Capítulo VII: A IGREJA E O IMPÉRIO ROMANO

O cristianismo é perseguido pelo Império Romano:

Desde seu nascimento em Pentecostes o cristianismo passou a ser perseguido primeiramente pelos Judeus, mas logo em seguida pelos Romanos que viam em sua doutrina uma ameaça aos costumes e crenças pagãs do Império. Durante toda a existência do Império Romano, após o cristianismo, os cristãos experimentaram a cruz das perseguições que se alternavam com tempos de paz ou de tolerância da parte dos Romanos. Veremos a seguir um balanço dos quatro séculos iniciais do cristianismo, vividos sob o rigor do Império Romano, remontando desde seu começo e salientando as fases mais difíceis pelas quais passou.

Após a morte de Jesus Cristo no reinado de Tibério César, a Igreja Nascente experimentou primeiro a perseguição dos judeus que não aderiam à doutrina de Cristo e também restrições dos Romanos. O paganismo imperial se tornara um obstáculo na propagação da fé transmitida pela pregação dos apóstolos. Após o reinado do insano Calígula (37-41), veio o do Imperador Cláudio (41-54) onde os cristãos sofreram muitas restrições. O apóstolo São Tiago de Jerusalém, sofre o martírio nessa época. O imperador seguinte foi Nero, que reinou entre 54-68. Este também perseguiu os cristãos, acusando-os do incêndio de Roma. Nero moveu a primeira grande perseguição aos cristãos. Os apóstolos Pedro e Paulo são presos e morrem pela fé em Roma no ano 67. Esse período difícil para os cristãos só teve fim com a morte de Nero, que se suicidou no ano 68. Galba o sucede no trono, mas fica pouco tempo entre julho de 68 e janeiro de 69. Este deixou em paz os cristãos, o mesmo fazendo seus dois sucessores imediatos que também reinaram pouco tempo: Ótão (de janeiro a abril de 69) e Vitélio (de abril a dezembro de 69).

Os cristãos também gozaram de paz sob os dois imperadores seguintes: Vespasiano, que reinou entre 69 e 79, foi um homem ilustre e grande estadista que se empenhou na luta para dominar a revolta dos judeus na Palestina. No ano 70 seu filho e herdeiro Tito comanda o exército romano que esmaga a resistência judia e destrói Jerusalém. Após a morte de Vespasiano em 79, Tito o sucede e também faz um bom governo deixando em paz os cristãos. Durante seu reinado as cidades de Herculano e Pompéia  são destruídas pelo vulcão Vesúvio. Quando morre em 81, sobe ao trono seu irmão Domiciano (81-96), homem cruel que empreendeu nova onda de perseguição aos cristãos. Este imperador se auto-proclamava "Senhor e Deus" exigindo que fosse adorado como tal. No seu reinado o apóstolo João Evangelista foi exilado e preso na Ilha de Patmos. Domiciano levou ao suplício milhares de cristãos entre servos e patrões, ricos ou pobres, grandes e pequenos. Ele ordenava: "procurem, exilem, confisquem, torturem, matem os cristãos ...". Era um homem cruel. Atormentado, porém, por visões, enlouquece e morre assassinado dentro do palácio, por um serviçal.

Depois da morte de Domiciano em 96, sobe ao trono de Roma o manso Nerva que inaugura uma nova dinastia, a antonina, composta de homens ilustres que irão engrandecer o império embora houvesse alguns entre eles que se voltarão contra a Igreja. Nerva governa por dois anos apenas, mas favorece os cristãos. Em 98 sobe ao trono o Imperador Trajano que governará até 117. Sob seu reinado o Império Romano atingirá seu apogeu. Contudo, Trajano voltou-se contra os cristãos afirmando que estes eram ateus por não adorarem os deuses do Império. Por isso baixou uma norma em todo o Império segundo a qual todo cristão, desde que convicto, deveria ser punido. Contudo, não deveriam ser procurados. Também determinou que as denúncias anônimas não teriam valor. Caso um cristão interrogado renegasse sua fé, que fosse posto em liberdade. Se, ao contrário, insistisse em permanecer cristão, que fosse morto.

Uma nova onda de perseguição surgiu. Como os cristãos, decididos, testemunhassem a fé, a arena do Coliseu de Roma serviu para os espetáculos onde milhares de vidas eram ceifadas pelos dentes das feras. Geralmente os prisioneiros de guerra eram condenados à morte travando lutas mortais contra gladiadores e feras. Mas na celebração da vitória de Trajano numa guerra contra os Tácios, o imperador ordena que o espetáculo seja grandioso: dez mil gladiadores e onze mil feras, à cuja sanha os cristãos serviram de isca na arena.

Foi nesse período que foi martirizado em Roma, no ano 107, Santo Inácio de Antioquia, devorado pelos leões.

Depois da morte de Trajano em 117, vieram tempos de paz onde reinaram os imperadores Adriano, entre 117 e 138 que mandou reconstruir Jerusalém no ano 135 dando-lhe o nome de Hélia Capitolina e proibiu os judeus de circularem por ela, favorecendo assim o surgimento de uma nova comunidade cristã naquele lugar, e Antonino Pio que reinou entre 138 e 161.

Um novo período de tormentos para a Igreja veio sob o Imperador Marco Aurélio (161-180). Este desencadeou nova perseguição aos cristãos mais para aplacar a insatisfação do povo que responsabilizava os cristãos pelos males que afligiam a sociedade como enchentes, epidemia, inundações, incêndios etc. ... Nesse período é levado à morte o grande filósofo cristão são Justino, um dos apologetas que defenderam a fé naqueles tempos difíceis do paganismo. Após a morte de Marco Aurélio, sobe ao trono do Império o seu filho Cômodo (180-192) homem cruel e devasso que também se voltou contra os cristãos. Seu passatempo favorito era ver os combates nas arenas do Coliseu entre gladiadores ou entre homens e feras. Muitos cristãos pereceram nesse período.

Depois de Cômodo vieram dois imperadores de curto reinado: Pertinax, que ficou no poder por apenas 87 dias, no ano de 193, e Dídio Juliano, que reinou apenas 66 dias, também em 193.

O Imperador seguinte, Septímio Severo (193-221) estava decidido a eliminar de vez os cristãos dentro do Império. Assinou um decreto que atingia tanto os judeus como os cristãos. Determinou que os magistrados não deveriam mais esperar pelas denúncias contra os cristãos, cujo número crescia agora nas camadas mais elevadas da sociedade e isso preocupava, mas deveriam ir procurá-los onde quer que estivessem a fim de sofrerem a punição. Foi uma nova era de terror para a Igreja. Milhares de cristãos foram perseguidos e mortos. No entanto, o sangue dos mártires era semente para novas conversões à fé. A Igreja, perseguida em toda parte, sobreviveu a mais este tormento.

Depois da morte de Septímio Severo em 221, seguiu-se uma época de instabilidade no império com uma troca sucessiva de imperadores e levantes militares. Essa instabilidade viria favorecer a Igreja que por um período de quase quarenta anos não foi perseguida. Reinaram nesse período: Caracala (211-217), Macrino (217-218), Heliogábalo,  sacerdote sírio,(218-222), Alexandre Severo (222-235), Maximino (235-238), Gordiano I (maio de 238), Gordiano II (Junho de 238) Balbino e Pupieno Máximo (junho a dezembro de 238) Gordiano III ( 238-244) e Filipe, o árabe (244-249). Esta foi uma época difícil para o império com uma sucessão de imperadores de curtos reinados. Aproveitando-se dessa instabilidade a Igreja gozou de relativa paz por uns quarenta anos.

Em 249 sobe ao trono o Imperador Décio, decidido a restaurar o Império Romano em toda a sua grandeza. Para tanto deveria reforçar a religião oficial do império, isto atingia especialmente os cristãos, considerados por ele como os inimigos mais perigosos do Estado. No ano 250 decretou que todos os cristãos do império deveriam manifestar sua adesão à religião oficial do Estado, oferecendo sacrifícios aos deuses Romanos. Quem o fizesse receberiam um certificado (libellus) de dever cumprido. Quem se recusasse seria submetido à penas diversas como cárcere, confisco de bens exílio, trabalhos forçados e apenas de morte. Os bispos estavam particularmente na mira do imperador que dizia tolerar mais facilmente um rival no império do que um bispo em Roma. Os cristãos, colhidos de surpresa por este decreto, fraquejam em parte, mas houve novamente uma multidão de mártires, de todas as idades e de ambos os sexos, que testemunharam à fé sob tortura e morte nas perseguições de Décio. Os que fraquejaram na fé, os "lapsos", que renunciaram-na para escapar do martírio, retornaram, muitos deles pedindo depois para serem readmitidos. Receberam o perdão após longo período de penitência.

Em 251, os Bárbaros Godos forçavam as fronteiras do Império Romano. Décio comandou seus exércitos para combatê-los. Sucumbiu  num pantanal do Danúbio Inferior e ali morreu numa emboscada. Teria dito que antes de morrer não deveria haver mais nenhum cristão dentro do império. Depois de sua morte os cristãos tiveram novamente um breve período de paz durante o reinado de seu sucessor, o Imperador Galo (251-253). Foi um alívio esses dois anos para a Igreja que tanto sofre nas perseguições de Décio.

Após um curto reinado do Imperador Emiliano que destronara Galo em 253, nesse mesmo ano sobe ao trono o Imperador Valeriano que reinará até 260. A princípio deixou em paz os cristãos, mas no ano 257 (4º de seu reinado) vendo o Estado em grande miséria quis remediar-lhe um novo golpe contra a Igreja. Decidiu então dissolver a organização das comunidades atingindo bispos, sacerdotes e diáconos, mandando que estes oferecessem sacrifícios aos deuses do império. As reuniões de culto foram proibidas sob ameaça de morte. Muito cristãos, inclusive aqueles que exerciam funções no palácio imperial, foram condenados a trabalhos forçados como escravos enquanto outros foram martirizados. Em um curto espaço de dias foram martirizados o papa Sixto II e seus quatro companheiros (diáconos) e logo a seguir São Lourenço, também diácono. Também morre martirizado o bispo São Cipriano, decapitado em Cartago, na África. Valeriano é preso numa guerra com os persas após ter seu exército dizimado por uma peste. Morre em seguida e novamente a tormenta se amainou.

A Valeriano sucede seu filho Galieno (260-268) que revoga os editos de perseguições aos cristãos feitos pelo pai.. concorda com sua esposa no ponto de vista de que os cristãos são melhores cidadãos do império. Por isso acha que é preciso também reparar todo mal que lhes foi causado da melhor maneira possível. Assim, expede um edito pelo qual ordena que se ponha termo nas perseguições e em seguida, atendendo a solicitações dos cristãos manda que sejam restituídos à Igreja todos os bens confiscados além de permitir a liberdade de culto aos cristãos. Tem os cristãos mais uma vez um período de cerca de quarenta anos de paz.

Depois vieram os reinados dos chamados imperadores ilírios: Cláudio II, o Godo, (268-270), Aureliano, que adorava o Deus Sol (270-275) Tácito (276) Probo (276-7282), Numeriano (283-285), Carino (284-285). Durante esse período a Igreja gozou de paz a não ser por um breve período durante Aureliano numa perseguição de pouca monta que logo passou.

 

A Tetrarquia:

Foi um período difícil marcado por lutas internas onde o império teve seu governo dividido por quatro chefes: dois augustos e dois césares: esse período durou de 285 a 310. Em 285 subiu ao trono o Imperador Diocleciano. Como os bárbaros ameaçavam as fronteiras do Império, Diocleciano decidiu criar uma tetrarquia, dividindo-o em quatro: Este teria dois Augustos e dois Césares.

O governo do Império, divido entre quatro, tinha suas sedes em Roma, em Milão, na Gália e em Nicomédia. Foi uma época complicada e seus governantes foram:

De 284 a 305: Maximiano e Diocleciano eram Augustos enquanto Constâncio Cloro e Galério eram os Césares. Em 305 Diocleciano renunciou e Contâncio Cloro o substituiu como Augusto. Maximino Daia se torna César no lugar de Constâncio Cloro.

De 305 a 306: Constâncio Cloro e  Galério  eram Augustos, enquanto Severo e Maximino Daia eram os Césares. Ainda em 306, morre o Augusto Contâncio Cloro sendo substituído por  Severo.  O filho de Constâncio Cloro, Constantino, se torna o outro César, juntamente com Maximino Daia.

De 306 a 307: Galério e Severo são os Augustos, enquanto Constantino e Maximino Daia  são os Césares.

Ainda em 307, Licínio, cunhado de Constantino, se torna Augusto no lugar de Severo.

De 307 a 308: Galério e Licínio  são os Augustos do Império, enquanto Constantino e Maximino Daia  continuam como Césares.

Em 308  o Augusto Galério é assassinado num golpe palaciano e Maximino Daia se torna Augusto em seu lugar.

De 308 a 3l0  Licínio e Maximino Daia são Augustos enquanto Constantino permanece como César, agora junto com Maxêncio.

Em 310, com a morte de Maxmino Daia, Constantino se torna Augusto juntamente com seu cunhado Licínio. Restam apenas três no Império. Constantino e seu cunhado Licínio como Augustos e Maxêncio como César.

Em 312, Constantino  derrota Maxêncio e conquista Roma. Resta apenas Licínio. Em 324 Constantino derrota Licínio e unifica novamente todo o Império Romano, tornando-se o único imperador.

Desses homens foi sob Diocleciano que os cristãos mais sofreram. Retornemos no tempo e vejamos como foi o período da parte do Império sob Diocleciano, na época da tetrarquia:

No reinado de Diocleciano começa o ocorrer atos isolados no exército onde soldados se recusavam a carregar moedas com a efígie divinizada do imperador. Isso era uma atitude notoriamente cristã.

No ano 300 Diocleciano lançou um edito, pelo qual, todos os soldados deveriam fazer sacrifícios aos deuses Romanos. Começava ali o cerco de Diocleciano aos cristãos.

Em 303 e 304 ele lança quatro editos acabando com a liberdade dos cristãos. Esses quatro editos atingia os cristãos progressivamente. Vejamos:

1º  edito: determina a destruição dos templos, deixando os cristãos sem lugar para o culto.

2º edito: determinava a perseguição do clero, deixando o povo sem líderes.

3º determinava a queima dos livros sagrados.

4º determinava, finalmente, o massacre dos cristãos.

Diocleciano teve que renunciar ao trono em 305. Com a sua renúncia, a perseguição aos cristãos acabou. Após sua renúncia os quatro chefes da tetrarquia começam o período de disputas internas que levará o Império a em chefe único com Constantino.