"Por isso, o autêntico fomento do amor conjugal, e a toda vida familiar que dele nasce, sem por de lado os outros fins do matrimônio tendem a que os esposos, com fortaleza de ânimo, estejam dispostos a colaborar com o amor do Criador e Salvador, que por meio deles aumenta cada dia e enriquece a sua família". (Gaudium et Spes, n. 50)

 

Entender os fins do matrimônio é entender também a sexualidade em seu sentido maior. O sexo deve ser visto sem preconceitos, como obra do próprio Criador. Sua razão de existir, portanto, está intimamente ligada às finalidades do matrimônio. Vejamos, então, alguns pontos principais.

O instinto sexual demonstra a sua importância e repercussão no conjunto da personalidade. Além do campo puramente biológico encontramos ressonância nos campos psicológico, filosófico e religioso. Cada qual encarando o problema sexual de sua própria maneira, porém, complementar. O homem representa a síntese destes campos.

Vista por esta abordagem múltipla, o instinto sexual irá adquirir um caráter rigorosamente natural. A tendência a satisfazer o instinto justifica-se na conservação e multiplicação da espécie. Todo instinto tem sua finalidade determinada que pode desdobrar-se em fins parciais. Assim, por exemplo, o instinto alimentar satisfaz em primeiro lugar o gosto do paladar para depois atender a necessidade da fome e, por último, cumprir a função da nutrição, essencial para manter a vida fisiológica e racional. O instinto sexual, como os demais instintos, também apresenta uma série de finalidades parciais, que integradas, constituirão um único fim, quer sobre o ponto de vista natural, quer sobre o ponto de vista divino.

O instinto sexual tende a satisfazer-se de um modo bissexual, isto não quer dizer que a complementação da união seja puramente biológica. No ser humano até a função mais biológica está impregnada de racionalidade, isto porque o homem é uma unidade psicossomática. Deste modo a finalidade física se enriquece e se aprofunda pela finalidade afetiva, é a expressão da integração plena das duas personalidades. Tudo isso exige não um encontro ocasional, mas um processo integrativo ascendente. Este processo é tão exigente que somente através da vida conjugal consegue se efetivar. Relacionamentos puramente sexuais que ignoram este princípio serão sempre distorcidos e cairão inevitavelmente no vazio.

O procedimento biologicamente natural não deixa de ser a aplicação de um traço fundamental do espírito humano: o desenvolvimento do homem requer a superação de si mesmo, dedicando-se a uma obra, a uma criação exterior que venha consagrar sua atividade. Viver encerrado em si mesmo é uma característica de decadência. Desta forma, podemos afirmar em relação ao matrimônio, que a união sexual dos cônjuges vem a ser a integração dos aspectos bio-psicológicos e a obra comum de criação; o filho é consequência natural desta integração. É oportuno lembrar que quando nos referimos à obra da criação, não estamos nos referindo apenas ao ato da fecundação, mas também ao complemento ao longo da vida (processo educativo).

O amor que Deus sopra no coração dos esposos requer, em geral, todos estes pontos mencionados em nossa reflexão. O instinto sexual tem sua importância no equilíbrio psicossomático do casal, a afetividade, a racionalidade, a cooperação mútua e a criação exterior feita através da prole, são pontos que enriquecem a vida daqueles que aceitaram, em nome do Senhor, constituir uma só carne e um só espírito.