Capítulo IV: AS HERESIAS DO PERÍODO PÓS APOSTÓLICO ATÉ MEADOS DO SÉCULO V.

Desde o início da Igreja até o terceiro século os cristãos tiveram que enfrentar além, das heresias, dois tipos de adversários: os pagãos e os gnósticos.

a) As acusações dos pagãos:

Além dos judeus também os pagãos lançavam acusações contra os cristãos chamando-os de ateus por não cultuarem os deuses do Império Romano e nem reconhecerem César (o imperador de Roma) como Deus, todas as calamidades como enchentes, incêndios, epidemias, etc... eram atribuídas à impiedade à dos cristãos. Como os cristãos se recrutavam nas camadas mais humildes da população eram tidos como ingênuos, vítimas de um ou mais exploradores da sua simplicidade.

Esse preconceito que corria de boca em boca levavam a crer que os cristãos constituíssem perigo para o Império Romano. Muitas vezes essas acusações tinham certo fundamento pois haviam alguns grupos dissidentes do cristianismo que se afastavam da doutrina verdadeira (como o Montanhismo e correntes gnósticas) e professavam apenas parte da mensagem cristã. Os pagãos não distinguiam entre a chamada Igreja de Cristo e esses grupos dissidentes.

b) O Gnosticismo:

A Gnose é uma corrente sincretista que funde em si elementos das religiões orientais, da mística grega e da revelação judeu-cristã. Tentou envolver o cristianismo no processo de fusão, colocando em cheque a pureza da mensagem evangélica que Paulo, já na sua carta a Timóteo, faz uma advertência pedindo que "evite as contradições de uma falsa gnose (conhecimento)" Confere: I Tm 6, 20.

O gnosticismo atraía os homens prometendo-lhes um acontecimento superior ao da simples fé cristã, reservado aos iniciados. Esse conhecimento (a gnosis) forneceria a solução cabal dos problemas fundamentais da filosofia que eram: a origem do mal, a gênese do mundo, a redenção e a felicidade definitiva do homem.

Os gnósticos eram dualistas pois admitiam um princípio bom que seria a Divindade simbolizada pela luz e em oposição a matéria, simbolizada pelas trevas, que eram más por si mesma.

As principais heresias do período pós apostólico até meados do Século II foram:

a) Cerinto: Este afirmava que Jesus era filho de José e de Maria e que o Cristo vem a ele apenas no Batismo e o abandona na hora da paixão. Desse modo, a morte de Jesus não tem valor salvífico.

b) Os Ebionistas: Viviam no interior da Transjordânia. Viviam da pobreza e da partilha de bens. Para eles os sacrifício cruentos são negados. Logo o sacrifício de Cristo na cruz é ineficaz. Com isso eles se opõem firmemente à pregação de São Paulo que exalta o sacrifício da cruz.

c) Marcião: Pertencia a uma igreja herética de Sinope, na Ásia Menor. Tinham diaconisas que batizavam, impunham as mãos para orarem sobre os doentes e faziam o exorcismo. Aceitavam o Evangelho de Lucas, as cartas de São Paulo e os livros canônicos mas rejeitavam o Antigo Testamento.

Todas essas correntes filosóficas (gnosticismo, paganismo, ebionistas, marcionistas,...) influíram na História da Igreja a partir do momento que influenciaram a fé cristã. Assim a Igreja enfrentava uma vez ou outra as perseguições do Império Romano, dos pagãos e ainda tinha de lutar pela integridade da fé ante essas heresias e o paganismo imperial dessa época tão difícil.

Da parte do Império Romano, a rigidez nas perseguições fez com que os cristãos passassem a se reunir nas catacumbas para as orações e a celebração eucarísticas. Eram feitas vigílias noturnas e todos retornavam a suas casas antes que o dia amanhecesse. Foi uma época difícil. Depois das perseguições de Nero, ainda no primeiro século, surgiu pouco depois, uma nova onda de violência contra os cristãos movida pelo Imperador Domiciano que reinou entre 81 e 96. Ele chega a proibir a religião cristã em todo o império. Os cristãos são lançados às feras no coliseu de Roma. Depois de um breve período de paz para o cristianismo sob ao trono de Roma o Imperador Trajano que reina entre  98 e 117 e move novas perseguições aos cristãos. Nesse período morre o bispo Santo Inácio de Antioquia, devorado pelas feras no coliseu de Roma.

Mas não são apenas os cristãos que sofrem perseguições dos romanos. Os judeus, que foram derrotados no ano 70 pelo Imperador Tito e tiveram Jerusalém arrasada e destruída, sofrem mais um duro golpe no ano 135 movido pelo Imperador Adriano: Este reconstrói a cidade de Jerusalém e muda-lhe o nome. Esta passa agora a se chamar Hélia Capitolina e os judeus são proibidos de circular por ela. Contudo, surgirá nesta cidade, agora, uma nova comunidade cristã constituída de gregos convertidos.

Outro tempo difícil para a Igreja foi durante o reinado do Imperador Marco Aurélio (de 161 à 180). Este desencadeou nova perseguição aos cristãos, em parte devida à insatisfação do povo que acusava os cristãos de serem os responsáveis pelas calamidades que afligiam a sociedade e o Império.

No ano 193 sobe ao trono de Roma o Imperador Septímio Severo que reinará até 211. Após a virada do Século, no ano 202, ele assina um decreto de perseguição que atingia tanto os judeus como os cristãos. Estes últimos surpreendem o imperador por crescerem  numericamente nas camadas mais elevadas da sociedade. Ele decide então proibir a conversão ao cristianismo. Os magistrados não deveriam mais esperar as denúncias mas procurar os cristãos onde estivessem. Dessa forma os cristãos foram duramente perseguidos, sobretudo no norte da África onde haviam muitos convertidos.

A Igreja sofre calúnias, é golpeada de morte, é mal vista em todo o império mas resiste a tudo e a todos: os cristãos não temem. Novos bispos são sagrados, mais sacerdotes são ordenados, papas são eleitos. Enquanto o Império Romano  com suas leis impondo obstáculos ao culto cristão, a espada dos perseguidores ceifam vidas cristãs e as heresias tentam solapar a fé, a Igreja de Cristo continua a sua expansão pelo mundo levando a Boa Nova os homens e vendo crescer o número de seus seguidores