Temos de pôr os pés no chão! É realmente alvissareiro o diálogo encetado entre o papa Francisco e o patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I. Sem embargo, conscientizemo-nos de que o exercício do primado (bispo de Roma= chefe ou primus inter pares) não é a única controvérsia entre católicos e ortodoxos. Há outros pontos seriíssimos, divergências teológicas, litúrgicas e disciplinares, sintetizadas nos 10 itens abaixo:

  1. No que tange ao mistério da Santíssima Trindade, a Igreja Ortodoxa afirma que o Espírito Santo procede só do Pai; enquanto a Igreja católica ensina que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho (Filioque).
  2. A Igreja Ortodoxa não admite o dogma da imaculada conceição de Maria; erroneamente, sustenta que nossa Senhora nasceu com o pecado original e apenas ficou isenta dele no momento da anunciação.
  3. As denominações componentes da chamada Igreja Ortodoxa rejeitam o dogma do purgatório. Equivocadamente creem que os que morrem antes de expiar todas as penas vão para o inferno, donde sairão pela misericórdia divina, insuflada pelo sufrágio (orações, missas, boas obras) dos vivos.
  4. A Igreja Ortodoxa rebatiza mesmo as pessoas que foram batizadas segundo a forma e matéria corretas. Além disso, conferem novamente a crisma aos apóstatas convertidos.
  5. Prega a Igreja Ortodoxa que o sacramento da penitência perdoa não somente a pena eterna, mas também a temporal. Por isso, desprezam totalmente as indulgências.
  6. A Igreja Ortodoxa, de um modo geral, confere a unção dos enfermos (extrema-unção) igualmente  aos fiéis saudáveis, a fim de dispô-las ao sacramento da eucaristia.
  7. Para a Igreja Ortodoxa, o sacramento da ordem não imprime caráter indelével.
  8. Para os ortodoxos, o sacerdote é o ministro do sacramento do matrimônio. Além disso, admitem-se hipóteses de dissolução do vínculo matrimonial.
  9. As comunidades integrantes da Igreja Ortodoxa, em geral, só admitem o batismo por imersão. Não aceitam o batizado por infusão, prática comum na Igreja católica.
  10. A Igreja Ortodoxa crê que a transubstanciação ocorre após a epiclese (invocação do Espírito Santo) e não depois de proferidas as palavras da consagração.  Além disso, costuma dar a comunhão eucarística a crianças de tenra idade.  

Edson Luiz Sampel

Doutor em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense, de Roma.

Professor nomeado da Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo.

 Membro da União dos Juristas Católicos de São Paulo (Ujucasp).