados, continuando o caminho da iniciação cristã, são enriquecidos com o Dom do Espírito santo e vinculados mais perfeitamente à Igreja, fortalece-os e mais estritamente os obriga a serem testemunhas de Cristo pela palavra e ação, e a difundiram e defenderam a fé" (cânon 879, reprodução da Lumen Gentium n. 11).

O Batismo é a parte dos  sacramentos; ele incorpora o batizado à Igreja e configura o cristão com Cristo mediante caráter indelével (cf, Cânon 849). O Batismo dá início à vida cristã, ministrando em nome do Pai, do filho e do Espírito Santo. Pelo Batismo a Santíssima Trindade faz sua entrada na alma do batizado, tornando-o filho de Deus na área da graça santificante.

A Confirmação, como ensina o cânon 879, continua no cristão "o caminho da iniciação cristã, que pelo Batismo foi dado o primeiro passo. Assim, Batismo e Confirmação são conjuntamente Sacramentos de iniciação de vida cristã, vida esta que se vai aperfeiçoando e crescendo na recepção de outros sacramentos, sobretudo o da Eucaristia. No Batismo à alma é consagrada a Deus, Uno e Trino; na Confirmação a alma, reconsagrada a Deus é enriquecida com o Dom do Espírito santo; é vinculada mais perfeitamente à Igreja (Dom do E. santo, que encerra diversas graças, portanto se pode também dizer "dons do Espírito Santo").

Os Sacramentos do batismo, da Crisma, como o da Ordem, imprimem nalma um perene sinal ou marca de consagração, por isso são recebidos uma vez para sempre. O Sacramento do Batismo, que já embelezou e enriqueceu a alma, fá-la mais bela e mais rica com a graça divina da Confirmação ou Crisma. A Consagração completa, pois, a graça do batismo, aprimora-a.

 

A CONFIRMAÇÃO NA SAGRADA ESCRITURA

Nosso Senhor Jesus Cristo prometeu muitas vezes aos Apóstolos que iria mandar o Espírito Santo (João 14,26; 16,7-23). Ele deu-lhes esta ordem: "Ficai na cidade de Jerusalém até que tenhais recebido a força a virtude do Alto? Lc 24,49 e garantiu-lhes: "Dentro de poucos dias sereis batizados no Espírito Santo" (Ato 1,5). Ora isso não deve ser entendido como apenas um carisma do Espírito Santo para a atividade apostólica, mas do Espírito Santo santificador prometido por Jesus, como princípio de nova vida.

Pouco antes de sua morte. "no último dia da festa, que é o mais solene, Jesus, de pé, disse em alta voz: "Se alguém tem sede, venha a Mim e beba. Quem crê em Mim, como diz a Escritura, de seu seio jorrarão rios de água viva" (Jo 7,37-38).

E prossegue João o seu Evangelho: "Ele (Jesus) falava do Espírito que, deviam receber os que n'Ele cressem; pois não havia ainda i Espírito" porque o Espírito ainda não fora dado (Jo 7,39).

E a promessa realizou-se no dia de Pentencostes cf. At. 2,1-4.

Depois daquela milagrosa comunicação do Espírito Santo, diz o livro dos Atos dos Apóstolos comunicavam a seus discípulos, de modo ordinário, o Espírito Santo pela imposição das mãos: "Os Apóstolos, que estavam em Jerusalém, ao saberem que a Samaria (província entre a Judéia e a Galiléia) acolhera a palavra de Deus, para lá enviaram Pedro e João. Estes desceram, pois para unto dos Samaritanos e oravam por eles, a fim de que recebessem o Espírito Santo. Porque ainda não viera sobre nenhum deles; mas somente tinham sido batizados em nome do Senhor Jesus. IMUNHAM-LHES, POIS, AS MÃOS E LHES RECEBIAM O ESPÍRITO SANTO". At 8,14-17.

O mesmo fez mais tarde São Paulo: "Enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo, depois de Ter atravessado a região alta, chegou a Éfeso. Aí encontrou alguns discípulos e disse-lhes: "Recebestes o Espírito Santo quando abraçastes a fé?". Eles responderam: "Nem ouvimos dizer que há um Espírito Santo". E ele: "Em que batismo fostes batizados?" - "Com o batismo de João", responderam eles. Paulo, então disse: "João batizou com um batismo de penitência (João Batista), dizendo ao povo que cresse n'Aquele que viria após ele, isto é, em Jesus. Tenho ouvido isso, receberam o batismo (Batismo sacramento) em nome do Senhor Jesus; e QUANDO PAULO LHES IMPÔS AS MÃOS, o Espírito Santo veio sobre eles.... Esses homens eram ao todo uns doze" At 19,1-7).

O autor da Epístola aos Hebreus supõe que o rito da Confirmação era conhecido e usado como rito complementar do Batismo: "... elevemo-nos a uma perfeição adulta: ...a doutrina dos batismos (não somente o sacramento da regeneração cristã - cf. At. 1,5; Rom 6,4), mas todas as abluções e ritos de purificação, então em uso e a imposição das mãos... De fato, os que foram uma vez iluminados - que saboreava o Dom celeste, receberam o Espírito Santo" (cf. Hb 6,1-6).

É certo, porém, que os Apóstolos não administravam a Confirmação por conta própria, mas por ordem de Cristo. Os textos  bíblicos acima citados referem o fato da Confirmação distinta do Batismo. Que Jesus quis o sacramento da Confirmação demonstra-se também pela certeza e pelo costume de sua administração através dos Apóstolos.

 

A CONFIRMAÇÃO NA TRADIÇÃO DA IGREJA - NA VOZ DOS SS. PADRES.

Do primeiro ao segundo século , apenas se acena o Sacramento da Confirmação, visto como ela era conferida juntamente com o Batismo; daí o não se fazer especial menção sobre este segundo Sacramento.

SÃO CLEMENTE fala de plena infusão do Espírito santo sobre os Coríntios.

SANTO IRINEU escreve que o Espírito Santo é dado pela imposição das mãos: "Aqueles aos quais eles (os Apóstolos) impunham as mãos, recebiam o Espírito Santo que é o pão da vida" (Adv. Haerees 4,38,2).

No terceiro e no quarto século, claramente, quando se apresenta alguma ocasião, se alude à imposição da mão, ou à unção com que se confere o Espírito Santo.

TERTULIANO testemunha a sacramental imposição das mãos, que era de uso geral na Igreja: "Saindo da fonte batismal, éramos ungidos com a sagrada unção, segundo o antigo costume... Segue-se, depois a imposição das mãos, mediante a qual, com uma palavra de bênção, o Espírito Santo é chamado o invocado sobre nós" (Se Bapt. 7ss.; cf. De resur. Carn. R; de praescript 36).

SÃO CIPRIANO, ALUDINDO O TEXTO DOS At 8,17, escreve: "Isto se faz ainda hoje entre nós: os batizados são apresentados ao chefe da Igreja, para que com nossa oração e imposição das mãos, recebam o Espírito Santo e, com o sinal do Senhor, obtenham-lhe a plenitude" (Ep. 73,9).

ORÍGENES expressa o mesmo pensamento (In. Lev. Hom. 8,11)

SÃO CIRILO DE JERUSALÉM escreve: "Do mesmo modo (como Cristo no Jordão) também vós, saindo da água do santo lavacro, recebestes a unção que é a imagem daquela com que Cristo foi ungido, isto é, do Espírito Santo" (Cateches mist 3,1).

SANTO AGOSTINHO escreve: "A unção espiritual é o mesmo Espírito Santo, cujo sacramento está na unção visível (In Joan. Tr 3 n.5)

Dos Escolásticos cito apenas o Doutor angéligo: SANTO TOMÁS DE AQUINO que diz: "Cristo instituiu este sacramento não apresentando-o, de fato, mas prometendo-o, segundo o que se diz em João 16,7: "Se eu não for, o Paráclito não virá a vós, mas se eu for, eu vo-lo mandarei. Neste sacramento é, de fato, conferida a plenitude do Espírito Santo, plenitude que não devia ser dada antes da Ressurreição e da Ascensão de Cristo, segundo João 7,9: "O Espírito Santo não tinha ainda vindo, porque Jesus não tinha ainda sido glorificado" (S. Thom III. 72,1).

A CONFIRMAÇÃO NOS CONCÍLIOS ECUMÊNICOS FLORENTINO E TRIDENTINO

1 - O Concílio de Florença diz: "O segundo SACRAMENTO é a  CONFIRMAÇÃO, cuja matéria é o crisma feito de óleo, que significa a pureza de consciência, e do bálsamo que significa o perfume da boa fama, benzido pelo Bispo" (Denzinger - Bannwart, Enchiridion Symbolorum, 697).

2 - O Concílio de Trento em definição dogmática, como verdade de fé, proclama  solenemente que a Confirmação ou Crisma é verdadeiro Sacramento da Nova aliança instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo (Sessão VII, Cânone, I, da Confirmação).

RP. O fruto da Redenção é a libertação do homem desta situação dramática e a sua habilitação para um comportamento honesto, digno de filho da luz - João Paulo II (27.7.83). deus criou o homem e este, como toda a criatura, encontra-se amparado pela Providência de Deus, porque o Senhor não abandona nenhuma das obras feitas por suas mãos criadoras - João Paulo II (27.7.83). O Apóstolo chama à lei de Deus "lei da minha razão. A lei moral é, ao mesmo tempo, lei de Deus e lei dos homens. A redenção, mistério que durante este Ano Santo queremos meditar e viver de modo extraordinário, colocou o homem num novo estado de vida, transformou-o interiormente - João Paulo II (27.7.83).

 

SACRAMENTO DA CONFIRMAÇÃO OU CRISMA

II

ANO 83 Nº 1251

O ESPÍRITO É O "DOM DE DEUS"

O Sacramento da Crisma é um Pentecostes para quem recebe dignamente, Aqueles dons extraordinários recebidos pelos Apóstolos na manhã de Pentecostes, tão necessários para a Igreja nascente, já se não fazem necessários o Dom das línguas recebido pelos primeiros evangelizadores, que foram os apóstolos escolhido por Cristo, oferecia aos homens extraordinária motivação naquele Pentecostes em que nascia a Igreja.

Por estes dons extraordinários de então, nem lhes tiravam a vida peçonhas e venenos fatais. Escreveu Paulo VI: "O Pentecostes cristão marca uma das datas decisivas para a história da humanidade. Trata-se do nascimento da Igreja" (Ensinamentos de Pauli VI, vol 9, 0.5.1978, pg 46).

A alma é que vivifica o corpo; sem ela os olhos não vêem, os ouvidos não ouvem, o coração não pulsa nem se comove. Pois o Espírito Divino e a Alma de nossa alma. Ele é a Alma da Igreja, que a preserva do erro, que a sustenta nos vendavais das heresias, das perseguições nos embates de todo o mal Professamos no Símbolo Niceo-Constantinopolitano: "Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida e procede do pai e do Filho; e com o Pai e o Filho é adorado e conglo ritificado: Ele que falou pelos profetas"..

Diz Santo Agostinho: "O que é a alma para o corpo do homem, isso é o Espírito santo para o corpo (místico) da Igreja" (Cf. August. De Trinitate, V, 15; PL. 38.921).

E comenta Paulo VI este texto agostiniano: Trata-se da infusão do Espírito de Deus, da animação sobrenatural da humanidade que a Igreja realiza, da presença da ação so Paráclito prometido, da terceira pessoa da santíssima Trindade - Deus único, como é sabido, mas em três Pessoas distintas Pai, Filho e Espírito Santo" (Ibidem).

O Espírito Santo é o Amor de Deus que vem ao homem no Batismo, e este o torna morada da santíssima Trindade; na Crisma ele O recebe, como num Pentecostes particular, com mais abundância de dons. "O Batismo dá o Espírito Santo como força santificante, poder interior, que anima o cristão com o Espírito de Cristo e o fará viver como Ele. A Confirmação ou Crisma, é o novo Pentecostes de todo o cristão, que o Espírito lhe dá para fazer dele um adulto; ele já não viverá só para si mesmo, como a criança, mas terá dentro da Igreja a missão comum a todos os cristãos de trabalhar pelo Reino de Deus" (P. Benôit, Passion et Resurection du Seigneur, Cerf 1966, pg 368).

A Idade adulta que a Crisma opera no batizado tem, pois, um sentido moral e espiritual. Pelo vigor sobrenatural que, por este Sacramento tão importante, o Espírito Divino concede ao que já regenerara o espírito nas águas batismais.

O Concílio Vaticano II na Constituição dogmática sobre a Igreja, falando da vida salvífica e apostólica dos Leigos cristãos, assim se expressa: "O apostolado dos Leigos é participação na própria missão salvifíca da Igreja. A este apostolado todos são destinados pelo próprio Senhor através do Batismo e da Confirmação" (Lumen Gentium, n. 33).

A Igreja sente como os Leigos cristãos de nossos dias, tão estimulados pelos 16 Documentos do Concílio Vaticano II colaboram com ardor em vários campos de apostolado. Reconhece-o solenemente o Vaticano II no Decreto sobre o Apostolado dos Leigos. Assim: "Os Leigos, por sua vez, participantes do múnus sacerdotal, profético e régio de Cristo, compartilham a missão de todo o povo de Deus na Igreja e no mundo. Realizam verdadeiro apostolado quando se dedicam a evangelizar e santificar os homens e animar e aperfeiçoar a ordem temporal com o espírito do Evangelho, de maneira a dar com a sua ação neste campo, claro testemunho de Cristo e a ajuda à salvação do mundo.. Os Leigos derivam o dever e o direito do apostolado de sua união com Cristo-Cabeça. Pois, inseridos pelo Batismo no Corpo Místico de Cristo, pela Confirmação robustecidos na força do Espírito Santo,  RECEBEM DO PRÓPRIO SENHOR A DELEGAÇÃO AO APOSTOLADO" (Apostolicam Actuositatem, nn. 2 e 3).

O Espírito Santo, Amor substancial de Deus, oferece dons mais preciosos ao já consagrado à Augusta Trindade no Batismo. Na administração da Crisma o ministro, de mãos estendidas sobre os crismandos, roga assim a Deus Todo Poderoso: "...Enviai-lhes o Espírito Santo Paráclito; daí-lhes, Senhor, o espírito de sabedoria e inteligência, o Espírito de conselho e fortaleza, o espírito de ciência e piedade e enchei-os do espírito do vosso temor". Estes dons do Espírito Santo conta-os até sete de que fala o profeta Isaías (Is 11,2)

E São Paulo escreverá aos Gálatas que "o fruto do Espírito é o amor, alegria, paz, longaminidade, benignidade, bondade, fidelidade mansidão, autodomínio" Gál 5,22-23).

Tudo que temos de bom, que fazemos de bom, é Dom do Amor Divino, pois como escreveu São Paulo: "Ninguém pode dizer: "Jesus é o Senhor" a não ser no Espírito Santo"1cor 12,3). A alegria de rezar, de conhecer a Deus, o gosto e a habilidade de servir, de ensinar, de pregar o Evangelho, de colaborar, de exortar, de liderar, são tudo graças do Espírito Divino (Cf. Rm 12,6-8).

A  aceitação de sofrimentos físicos ou morais, com grandeza de ânimo, o discernimento no julgar e agir, a prudência o cuidado de não desagradar a Deus, o interesse pelas coisas do Alto, a solicitude de conhecer as coisas espirituais, tudo são dons do amor e da Misericórdia Divinos. Até mesmo o pesar e o remorso do pecado cometido é um Dom de Deus, conduzindo à penitência.

O Espírito Santo suavemente sussurra aos ouvidos dalma, bate à porta do coração, anima, conforta, encorajava. Ele respeita, entretanto, nossa liberdade, por isso que, ouvindo-O, temos merecimentos. "Não extingais o Espírito", admoesta São Paulo (1Ts 5,19). O discernimeto do que Ele inspira é um dos seus dons. "O discernimento é o ato central da vida moral. Sua perspectiva, condições e conteúdo são apresentados na Epístola aos Fil 1,9-11: é um ato uno, complexo e comunitário e no encontro com o outro visando à edificação dos irmãos" (Nota marginal da Bíblia de Jerusalém).

Os crismados com maior empenho cultuem o Espírito Santo, adorando-O e seguindo-O, amando-O e invocando-O sempre. Recebendo-O no Sacramento da Confirmação, Ele se compraz em habitar em nós como um seu templo. Havemos, pois, de honrar este Hóspede magnânimo em nossa alma e em nosso corpo. "Não Sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?" (1Cor 3,16). A comunidade cristã, corpo místico de Cristo, - o verdadeiro Templo da Nova Aliança.

Grande honra é ser crismado, mas é também grande responsabilidade. Cumpre ao crismado dar diante do mundo o testemunho da beleza e santidade da Igreja de Cristo. Tem de ser, como diz belamente São Paulo, "o bom odor de Cristo" (2Cor 2,15), trescalando-o em todo o viver, ajudando destarte a cristo a construir o seu Reino de santidade, de Amor e de Paz.

Como afirma o Concílio Vaticano II, os cristãos, inseridos no Batismo "e fortalecidos pela força do Espírito Santo recebem do próprio Senhor a delegação ao apostolado" (Apost. Act., nº 3).

Graciosamente escreveu Paulo VI: "A vida do crisão, que se encontra na "graça de Deus", é como um jardim em flor. Devemos honrar sempre o Espírito Santo, procurando exatamente que sejamos nós mesmos o campo em que Ele floresça" (10.5.1978).

O novo Código Canônico, além do declarado no cânon 879, insiste: "Os leigos, enquanto destinados por Deus, como todos os fiéis para o apostolado por meio do BATISMO e da CONFIRMAÇÃO tem obrigação geral e gozam do direito de trabalhar, quer individualmente quer reunidos em associações, a fim de que o divino anúncio da salvação seja conhecido e aceito por todos os homens e em todo o mundo" (cânon 225§1).

RP. Nosso Senhor Jesus Cristo abriu-nos o caminho para este futuro no céu, porque para remir; ofereceu-se a si mesmo na Cruz, num ato de amor supremo pela humanidade de - João Paulo II. (22.7.83). "O trabalho é a vocação fundamental do homem na terra... O trabalhador é chamado também a unir-se, mediante o seu próprio trabalho, a Cristo Redentor do Mundo, que foi "homem de trabalho" - João Paulo II (Polônia, junho 83).

Com a maior gratidão celebramos a Redenção neste ANO SANTO extraordinário; celebramo-lo de modo especial na Eucaristia, Sacramento de Sacrifício de Cristo - João Paulo II (22.7.83).

A Revelação divina ensina-nos que a morte é castigo pelo pecado, mas também que pode ser a passagem para um futuro totalmente novo, que ficará sempre aberto para o futuro, porque não tem fim - João Paulo II 922.7.83)

 

 


III

SACRAMENTO DA CONFIRMAÇÃO OU CRISMA

CRISMA, NOSSO PENTECOSTES

 

 

OS Sacramentos são os mesmos para toda a Igreja e pertencem ao depósito divino (Cf. c. 841).

Renova o documento episcopal de Puebla o empenho da Igreja de oferecer aos fiéis a teologia dos sacramentos, objetivando, maximemente, superar alguma mentalidade néo-ritualista (cf. n. 916). E ensina: "O Pai, por Cristo e no Espírito, santifica a Igreja e, por ela, o mundo; mundo e Igreja, por sua vez, por Cristo e no Espírito, dão glória ao Pai" (n. 916). Ainda: "Os sete sacramentos da Igreja concretizam e atualizam essa realidade sacramental de comunicação de vida nova para as diversas situações da vida" (n. 922). "Por isso, não basta recebê-los de forma passiva ou rotineira, mas sim inserindo-nos vitalmente na comunhão eclesial. Pelos Sacramentos Cristo continua, mediante a ação da Igreja a encontrar-se com  os homens e salvá-los" (n. 923). Com referência, agora, particularmente ao sacramento da Crisma, o crismando deve ser convenientemente preparado e devidamente disposto para poder renovar as promessas do Batismo. Eis porque, fora do perigo de morte, a idade para receber o Sacramento da Crisma deve ser normalmente de sete anos de idade em diante (cf. cânones 890, 891).

Quem recebeu o Sacramento da Crisma há de viver segundo o Espírito, conformando seus atos e seu agir à vontade de Deus. "O Espírito santo é o Dom por excelência que o Redentor concede a quem d'Ele se aproxima com fé" (João Paulo II, 3.8.83).

O Espírito Santo desce bem no íntimo do crismado. O Dom da Vida de Deus, da vida vivida pela Santíssima trindade, eleva e dignifica, grandemente, a humana criatura. ‘A pessoa humana, em cujas profundezas espirituais o Espírito estabeleceu sua morada, é ILUMINADA em sua inteligência e é MOVIDA em sua vontade, a fim de compreender e cumprir "a vontade de Deus: o que é bom, o que Lhe é agradável e o que é perfeito" (Rm 12,2), explica João Paulo II (3.8. 1983).

O Óleo do Crisma, que o Batismo benze solenemente na "Missa Crismal", na Quinta Feira Santa (óleo de oliveira), aplicado em forma de cruz na fronte do batizado, que já implica também a imposição da mão do ministro na colação do Sacramento, o óleo, por seus efeitos, bem exprime o que o Espírito santo realiza neste Sacramento. O óleo alimenta - o  Espírito Santo alimenta a alma; o óleo, iluminando, também aquece - o Espírito Santo afervora o coração. O Espírito Santo infunde nalma a CARIDADE que é o Amor de Deus. A graça sacramental da Confirmação ou Crisma, nos dá meios de usar retamente daquela Liberdade com que Deus nos libertou.

Ser livre, em verdade, não é fazer o que bem se entende, prejudicando a verdade e o bem; ser livre é realizar, consciente e generosamente, o que se deve fazer e rejeitar o que se deve rejeitar. Disse o papa que nenhuma ação é mais livre do que aquela realizada por amor e, ao mesmo tempo, nada é mais constringente do que o amor". No amor é que se esteiam todas as virtudes cristãs.

No ato de sagrar o óleo do Crisma, o Bispo consagrante lança nele um pouco de perfume, perfume de bálsamo, a lembrar sempre ao crismado que ele há de esforçar-se constante para superar suas más paixões e as desordenadas do mundo, em todo o correr de sua peregrinação na Terra, transmitindo, assim, o perfume e o odor de Jesus Cristo, que outra coisa não é senão a santidade de vida, segundo o Evangelho, segundo o Espírito de Cristo.

Em geral, o crismado recebe um diploma de sua Crisma. Se possível, ponha-o no seu quarto, suspenda-o na parede, à cabeceira do leito, para se recordar sempre da grande graça recebida no sacramento da Crisma. Doutrina o Santo Padre João Paulo II: "É o Dom do Espírito que nos torna livres, com verdadeira liberdade, tornando-se Ele mesmo a nossa lei.... A ação do espírito faz que a lei de Deus e as exigências imutáveis da Verdade de nosso ser criado e salvo penetrem de maneira profunda na nossa subjetividade pessoal, de tal modo que esta, quando se exprime e se realiza no agir não pode deixar de exprimir-se e realizar-se senão na VERDADE. O Espírito é o Espírito da Verdade" (3.8.1983).

O Espírito Santo, dentro de nós dá testemunho de que somos filhos de Deus. Dá-nos a lei da graça e da liberdade. Ele é o principal evangelizador, o que anima todos os evangelizadores, é o doador da vida". O Espírito Santo vivifica os homens "e faz com que o evangelho se encarne na História". Ele é Espírito de amor e liberdade. Ao enviar-nos o Espírito de seu Filho, o Pai "difunde seu amor em nossos corações" (Rom 5,5), convertendo-nos do pecado e concedendo-nos a liberdade de filhos" (Puebla, 204).

O fogo que dá vida à família de Deus é o Espírito Santo. É Ele que suscita a comunhão de fé, de esperança e caridade ou amor, que construi como que sua alma invisível, sua dimensão mais profunda, a raiz de compartilhar cristão em todos os níveis" (Puebla, n. 243). "O cristão vive em comunidade sob a ação do Espírito Santo, princípio invisível de unidade e comunhão" (Puebla, n. 638).

Radicando no amor, o fiel, se purifica e se eleva espiritualmente. O discernimento, o entendimento, a prudência, a ciência, a piedade, a coragem, o temor reverencial de Deus todos estes dons oferece o Espírito Divino a quem a Ela abre os ouvidos e o coração da interioridade..

O espírito santo, como canta a Igreja na festa de Pentecostes, é luz que nos alumia, é-nos consolar perfeito, doce hóspede da alma, dulcíssimo refrigério, Pai dos pobres de coração, nosso descanso na fadiga, conforto no pranto. Consagrados a Ele no sacramento as Crisma, sejamo-lhes mais ternamente devotos louvemo-lo, glorifiquemo-lo, peçamo-lhe nos purifique das manchas morais, regue a aridez de nosso espírito, cure nossas feridas, amolgue-nos a rigidez do orgulho, aqueça-nos da frieza dalma, afaste-nos dos desvios do espírito, e por fim, dê-nos morte santa e alegria eterna.

O CRISMADO, TESTEMUNHA DE REAL VIDA CRISTÃ, PREGOEIRO DA VERDAE DE DEUS

E o cânon 759: "Em virtude do BATISMO e da CONFIRMAÇÃO, os fieis leigos são testemunhas da mensagem evangélica, mediante a palavra e o exemplo de vida cristã; podem também ser chamados a cooperar com o Bispo e os Presbíteros no exercício do ministério da palavra".

A possibilidade da participação dos leigos no ministério oficial da Palavra de Deus é um fato novo na legislação da Igreja. A este respeito reza o cânon 766: "Para pregar em Igreja ou oratório (cf. no cânon 1223 o que a HOMILIA, no sentido estrito, durante a celebração da Missa, continua reservada ao sacerdote e ao Diácono, segundo dispõe o cânon 767§1.

O crismando, exceto em perigo de morte ou enfermo de mente, para licitamente receber este sacramento, caso tenha uso de razão, seja convenientemente preparado e esteja bem disposto (cf. cânon 889§2).

O documento episcopal de Puebla frisa: "Como tempo forte para o amadurecimento na fé - que leva necessariamente a um compromisso - deve-se destacar a celebração consciente e ativa do sacramento da confirmação, precedida de esmerada catequese e sempre de acordo com as diretrizes da santa Sé e das Conferências Episcopais" (. 1202).

 

Rp. A soberania do estado está profundamente ligada à sua capacidade de promover a liberdade da Nação, isto é, de proporcionar condições que lhe permitam exprimir toda a sua peculiar identidade histórica e cultural, ou seja, ser soberana mediante o estado - João Paulo II (Polônia, 19.6.83).

"A Nação perece se é deformado o seu espírito; a Nação cresce de quando este seu espírito se purifica cada vez mais, e nenhuma força externa é capaz de o destruir' - João Paulo II (Polônia, 19.6.83).

O Estado é solidamente soberano quando governa a sociedade e também SERVE o bem comum da sociedade e consente que a Nação se realize na sua própria identidade" - João Paulo II (19.6.83 - Polônia)

"As dolorosas experiências da história estimularam a nossa sensibilidade no campo dos direitos fundamentais do homem e da Nação: de modo particular, do direito à liberdade, ao ser soberano, ao direito da liberdade de consciência e de religião, dos direitos do trabalho humano" - João Paulo II (polônia, 19.6.83).

 


SACRAMENTO DA CONFIRMAÇÃO OU CRISMA

IV

ANO 83 Nº 1253

PADRINHO DE CRISMA

 

Etimologicamente, o termo padrinho - madrinha vem do latim: patrinus - matrina, diminutivo de pater - mater. O Pai e a mãe, puseram as naturais condições da vida; pelo poder e sabedoria de Deus, surgiu uma vida nova. Sentem-se felizes e engrandecidos os pais por haverem eles cooperado com Deus na transmissão da vida. Só Deus, em verdade, é autor da vida e só Ele pode tirá-la. Que formosura uma criancinha!

O poeta Virgílio encantava-se com a criancinha a reconhecer a mamãe pelo sorriso com que o carinhava aquela que por meses o trouxera, com sacrifício, no seio (Bucólica IV, 60-61).

Incipe, parve puer, risu cognoscere matrem: Matri longa decem tulernunt fastidia menses.

O Padrinho, a madrinha de Batismo, de Crisma, é como um paisinho, uma mãesinha espiritual. Ele aceitou o convite para este nobre mister. Se pelo sangue os pais se estreitam ternamente com os filhos, pelo batismo, como também pela Crisma, o padrinho é ligado a seu afilhado por vínculo de espiritualidade, contrai com ele parentesco espiritual.

Dos Padrinhos

Eis o estabelecido no novo Código de Direito Canônico (25.1.83): Cânon 892 - enquanto possível, assista ao  confirmado ou crismando um padrinho, a quem cabe cuidar que o confirmando se comporte como verdadeira testemunha de Cristo e cumpra com fidelidade as obrigações inerentes a esse sacramento".

Fazer-se crismar não é realizar um simples rito religioso, ou crismar-se porque outros se crismaram. Não é um simples fato no curso da vida, um acontecimento rotineiro. Fazer-se crismar é uma imensa felicidade Deus embeleza e fortifica um cristão. O caráter ou marca que o sacramento deixa nalma e para sempre indelével, inextinguível, é penhor de glória na eternidade.

Mas fazer-se crismar é também assumir, a honra de colaborar com Deus na santificação dos irmãos: pela prece, pela santidade pessoal e pelo apostolado, de acordo com a capacidade individual.

O PADRINHO de crisma não pode ser um qualquer. Não é ele convidado para um mero compadresco, visando a proteção econômica, material, ou por entrelaçarem-se de grande amizade com  os pais, ou apenas por ganhar mais um afilhado, a ampará-lo temporalmente. Ser padrinho de crisma não deixa de ser uma honra para quem tem fé, pois a esse padrinho, como firma o cânon citado, "cabe cuidar que o confirmando se comporte como verdadeira testemunha de Cristo". Como, pois, ajudar o padrinho a esse seu afilhado, se ele mesmo, embora se diga ou se julgue cristão e, no entanto, não se comporta, como tal, levando antes uma vida em desacordo com a fé verdadeira. Ser verdadeira testemunha de Cristo é viver como Cristo manda, cumprindo conscienciosa e conscientemente a Lei de Cristo.

Como levar um padrinho - pecador ou indiferente na fé - seu afilhado a cumprir "com fidelidade as obrigações inerentes a esse sacramento"? Um padrinho desonesto: nos negócios, ou amasiado, ou infiel no matrimônio, ou unido só por contrato civil, ou embora levando correta vida civil ou humana, é, entretanto, indiferente no respeitante à vida cristã, não participando da Missa em dias de guarda, não entrando ca Casa de Deus senão para algum motivo social, como casamento, exéquias.

Os pais ou responsáveis, em consciência não podem convidar para padrinho aquele que a justa lei eclesiástica considera inidônieo ou incapaz. Também o convidado que se reconhecendo moral ou espiritualmente, deve te a coragem de não aceitar tal convite.

Como conciliar esta solicitude religiosa dos pais ou dos que lhes fazem as vezes a procurar um bem espiritual para os filhos, levando-os a receber o Sacramento da Crisma, e ao mesmo tempo violando uma lei da Igreja com a escolha de um padrinho que a Igreja reprova? O padrinho precisa de aptidão para cumprir este múnus.

Se, à hora da recepção do sacramento, ali se apresenta para padrinho uma pessoa realmente incapaz, o ministro do Sacramento, ignorando-o, supô-lo-á digno, conforme ensina este justo axioma: nemo censetur malus nisi probetur - Não se pode Ter alguém mau, a não ser que se o prove. Prossegue o Direito Eclesiástico no tocante a padrinho:

"Cânon 893§1. Para que alguém desempenhe o encargo de padrinho, é necessário que ele preencha as condições mencionadas no cânon 874".

O cânon ou lei 874, a que  este reporta, diz respeito ao padrinho de Batismo, cujas exigências morais e espirituais são as mesmas que para a Crisma. Aqui o transcrevemos:

- §1. Para que alguém seja admitido para assumir o encargo de padrinho, é necessário que:

1º seja designado pelo próprio batizando, pelo crismando, se este é adulto, por seus pais ou por quem lhes faz as vezes, ou na falta deles, pelo próprio pároco ou ministro, e tenha aptidão e intenção de cumprir esse encargo;

2º tenha completado DEZESSEIS ANOS DE IDADE, a não ser que outra idade tenha sido determinada pelo Bispo diocesano, ou PAREÇA AO PÁROCO OU MINISTRO que se deva admitir uma EXCEÇÃO por justa causa;

3º seja católico, confirmado crismado, já tenha recebido o santíssimo sacramento da Eucaristia e LEVE UMA VIDA DE ACORDO COM A FÉ e o encargo que vai assumir.

4º não tenha sido atingido por nenhuma pena canônica legitimamente irrogada ou declarada;

5º que não seja pai ou mãe do batizando no caso que ora tratamos do CRISMANDO.

§2º O batizado pertencente a uma comunidade eclesial NÃO-CATÓLICA só seja admitido junto Dom padrinho católico, o qual será apenas  testemunha do batismo (as Crisma).

Vai um breve comentário deste cânon:

1º o padrinho deve Ter aptidão e intenção de cumprir seu dever de padrinho:

2º Ter 16 anos. Este é um princípio normal. Mas, nalgum caso particular, havendo JUSTA CAUSA, pode-se permitir que seja de menos idade. Por exemplo: tratando-se de uma pessoa da família muito afeiçoada à que vai receber o sacramento; uma pessoa que foi caridosamente acolhida pela família, e esta deseja que o padrinho ou madrinha abaixo de 16 anos seja de casa;

3º seja católico, confirmado, já tenha comungado, QUE LEVE UMA VIDA DE ACORDO COM A FÉ, isto é, católico realmente praticante, e se sinta comprometido a assumir a responsabilidade de padrinho;

4º que não tenha recebido nenhuma punição por parte da Igreja, aplicada dentro das normas jurídicas: declarada, (juridicamente), em se tratando de pena automática (ipso facto ou ipso iure incursa), ou irrogada, isto é, uma pena eclesiástica legitimamente inflita por grave e público delito;

5º como é comumente sabido, pai ou mãe não pode ser padrinho de seu próprio filho. O pai ou mãe transmitiu a vida física, para a vida espiritual haja outrem quem lhe seja padrinho (patrimus - pequeno pai).

Reza o parágrafo 2º deste cânon 874: "§2. O batizando (o crismando) pertencente a uma comunidade eclesial NÃO CATÓLICA, só seja admitido junto com um padrinho católico, o qual será apenas testemunha do batismo (da crisma)"

É razoável que uma pessoa protestante, bem relacionada com a família ou dela parente deseje estar presente na colação do sacramento, e assim poder ser admitida como TESTEMIUNHA DO ATO.

No Direito Canônico, só se é realmente padrinho de Batismo e de Crisma. Não tem nenhuma relação espiritual com o que é vulgarmente chamado "padrinho de apresentar" que, realmente não é padrinho Nem tão pouco existe o dito "padrinho de consagração".

Na celebração de casamento deve haver pelo menos duas testemunhas. Simplesmente testemunhas que, com este fato, não contraem parentesco espiritual; fica só na lembrança.

Reza o parágrafo 2º do cânon 893: "É conveniente que se assuma como padrinho de crisma o mesmo que assumiu esse encargo. Como é patente não preceitua o novo Código Canônico que o padrinho da crisma seja o mesmo do batismo; diz apenas: "é conveniente".

No Código de 1917, requeria-se para a liceidade que o padrinho da crisma não fosse o mesmo de batismo, a não ser exigido uma causa razoável. Etc. e do mesmo sexo (cf. 796).

Rodapé: é muito louvável e até mesmo necessário o cuidado de lançar as bases de um são ecumenismo entre os irmão cristãos. Deste modo será afastada a tentação de seitas que não conhecem a plenitude católica - João Paulo II. (11.6.83)

A vida de um jovem dirige-se para o seu futuro de homem adulto e está cheia de esperança em que este futuro seja livre de sofrimento e dor, rico de prosperidade e felicidade à medida que a idade do homem avança, cresce nele a consciência da precariedade deste futuro, ao qual a morte porá fim -   João Paulo II (22.7.83).

Os candidatos ao sacerdócio devem ser preparados mediante a ascese necessária à vida espiritual, a disciplina à vida espiritual, a disciplina e a simplicidade de vida, o sentido do trabalho e da pobreza - João Paulo II (11.6.83).

Uma idéia-mestra de pastoral; formar, encorajar, unir, e isto vale para todas as categorias do povo de Deus -  João Paulo II (11.6.83).

 


SACRAMENTO DA CONFIRMAÇÃO OU CRISMA Nº 1254

V

LITURGIA DO SACRAMENTO

 

A colação do Sacramento da Confirmação reveste-se de grande beleza na simplicidade de seu rito. Quanto possível, seja administrado dentro da Missa, antes do ofertório, podendo, entretanto, realizar-se fora da Missa. Normalmente no recinto da casa de Deus

O Bispo, ministro ordinário deste Sacramento, diante dos crismandos e padrinhos (e é de conveniência que estejam presentes os pais) começa a cerimônia com uma apropriada doutrinação, atendendo a circunstância local, á luz da Sagrada bíblia, da Patrologia, da Ascética, da Liturgia, orientando sobre a importância do Sacramento da Confirmação e a responsabilidade de quem o recebe.

Renovação das promessas do Batismo

O Bispo interroga os que vão ser crismados, estando esses de pé:

Renunciais a Satanás e a todas as suas obras e seduções?

Os crismandos respondem juntos:

Renuncio

O Bispo:

Credes em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da Terra?

Os crismandos:

Creio.

O Bispo;

Credes em Jesus Cristo, seu único Filho, Nosso Senhor, que nasceu da Virgem Maria, padeceu e foi sepultado, ressuscitou dos mortos e está sentado à direita do pai?

Os crismandos:

Creio

O Bispo:

Credes no Espírito Santo, Senhor, e Fonte de Vida, que hoje, pelo Sacramento da Confirmação, vos é dado de modo especial, como aos Apóstolos foi dado no dia de Pentecostes?

Os Crismandos:

Creio.

O Bispo:

Credes na Santa Igreja católica, na comunhão dos Santos, na remissão dos pecados, na ressurreição dos mortos e na vida eterna?

Os crismandos:

Creio.

O Bispo confirma esta profissão, proclamando a fé da Igreja.

Esta é a nossa fé, que da Igreja recebemos e sinceramente professamos, razão de nossa alegria em Cristo Nosso Senhor.

Todos confirmam esta verdade divina, com uma simples palavra que exprime aceitação total:

AMÉM.

O Bispo, de pé, com as mãos unidas, diz voltado para o povo:

"Roguemos caros irmãos, a Deus Pai Todo-Poderoso, que   derrame o Espírito santo sobre estes seus filhos adotivos, já renascidos no Batismo para a vida eterna, a fim de confirmá-los pela riqueza de seus dons e configurá-los pela sua umção a Cristo filho de Deus".

Pr alguns instantes todos rezam em silêncio. Poder-se-á, também, invocar em canto a descida do Espírito Paráclito, nosso Advogado e Consolador,

O Bispo faz três imposições: A primeira e a terceira estendidas sobre todos conjuntamente ambas as mãos; a Segunda, que é a essencial, quando composição das mãos estendidas sobre todos, O Bispo reza esta prece: "Deus Todo-Poderoso, pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, pela água e pelo Espírito Santo, fizestes nascer estes vossos servos, libertando-os do pecado, enviai-lhes  Espírito Santo, fizestes nascer estes vossos servos, libertando-os do pecado, enviai-lhes o Espírito Santo Paráclito: dai-lhes, Senhor, o Espírito de sabedoria e inteligência, o espírito de conselho e fortaleza, o espírito de ciência e piedade e enchei-os do espírito do vosso temor. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo". E todos respondem: AMÉM.

Aproxima-se, em seguida, de cada um, e tendo mergulhado o dedo polegar no óleo do crisma, unge com ele o cristão, em forma de cruz, pronunciando estas palavras sacramentais;

"N. RECEBE, POR ESTE SINAL, O DOM DO ESPÍRITO SANTO" - O crismando responde: AMÉM, palavra que exprime sua fé neste sacramento e a alegria de recebê-lo.

Quando possível, será conveniente que a comunidade  entoe sagrados cânticos durante esse ato.

O Bispo pousa-lhe a mão no ombro esquerdo e lhe augura a Paz do senhor: "A PAZ ESTEJA CONTIGO" - E, o crismando, agradecido, lha retribui. E CONTIGO TAMBÉM

Tornado para junto do altar, de pé e virando para o povo, o Bispo reza com todos, em voz alta, o Pai Nosso.

E aí permanecendo, o Bispo estende outra vez as mãos sobre os crismandos, fazendo esta oração.

"Confirmai, ó Deus, o que realizastes em nós e conservai no coração de vossos filhos os dons do Espírito Santo para que não se envergonhem de confessar perante o mundo a Cristo crucificado e cumpram com dedicado amor Seus Mandamentos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo - Respondem todos: AMÉM.

(Pode-se rezar outra oração, que está no Ritual). E conclui: ABENÇOE-VOS DEUS

TODO-PODEROSOS, PAI, FILHO E ESPÍRITO SANTO - Resp. AMÉM.

 

COSAGRAÇÃO CRISTÃ E VIDA APOSTÓLICA

Enriquecidos com mais graças do DOM  do Espírito Santo, e esforçando-se por mais e mais conhecer, amar e servir a Deus e a sua Igreja Santa, os crismados, agradecidos e honrados, hão de empenhar-se em seu peregrinar neste mundo, na missão profética de anunciar a Verdade de Deus, de defendê-la e difundi-la, segundo a capacidade pessoal. Disse o Papa Paulo VI: "Nós somos especialistas em humanidade". O  crismado há de, especialmente, se testemunha da verdade e do bem, já no seu modo de viver. Testemunha de amor a Deus e à Igreja por sua fidelidade a seus Mandamentos. Testemunha de caridade para com os que precisam de conhecer a Deus, através da catequese, do encontro de reflexão e oração. Testemunha de atividade pelas Missões, pela promoção dos necessitados.

O novo Código de Direito canônico, no livro II, I Parte, corresponde, em grande parte, ao nº 14 da Constituição do Vaticano II sobre a Igreja (Lumen Gentium), lembrando que a Igreja é todo o povo de Deus (Papa, Bispos, sacerdotes e todos os leigos) incorporados a Cristo pelo batismo; participantes, a seu modo, do múnus sacerdotal, profético e régio de Cristo, sendo assim chamados a exercer, segundo a própria condição de cada um, a missão que Deus lhes confiou para a Igreja cumprir, no mundo, (cf. cânon 204§1). Eis, assim firmada a igualdade fundamental de todos os fiéis: "Entre todos os fiéis, pela sua regeneração em Cristo, vigora, no que se refere à dignidade e atividade, uma verdadeira igualdade, pela qual todos, segundo a condição e múnus próprios de cada um, cooperam na construção do Corpo Místico de Cristo" (cânon 208). - Fiéis, aqui,, designa, pois, todos os cristãos todos os fiéis (Papa, Bispos, Sacerdotes, demais batizados), de acordo com a condição que lhes é própria, devem empenhar suas forças a fim de levar uma vida santa e de promover o crescimento da Igreja e sua continua santificação" (cânon 210) - todos os fiéis têm o direito e o dever de trabalhar a fim de que o anúncio divino da salvação chegue sempre mais a todos os homens de todos os tempos e de todo o mundo" (cânon 211) - "Os fiéis, conscientes da própria responsabilidade, sejam obrigados, aceitar com obediência cristã o que os sagrados Pastores,  como representantes de Cristo, declaram como mestres da fé ou determinam como guias da Igreja" (cânon 212§1) - "Todos os fiéis, já que participam da missão da Igreja, tem o direito de promover e sustentar a atividade apostólica segundo o próprio estado e condição, também com iniciativas próprias; NENHUMA INICIATIVA, PORÉM, REIVINDIQUE PARA SI O NOME DE CATÓLICA, a não ser com o consentimento da autoridade eclesiástica competente, (cânon 216). Este trecho final, quer significar restritamente o que oficialmente representa a instituição católica, que só se pode reivindicar, em casos particulares, quando consente a legítima autoridade da Igreja.

Cânon 222§.: "Os fiéis tem obrigação de socorrer às necessidades da Igreja, a fim de que ela possa dispor do que é necessário para o culto divino. Para as obras de apostolado e de caridade e para o honesto sustento dos ministros". §2 Têm também os fiéis a obrigação de promover a justiça social e, lembrados do preceito do Senhor, socorrer os pobres com as próprias rendas".

O Código canônico de 1917, no seu cânon 118 dispunha que só os clérigos podiam obter poder de jurisdição. Aquele termo "poder de jurisdição", no novo Código chama-se "PODER DE REGIME" (poder de governo), correspondendo ao que o Concílio vaticino II denominou "múnus de reger"

"Entretanto, no cânon 1017 se diz: "Fora da própria jurisdição, o Bispo não pode conferir ordens, a não ser com licença do Bispo diocesano" - Própria jurisdição aqui, patentemente designa um território de governo). O cânon 129, depois de reafirmar que, por instituição divina são capazes do poder de regime, também o denomina de poder de jurisdição, aqueles que foram promovidos à ordem sacra (cf. §1). O novo Código (cân. 129-§2) estabelece esta novidade: "No exercício desse poder de regime ou jurisdição, os fiéis leigos sem distinção, portanto cristãos homens e mulheres em virtude de sua consagração batismal podem participar do poder de regime da Igreja, nos cargos de notário, chanceler, juiz auditor, etc.

Os Batizados e, mais ainda os Crismados meditem sempre e sempre nesta sua dignidade de consagrados nos seus direitos e deveres.

Rodapé; Só à luz da palavra de Deus nós, criaturas inseridas na grande cena da história da humanidade, podemos dar uma resposta - embora por ora não completamente - o significado e o valor deste nosso presente e também do vosso futuro..." - João Paulo II (30.6.83). "é preciso que as pessoas mudem - este é o objeto direto da evangelização - a saber, que elas aprofundem, descubram de novo e sobretudo vivam a Igreja, o seu vínculo pessoal com Jesus Cristo salvador, e tudo o que isto implica de fé, de oração e de caridade" - João Paulo II (11.6.83).

"O nosso itinerário terreno é, na perspectiva cristã, um habitar no corpo" e estar "em exílio longe do Senhor"; um "caminhar na fé..." - João Paulo II (30.6.83)

 

"Jesus morre e ressuscita. Da Sua Morte e da Sua Ressurreição provém aquela "exímia santidade e inexaurível fecundidade em todos os bens" da Igreja, seu corpo Místico" - João Paulo II (30.6.83)

 

SACRAMENTO DA CONFIRMAÇÃO OU CRISMA Nº 1259

VI

Guardamos com satisfação a data de nosso aniversário natalício. Dia propício para agradecer a Deus a escolha que Ele fez de nós para a existência. Generosa esta vocação divina para a vida que não terá fim. Muito mais se há de beneficiar nossa alma, se recordamos com carinho os dias aniversários de nosso batismo, de nossa Crisma. Essas datas levem-nos a reiterar à Trindade Santíssima a nossa gratidão em termo, pela recepção desses dois Sacramentos. O Batismo faz de cada um de nós um "ALTER CHRISTUS", - um outro Cristo, donde o nome CRISTÃO.

A CRISMA é o sacramento da plenitude de Cristo em nós. A Confirmação ou Crisma é um grande um importante Sacramento em que o batizado recebe o espírito Santo para ser confirmado na Fé, e o fortalece para dar firme testemunho desta Fé diante dos irmãos e diante do mundo. A Confirmação completa, complementa e coroa a graça do Batismo. é novo e especial reforço emanado da misericórdia divina. A Crisma suscita novos testemunhos de Cristo: na vida, na doutrina, na ação. Confirma-nos na fé dispõe-nos a conhecer um pouco mais os mistérios da fé. Consagra-nos Cavaleiros de Cristo!

Cristo Jesus, de contínuo, derrama em sua Igreja o Espírito Santo através do Sacramento da Crisma que é sempre conferido. OH! Quanto necessitamos do Espírito de Deus! O Apóstolo Paulo escreveu aos Romanos: "Vós não estais na carne, mas no espírito, se é verdade que o Espírito de deus habita em vós, pois quem não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Ele... E se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vós,... através do seu Espírito habita em vós" (Rom. 8,9.11) - "Aquele que nos fortalece convosco em Cristo e nos dá a unção, é Deus, o qual nos marcou com o seu selo e colocou em nós as arras do Espírito Santo" (2Cor 1,21-22). Arras significa penhor, garantia. Este selo e esta unção designam ou o Dom do Espírito concedido a todos os fiéis ou a consagração ao ministério apostólico).

Diz Santo Ambrózio: Marcados na fronte cm a unção do Crisma, na realidade recebemos a marca em nosso coração (Ambrósio de Spir. Sancto, 1,6,79).

O mesmo pensamento vemo-lo em São Cirilo de Jerusalém que diz que pela unção, é a alma que é santificada pelo Santo e vificador Espírito (Cat.21,3).

Igualmente, Tertuliano; Unge-se o corpo para que se consagre a alma; marca-se o corpo para preservar a alma; o corpo recebe a imposição das mãos para que se ilumine a alma (Tetul. De Carn. Resur. 8).

Gibbons: O Bispo faz a unção exterior, mas é deus quem "opera tudo em todos" e santifica a alma por suas secretas operações (Apud DOCETE, tomo 4º - Confirmação, pp. 326-428).

A CRISMA FAZ O CRISTÃO ESPIRITUALMENTE ADULTO

O desenvolvimento e vigor físico do ser humano o faz adulto, apto para serviço. Analogamente, quem recebe o Sacramento da Crisma, adquire a perfeição e vigor da alma. Torna-se o crismando um espiritualmente adulto enquanto este sacramento robustece e arma o cristão com armas da graça, mais acrescida graça para o combate espiritual à conquista do reino de Deus. Escreveu S. Roberto Belarmino: Pelo primeiro sinal (o do batismo) só se conhece que o homem é cristão. Porém, pelo segundo sinal (o da Crisma) se conhece que ele é soldado de Cristo e traz na alma a insígnia de seu Capitão (Bellarm. Doctr Christ de Confirmatione).

Em virtude dessa consagração ao Divino Capitão, Nosso Senhor Jesus Cristo, tornados os Cristãos moralmente adultos cumpre-lhes por tamanha graça consagrar a Deus e à Igreja suas energias para aumento de sua fé, e nos irmãos mediante vivo apostolado. Todo este interesse e solicitude que estamos a deparar em excelentes leigos cristão, engajados em autêntico e profícuo apostolado, como por exemplo, nos  Movimentos de Cursilhistas (homens e mulheres), de Movimento Familiar Cristão. De Jonas (moços e moças) - Emaús, Shalom, treinamento de Líderes Cristãos, tudo isto manifesta claramente o "Dedo de Deus", a ação do Espírito Santo, pela vivência do Sacramento da Crisma.

Santa como instituição de Deus e Sacramento de Salvação, santa em tantos de seus membros, a Igreja é também pecadora, como demonstram fatos, por parte de consagrados a ela, eivados porém de egoísmo , de pecadores graves, de tanta sorte de crimes. "O bem e o mal estarão no coração de cada cristão. Mas a força divina do Espírito de Cristo há de fazer da Igreja um sinal da aventura divina.... mas sempre de novo a ação do Espírito Santo, renova a Igreja, suscitando forças carismáticas do bem que apresentam convincentemente a realidade mais íntima da Igreja: ser santa  e ser misericordiosa..." (Dom Valfredo Tape - "ESTAMOS SALVOS", p. 156s).

A graça da Confirmação atua constante na alma de quem recebeu este sacramento, ficando-lhe o dever de cooperar com ela.

Assim recordava Santa Teresinha do menino Jesus sua própria crisma: Com muito esmero me havia preparado para a vinda do espírito Santo e não podia compreender que não se atribuísse grande importância à recepção deste Sacramento de amor... Oh! Que alegre estava a minha alma! Como os Apóstolos eu também aguardava o prometido Consolador. Nesse dia eu recebi a fortaleza para sofrer.

Quanto pela força do Espírito santo  não Realizou esta Carmelita Descalça na obscuridade do Carmelo de Lisieux, em pró da Igreja, especialmente das Missões!

Ao missionários do Japão, no século XVII, asseguravam que em nenhuma parte tinham visto os cristãos receber com tanta piedade o sacramento da Crisma como naquele país; não será esta a razão de que o Japão dera à Igreja, naquele século, dois milhões de mártires? (Pe. Plus S.R.)

O Santo Padre João Paulo II tem ministrado várias vezes este sacramento, e em todas essas ocasiões ele doutrina a respeito. Assim, na tarde de 3 de setembro último, o papa foi visitar o Hospital "Villa Albani" em Anzio, perto de Roma, onde crismou alguns jovens: Disse: "Vim aqui, também para conferir o sacramento da Confirmação a alguns Irmãos, rodeados pelo nosso comum afeto e pela nossa solidariedade a comunhão cristã. Receberão este Sacramento que  representa uma etapa de particular importância na "iniciação cristã" durante o Ano Jubilar da Redenção, que nos recorda o sacrifício de Cristo pela nossa salvação. Mediante este sacramento serão vinculados mais perfeitamente à Igreja, na qual já tinham sido incorporados pelo batismo; serão enriquecidos com uma especial força do Espírito Santo, e de tal modo serão mais seriamente comprometidos a difundir e a defender a fé, como testemunhas verdadeiras de Cristo. Devemos sentir, nesta significativa circunstância, a alegria e o orgulho pelo crescimento contínuo da Igreja, que vê hoje, nestes novos Crismandos, aqueles que, fortalecidos pela virtude do Espírito Santo, serão exemplo para os outros, com a sua bondade, com a sua simplicidade, mas sobretudo com o seu sofrimento, que os associa de modo especial a Cisto Crucificado (L'Osservatore Romano, 11.9.1983, pg 5, Col.4).

Levem-nos a todos nós estas considerações do Sacramento da Crisma por nós já recebido para aproveitarmos e vivermos a graça do Espírito Santo.

Rodapé: "Converter-se significa encontrar este amor e acolhê-lo no próprio coração; significa construir sobre este amor o comportamento do futuro" - João Paulo II (11.9.1983)

"Reconhecer os próprios pecados significa testemunhar a verdade que Deus é o pai que perdoa. O amor é mais forte que todas as culpas" - João Paulo II (11.9 1983).

Conversão é reconciliar-se. A reconciliação é, porém, possível só quando são reconhecidos os próprios pecados - João Paulo II (11.9. 1983)

Que a graça da Redenção encontre um grande acolhimento por parte das Religiosas... e se torne neles uma fonte de alegria pascal - João Paulo II (25.6.82).

 


A CRISMA E OS DONS DO ESPÍRITO SANTO Nº 1260

VII

 

Aprendemos, quando crianças de catecismo, os sete dons do Espírito Santo. Aprendemo-los de cor e os temos em ordem fixos na memória. É realmente vantajoso memorizar certas expressões ou noções de fé, ainda que a idade infantil não as compreenda de todo. Mas o memorizado ajudará alguém em idade amadurecida a estudar-lhe o total sentido.

O antigo Missal Romano exarado em formosa e concisa língua latina, oferecia na Festa de Pentecostes um belíssimo canto dito Sequentia, pleno de doutrinação teológica de esperança e de paz, de consolo e de animação. Na penúltima estrofe esta súplica: "Da tuis fidelibus, in te confidentibus, sacrum septenarum - Ó Espírito Divino, aos que confiam em Vós, concedei os vossos sete dons". Sete dons, a simbolizar que por sete degraus chegamos à porta, isto é, por sete diferentes graças do Espírito Santo se nos abre a entrada da glória celestial. O 1º degrau desta divina escada é da Sabedoria; o 2º do Entendimento, o 3º do Conselho; o 4º o da Fortaleza; o  5º, da Ciência; o 6º, da Piedade e o 7º, o de Temor de Deus. (É nesta ordem que o Bispo impondo as mãos sobre os crismados em conjunto, pede ao espírito Santo que a eles envie estes sete dons).

O número SETE tem por vezes sentido alegórico ou simbólico, como o candelabro de sete braços do templo (Êxodo 25, 31s.; Joel 2,28), os sete degraus do novo templo (Ezequiel 40, 6); as sete colunas da casa da sabedoria (Provérbios 9,1; e candelabro (Zacarias 4,1s); os sete dons ou virtudes eminentes que o espírito profético confere ao messias dos grandes antepassados como Abraão, Moisés.

O profeta Isaías nascido por volta de 765 anos, antes de Cristo, anuncia que iria surgir da sua Casa ou do sangue de Davi o Messias: "Um ramo sairá do tronco de Jessé, um rebento brotará de suas raízes. Sobre ele repousará o espírito de Iahwer, espírito de sabedoria e de entendimento; espírito de conselho e de fortaleza, espírito de ciência e de temor de Iahweh (o "espírito de Iahwer ou seu "santo espírito). Aqui estão enumerados seis dons. A tradução do texto hebreu original, chamada "Versão dos Setenta", (dos SETENTA - número arredondado dos seus 72 tradutores que a fizeram, foi começada no ano 280 antes de Cristo depois, a tradução da Vulgata (para o latim vulgar). Acrescentaram essas duas versões o Dom da "piedade", por desdobramento do "temor de Iahwer", e tornou-se assim nossa lista dos "sete dons do Espírito Santo".

(Os alunos do seminário Maior aprendem Ter havido também a tradução bíblica do texto hebraico, dita masorética. Masora, palavra hebréia derivada da raiz "masor", significa entregar": é a doutrina que, recebida dos maiores, se transmite a seus sucessores. Masoretas são, pois, os que fizeram a versão do sagrado texto com critério e desejo de fixá-lo (Tal versão, de muita autoridade, não traz o Dom da "piedade").

Este texto de Isaías refere-se claramente e só ao MESSIAS. Mas os Santos Padres e a mesma Igreja entendem-no aos fiéis de Cristo em virtude do princípio universal da economia da graça. Com efeitos, São Paulo fala dos que Deus predestinou a serem conformes à imagem de seu Filho (Romanos 8,29). Imagem de Deus na primeira criação; cristo por uma nova criação, veio restituir à humanidade decaída o esplendor desta imagem divina que o pecado havia embaciado. Imprimindo-lhe a imagem mais bela de filho de Deus, Cristo restabelece o "homem novo" na retidão e discernimento moral; restitui-lhe o direito à glória.

Donde se infere que tudo quanto há de perfeição em Cristo, nossa cabeça, que é comunicável, encontra-se também em seus membros unidos a Ele pela graça. E é evidente que os dons do Espírito santo pertencem às perfeições sobrenaturais comunicáveis, visto sermos delas tão precisados.

Em que consistem os DONS DO ESPÍRITO SANTO? Explica-os assim Tanquerey: "São hábitos sobrenaturais que oferecem a nossa potências uma facilidade tal que elas obedecem prontamente às inspirações de graça".

O justo vive da vida da graça divina e é dotado de hábitos virtuosos; ele tem absoluta necessidade destes sete dons, especialmente chamados Dons do Espírito Santo.

MEDITEMOS ESTES SETE DONS DO ESPÍRITO SANTO

1 - Dom da sabedoria - Ele nos ajuda a discernir e julgar seguramente as coisas de Deus e coisas divinas por elevados princípios. Quantas pessoas incultas, mas sempre unidas a Deus e às virtudes que, dotadas de criterioso julgamento, expõem com sabedoria coisas espirituais! E estimam e vivem vastamente belezas espirituais Dom da sabedoria é, sem dúvida, o Dom de expor as mais altas virtudes cristãs, as que dizem respeito às coisas de Deus e a vida divina em nós: "o ensinamento perfeito" (cf. Hebreus 6.1; 1Cor 2,6-16)

2 - Dom da INTELIGÊNCIA OU CIÊNCIA - Etimologicamente a palavra inteligência origina-se de depois termos latinos: intus + legere, que significa captar bem fundo, ler no íntimo dalma alguma idéia. O Dom de Inteligência ou de entendimento dá uma penetrante intuição das verdades reveladas, sem chegar porém à profundeza do mistério. O Dom da ciência é dom  de expor as verdadeiras es do Cristianismo: "o ensinamento elementar sobre Jesus Cristo"  (cf. Hbr. 6,1).

3 - Dom do CONSELHO - Ele leva a quem está atento à graça a guiar-se com bom senso, mesmo em situações difíceis e inesperados da vida. Enrique a virtude da prudência.

4 - Dom da FORTALEZA - Robustece o cristão nas dores dalma e corporais; fá-lo manter-se submisso à vontade amorável de Deus, firme em perigos e em dolorosas e prolongadas enfermidades, nos trabalhos da vida, resoluto e decidido na aceitação dos desígnios défices de Deus, que daí quer tirar algum bem espiritual. Quando nada nos incomoda ou molesta, á-nos fácil aconselhar a outros paciência, resignação, conformidade com os insondáveis planos de Deus, mas quando temos de pessoalmente desafiá-los, então nos toca pedir ao Deus-Amor que nos fortaleça.

O Santo Padre João Paulo II é carinhoso visitador de Enfermos e Idosos. Leva-lhes sempre encorajamento e animação. Em sua peregrinação apostólica à Áustria, não deixou de visitá-los no dia 11 de setembro transato, na "Casa da Misericórdia" de Viena. Entre outras, dirigiu-lhes estas palavras: "caros Doentes! Caros Irmãos e Irmãs necessitados de assistência aqui na "Casa da Misericórdia" e noutros lugares nos hospitais, nas casas de saúde e em cada um dos lares na Áustria! (...) Talvez em certas ocasiões tenhais medo de ser um peso para nós. Talvez isto vos tenha sido dito ou vos tenha sido feito sentir. Neste caso desejaria pedir-vos perdão. Sem dúvida, VÓS TENDES NECESSIDADE DE NÓS, da nossa ajuda e da nossa assistência. MAS DO MESMO MODO TEMOS NECESSIDADE DE VÓS. Deveis também vós dais muito a nós. A vossa condição de doentes tornou-nos conscientes do fato que não se consegue fazer tudo aquilo que se iniciou (...) No centro da vossa vida atual está a Cruz. Muitos a evitam. Mas quem quer evitar a Cruz, não encontra a verdadeira alegria. Os jovens não podem tornar-se fortes e os adultos não podem permanecer fiéis, se não aprenderem a aceitar uma cruz. A vós, meus caros doentes, ela foi imposta. Ninguém vos perguntou se a queríeis. Ensinai-nos a nós, sãos, a aceitaá-la a tempo e a suportá-la com coragem, cada um a seu modo. Ela é sempre uma parte da Cruz de Cristo. Como Simão de Cirene, podemos carregá-la juntamente com Ele durante um breve percurso (...) Vós sois parte de nós! Uma sociedade que se afasta dos anciãos não só negaria a sua própria existência, mas se alienaria do próprio futuro (...) Naturalmente, também os sãos devem rezar. MAS A VOSSA PRECE TEM UM VALOR PARTICULAR (...) Um sofrimento suportado com paciência torna-se de algum modo ele mesmo uma oração, fonte rica de graças. (...) doentes e idosos, deficientes e necessitados de assistência mostram-nos de modo particular quanto temos necessidade uns dos outros. Eles suscitam até ao fim a nossa solidariedade e o nosso amor para com o próximo..." (L'Os servatore Romano, ed. Portug de 18.9.1983, pág 8).

5 - Dom da CIÊNCIA - Este Dom nos faz sentir que os planos divinos conduzem tudo para o bem, pois Deus é Amor. Faz-nos ver nas coisas criadas o reflexo da beleza e da bondade de Deus. Move-nos a amar o que Ele ordena, a esperar o que Ele promete "para que, na instabilidade deste mundo, fixemos os nossos corações onde se encontram as verdadeiras alegrias"  (in XXI Domingo do tempo comum).

6 - Dom da PIEDADE - É o Dom de amor filial, de abandono nas mãos misericordiosas de Deus, de confiança, de retidão, daquela simplicidade, humildade de criança. "se não fizerdes como criança - diz Jesus aos que querem segui-Lo - não entrareis nos Reinos dos Céus" (Mateus 18,3). Dom a fervorador do viver religiosos!

7 - Dom do TEMOR DE DEUS - Este é temor de castigo, mas pena de desagradar a Deus. Até mesmo o remorso de faltas, sobretudo graves, é como suave sacudidela do Espírito Divino à alma. Para reerguer-se e emendar-se. Assinala São Paulo: "E nós sabemos que Deus espera para o bem daqueles que O amam, daqueles que são chamados segundo o seu desígnio" (Romanos 8,28).

Os  dons do Espírito Santo ajudam a prática e o aperfeiçoamento das virtudes. Levam a maravilhas de santidade. O Espírito Divino não força, e sim respeita a liberdade do homem, para que as virtudes que ele praticar sejam plenas de graças e méritos Ele é doce hóspede de nossa alma "dulcis hospes animãe" Misericordioso, o Espírito Divino apraz-Se em fazer de nosso corpo e nossa alma a Sua mansão. Ouçamos São Paulo: "Não sabeis que sois um templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós... Pois o templo de Deus é santo e esse templo sois vós" (Rom 3,16-17). "E não entristeçais o Espírito santo de Deus, pelo qual fostes selado para o dia da redenção" (Ef 4,30). "O Espírito socorre a nossa fraqueza. Pois não sabemos o que pedir como convém; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inenarráveis, e aquele  que perscruta os corações sabe qual o desejo do Espírito; pois é segundo Deus que Ele intercede pelos santos" (Rom 8,26-27) - Este termo "santos" significa os "fiéis", os que foram santificados pelo Batismo.

O Espírito Santo é o princípio de toda a atividade  espiritual no homem. Ele move docemente a alma a agir segundo a vontade divina através de seus dons e de amor. O Espírito Santo não Se nos faz sensível, como outrora, em forma de pomba ou de língua de fogo, mas sussurra mansamente aos ouvidos do espírito e ajuda a alcançar-se à subida da santidade. Poética e sugestiva esta comparação do teólogo francês Tanquerey: "o músico que toca as cordas da harpa para delas tirar harmoniosos sons, é imagem do cristão que pratica o espírito Santo Se achega a nós, e com seus toques divinos faz vibrar as cordas de nossa alma, nela estão operando seus dons".

Rodapé; cada um de vós é chamado a levar o seu contributo pessoal ao lugar onde se encontra e segundo as suas possibilidades"  - João Paulo II

Compreende-se que nas nossas ações é a pessoa que se exprime, se realiza e, por assim dizer, se plasma - João Paulo II (20.783)

"Na Cruz está o amor do pai, do filho e do Espírito Santo que uma vez por todas desceu sobre a humanidade, um amor que não exaure nunca" - João Paulo II (11.9.1983).

nós, cristãos temos o dever, que nos vem da profundidade da nossa fé e do solidário empenho pelo bem dos homens e da sociedade de testemunhar de modo eficaz que só na Cruz está a verdadeira esperança - João Paulo II