Capítulo III: A IGREJA DO SEGUNDO SÉCULO

Após os escritos do Novo Testamento feito pelos apóstolos, houve, ainda no final do século I e no começo do século II a época dos chamados "Padres Apostólicos" Estes  homens, grandes santos da Igreja, receberam este nome porque estiveram em contato direto com os apóstolos.

Dada a sua antigüidade, eles são muito estimados. Seus escritos têm certa semelhança com os do Novo Testamento de tal forma que alguns chegaram a ser considerado "escritos canônicos" como a Didaquê, a carta de São Clemente Romano e os escritos de Pseudo-Barnabé. Eles não escreveram tratados teológicos, mas cartas em línguas grega, que abordam assuntos de disciplina, recomendam a unidade da Igreja e autoridade dos apóstolos. Essa fase dos Padres Apostólicos vai até a metade do Século II.

Vejamos agora os principais autores:

1) São Clemente de Roma: Morreu por volta do Ano 103. Foi o 4º bispo de Roma depois de São Pedro e por isso mesmo o 4º Papa da Igreja. Por volta do ano 96 escreveu uma carta ao Coríntios exortando-os à concórdia  e à submissão aos legítimos pastores da Igreja. O tom caloroso e firme desse escrito já manifesta a consciência que o bispo de Roma tinha sobre a sua autoridade como pastor universal.

2) Santo Inácio de Antioquia: Morreu martirizado em Roma no ano 107. Fora condenado à morte por causa da perseguição aos cristãos movida pelo imperador Trajano (que reinou entre 98 e 117). Depois de preso em Antioquia, na Síria, o bispo Inácio foi conduzido prisioneiro à Roma, onde deveria ser lançado às feras no coliseu. Durante sua viagem para Roma, Inácio escreveu seis cartas para as comunidades se Éfeso, Magnésia, Trales, Filadélfia, Esmirna, Roma e uma ao bispo Policarpo de Esmirna. Nesses escritos percebe-se um grande amor de Inácio a Cristo e à Igreja. O autor professa clara doutrina sobre a encarnação: Jesus é Deus que se fez homem no seio puríssimo da Virgem Maria. Também mostra que já no inicio do século II havia o episcopado monárquico (com dioceses organizadas) onde o bispo aparece como pastor supremo de sua diocese e a Igreja de Roma é chamada "aquela que preside na caridade". No caminho para o Martírio, em cada cidade que o bispo Inácio passava acorriam multidões dos lugares próximos para ter com ele uma última vez. Em Roma foi lançado aos leões na arena do coliseu e suas últimas palavras foram: "deixem que eu seja imolado... o altar está pronto! Sou o trigo de Deus; é preciso que eu seja moído pelos dentes das feras para me tornar o pão alvo de Cristo"!

3) São Policarpo de Esmirna: Foi bispo de Esmirna na Ásia Menor (hoje Turquia) morreu no ano 156. Conheceu o apóstolo João Evangelista de quem foi discípulo. Escreveu uma carta para os Filipenses. Famoso é o relato do martírio de São Policarpo, a mais antiga ata de Martírio de que se tem notícia.

4) Papias: Foi bispo de Hierápolis na Ásia Menor e morreu por volta do ano 130. Escreveu, para os cristãos, cinco livros intitulados "Explicações dos dizeres do Senhor" que infelizmente se perderam,  excetuando poucos fragmentos, muito precioso porque se referem a datas e circunstâncias atinentes à redação dos Evangelhos.

5) A Didaquê: (Doutrina dos doze Apóstolos), de um autor desconhecido, trata-se de um catecismo, da Eucaristia, da Celebração do Domingo, do jejum, etc... Este catecismo primitivo surgiu na Síria ou na Palestina entre os anos 90 e 100. Portanto, ainda no final do primeiro século do cristianismo.

6) A Carta do Pseudo-Barnabé: Foi erroneamente atribuída ao companheiro de São Paulo, na verdade trata-se de um escrito de um autor desconhecido. O autor valoriza o Antigo Testamento como mensagem dirigida aos cristãos e propõe duas vias: a da luz e a das trevas que levam respectivamente à vida e à morte.

7) O Pastor de Hermas: Este escrito deve-se a um personagem que não pôde ser identificado. O autor trata neste escrito da penitência sacramental, que era administrada com grande rigor e apenas uma vez para cada cristão; segundo seu relato os antigos confiavam à misericórdia de Deus todos aqueles que, após a dura praxe Penitencial da época, recaíssem nos mesmos pecados.

8) Carta a Diogneto: Esta carta é conhecida pelo nome do destinatário já que não se sabe o nome do autor e remetente. Diogneto foi um pagão ilustre interessado em saber o que é ser cristão. Seu autor e remetente escreve-lhe esta carta de 12 capítulos completados com uma exortação final que é uma das mais belas apologias ao cristianismo em relação ao judaísmo e ao paganismo. A carta trata de dois temas principais: o combate ao judaísmo e a idolatria e apresenta o modo de vida dos cristãos.

Todos estes escritos foram de grande contribuição para os cristãos na passagem da fase da Igreja Apostólica até meados do século II. Como já vimos esse período ficou conhecido como o período dos padres apostólicos porque estes tiveram contato com os apóstolos de Cristo.