Capítulo IX: A  DECADÊNCIA  E  FIM  DO  IMPÉRIO  ROMANO

Como vimos o reinado de Constantino foi benéfico para o cristianismo pois ele, depois de derrotar o imperador Maxêncio, concedeu liberdade de culto a todos os cristãos do império através do Edito de Milão em fevereiro de 313. Durante seu reinado a Igreja enfrentou a heresia do arianismo condenado pelo Concílio de Nicéia em 325 onde o próprio imperador tomou a defesa da fé. Em seu tempo surgiram as grandes basílicas como a de São Pedro mandada ser construída pelo próprio Constantino e a Igreja já tem uma estrutura universal. O reinado de Constantino foi de tão grande importância, não só para o império como também para os cristãos, que ele foi chamado de Constantino, o grande.

Quando Constantino morre em 337, o Império Romano fica nas mãos de três de seus descendentes: Constantino II fica com o Ocidente onde reina de 337 a 340. No Oriente fica Constâncio II que governará de 337 a 361, enquanto Constante ficará com parte da Itália e a África onde reinará de 337 a 340. Nesse ano de 340 morre Constantino II e Constante assumirá todo o Ocidente. Dessa forma, a partir de 340 ficarão Constante no Ocidente até 350 e Constâncio II no Oriente até 361. Constante morre em 350 e Constâncio II assumirá todo o Império de 350 até 361.

Esses três imperadores continuaram a obra de Constantino, o Grande, em todo o império e defenderam a fé cristã estimulando seu crescimento. Muitas vezes recorreram ao uso da força intervindo em favor da fé cristã das disputas contra o arianismo.

Em 361 sobe ao trono o Imperador Juliano, também conhecido como Juliano, o Apóstata. Este era filho de um meio-irmão de Constantino, o grande. Embora fosse educado na fé cristã recebeu grande influência do mestre pagão Máximo de Éfeso. Com isso ele mantinha uma aparência de católico mas no íntimo era um pagão. Quando chegou ao trono em 361, declarou-se publicamente adepto da religião helenista antiga. Isso lhe valeu o cognome de "Apostata" (desertor). Praticava fervorosamente o culto do sol com seus respectivos sacrifícios e também a magia.

Juliano quis restabelecer a cultura pagã em todo o império. Para isso transferiu da Igreja Católica para instituições pagãs vários benefícios e direitos. Passou a chamar os cristãos de "Galileus" porque seguiam a doutrina do "Galileu de Nazaré". Determinou que os cristãos deveriam deixar os cargos mais elevados da administração. Os jovens cristãos eram agora obrigados a freqüentar escolas pagãs. Tentou ainda criar uma Igreja de Estado copiando de certo modo os moldes da Igreja Católica.

No intuito de prejudicar a Igreja, favoreceu as heresias e as divisões entre os cristãos. Para tentar mostrar a todos que Cristo tinha se enganado acerca da profecia sobre o Templo de Jerusalém onde não ficaria pedra sobre pedra, mandou que os judeus retornassem à Terra Santa para reconstruírem o templo de Jerusalém. Fracassou em seu intento porque uma série de contratempos como incêndios e terremotos frustraram também empreendimento e os judeus não tiveram como realizá-lo. Revoltado Juliano escreveu três livros chamados  "Contra os Galileus" onde combatia o Cristianismo.

Juliano, no entanto, não quis desencadear uma perseguição sangrenta contra os cristãos como tinham feito seus antecessores. Ele dizia que os cristãos correriam para o martírio como as abelhas correm para a colmeia, tal era o anseio destes em chegar à perfeição do martírio.

Os resultados obtidos pelo Imperador Juliano foram efêmeros em parte por causa da brevidade de seu reinado de apenas 1 ano e meio (36l-363) e em parte também por causa da falta de ambiente no Império para o retorno às antigas práticas pagãs.

O Imperador Juliano, o Apóstata, morreu uma expedição contra os persa aos 32 anos de idade. No seu leito de morte, reconhecendo o fracasso de sua tentativa, exclamou: Venceste, Galileu! Santo Atanásio o comparou a uma nuvem que se dissolveu rapidamente.

Em 364, após um ano apenas de reinado do Imperador Joviano que sucedera a  Juliano, o  Apóstata, o Império voltou a ter dois imperadores: no  Ocidente sobe ao trono Valentiniano I (364-375), enquanto no trono do Oriente ficou Valente (364-378). Por essa época os bárbaros se assentavam em terras do império tanto no ocidente como no Oriente. Os bárbaros começam a ter sucesso não por seus méritos mas pela fraqueza dos romanos em defender suas fronteiras. Eles  avançam por causa dos hunos que vinham da Ásia e por estarem de olho nas terras quentes do Império Romano.

Com medo dos hunos, os visigodos pediram permissão ao Imperador Valente, do Oriente, para se estabelecerem no império do Oriente. Valente concordou desde que  ajudassem e proteger as fronteiras. Foram alojados na Trácia, como aliados do Império do Oriente. Os hunos não vieram e os visigodos começaram a se expandir naquela região. Para mostrar agrado ao imperador assumiram o cristianismo. Depois eles se organizam e reagem contra Valente que os combate. Valente morre em 378 combatendo-o na batalha de Adrianopla,. Depois de guerras sucessivas os visigodos são levados a habitar na  Espanha São portanto bárbaros convertidos a fé cristã.

No Ocidente em 370 o Imperador Valentiniano I promulga uma lei que pela primeira vez na história usa-se   o termo Paganus (pagão) para designar o não cristão. Valentiniano I morre em 375 e é sucedido o trono pelo Imperador Graciano (375-383). Graciano recusou o título e a vestimenta de Pontífice Máximo. Mandou suspender as contribuições do estado para o culto pagão e afastou  do senado de Roma o altar da Deusa Vitória no ano de 382. Estas medidas suscitaram a revolta dos pagãos. Uma comissão da antiga religião foi até o imperador para solicitar a restauração do altar da Deusa Vitória mas Graciano, manteve-se firme em seu propósito.

Quando Graciano morreu em 383, sucede-o o seu irmão Valentiniano II (383-392) com apenas 13 anos de idade. Novamente a facção pagã da sociedade repetiu o pedido da restauração do altar de Vitória desta vez por escrito. Os conselheiros do imperador estavam inclinados a ceder mas desta vez o bispo de Milão, Santo Ambrósio, dissuadiu o imperador de aceitar a solicitação. Nesse tempo a maioria dos membros do Senado já era cristã.

Em 392, após a morte de Valentiniano II sobe ao trono o Imperador Teodósio, oriundo da Espanha, homem íntegro e muito religioso. Ele já  reinava  no  Oriente desde a morte de Valente e realizou grandes obras como por exemplo um decreto onde tornava a fé católica oficial em todo o império Romano, a partir de 380, quando Graciano ainda reinava no Ocidente.

Na verdade, quando Valentiniano II morre em 392, Teodósio assume tanto o Oriente como agora o Ocidente. Defende a fé professada pelos apóstolos e a Igreja Católica passa agora a religião oficial do império. A autoridade da Igreja era tal que o próprio Teodósio faz penitência pública em Milão no ano de 390. O grande bispo de Milão, Santo Ambrósio, assim dizia acerca de Teodósio: "O imperador está dentro da Igreja, e não acima dela".

Em 395 Teodósio dividiu o Império Romano em dois: Ocidente. No Oriente pôs seu filho Arcádio sob orientação de Estilicão. Sua capital era Constantinopla. No ocidente, com a capital em Milão (e não Roma) ficou seu outro filho, Honório sob a orientação de Rufino. Era uma divisão apenas em caráter administrativa e não política. O Império continuava único porém com dois imperadores e duas capitais, quando a ameaça dos bárbaros passasse deveria se reunificar.

Naquele mesmo ano de 395 morreu Teodósio I. Um grande imperador que defendeu a fé cristã e fez um grande governo durante seu reinado. Tanto Honório no Ocidente como Arcádio no Oriente enfrentarão os bárbaros que cada vez mais forçam as fronteiras do império. Esses povos vinham de todas as partes além das fronteiras do império. Os Vândalos, no ano de 406, atingiram as províncias romanas da África e as ocuparam. Estabeleceram lá o reino do Vândalos. Os visigodos que atacaram o império no tempo do Imperador Valente, do Oriente, que lhes dera permissão para se estabelecer na Mesopotâmia , agora se voltam novamente contra o império e conquistam a Itália. Em 402 seu chefe, Alarico, tenta invadir a Itália mas é derrotado por Estilicão. Depois da morte de Estilicão eles atacam novamente a Itália e Roma é saqueada em 410. O Imperador se refugia em Ravena. Depois Ataulfo sucede a Alarico no comando dos Visigodos e reinicia a guerra contra o Império Romano. Este havia casado com Placídia, irmã do imperador. Agora, tornado chefe dos Visigodos, reinicia a luta e continuando seu avanço ocupa a península ibérica e o sul da Gália. O Império Romano perdia, assim, enorme extensão territorial e vê surgir dentro de suas fronteiras o reino Visigótico. No Vale do Rio Ródano (Europa Central) os Borgúndios fundam seu reino em 443, com a capital em Worms. Decadente, o Império Romano não vê outra alternativa se não aceitar esses povos bárbaros e seus reinos, dentro do que foi o antigo império, agora como "aliados".

Depois da morte de Honório, no Ocidente, sobe ao trono, em 425, o imperador Valentiniano III. Era ainda jovem, porém covarde e viciado. Um fraco imperador para um império em declínio. Contudo Valentiniano III protegeu a Igreja. Durante seu reinado o Maniqueísmo, uma heresia antiga do século III que vem de Manés seu o autor, começa a atormentar o cristianismo, ameaçando a fé. o Papa Leão I conclama os cristãos no ano de 440 a enfrentar com bravura mais essa ameaça, na luta pela defesa da fé. O próprio Imperador Valentiniano III, levado pelo exemplo do grande pontífice, defende a Igreja dando combate aos maniqueus. Como houvesse reação por parte destes, Valentiniano III manda que os mais facinorosos sejam presos e que se queimasse todos os livros heréticos. Contudo no Oriente os hereges encontrarão proteção do imperador Teodósio II. Esta proteção dura pouco, porque este imperador morre repentinamente numa queda do cavalo.

Em 431 foi realizado o Concílio de Éfeso onde a Igreja defendeu a maternidade divina de Maria contra a heresia de Nestório que afirmava que Jesus tinha duas pessoas e duas naturezas e que Maria era mãe apenas da natureza humana de Jesus.

Também nessa época do reinado de Valentiniano III, é convocado o Concílio de Calcedônia para combater a heresia do monofisismo. Este Concílio é realizado no Oriente com a presença do novo Imperador Marciano e da Imperatriz Pulquéria que tomam a defesa da fé cristã diante das heresias. Foi o maior Concílio já realizado até 1870 com a presença de mais de 400 padres conciliares.

No ano 451 os Hunos, bárbaros vindos da Ásia e com uma capacidade militar extraordinária, comandados por Àtila, também chamado o "flagelo de Deus", avançaram  pela Itália. Por onde passam deixar tudo arrasado como aconteceu em Aquiléia que lhe opôs resistência. Investem finalmente contra Roma. O fraco Imperador Valentiniano III abandona a capital e foge para um lugar seguro. O Papa Leão I, auxiliado por três embaixadores romanos, vai ao encontro de Átila nos arredores de Roma e depois de negociar firmemente com o chefe bárbaro, consegue evitar o ataque à cidade Eterna e Átila se retira com seus guerreiros. Pouco depois o imperador retorna à sua capital defendida pacificamente por Leão I.

Em 455 morre o frágil Imperador Valentiniano III. O  seu sucessor Petrônio Máximo reina pouco tempo, entre março e maio de 455. Quando os Vândalos avançam sobre Roma ele sequer toma providências para a defesa da cidade e procura abandoná-la fugindo à cavalo. Contudo é visto pela multidão furiosa que o derruba do cavalo e o mata. Dessa vez Roma será saqueada pelo invasor. Sucede-o no trono o Imperador Avito que também fica pouco tempo, apenas um ano, de julho de 455 a outubro de 456. Depois dele vieram os imperadores Majoriano (456-461) e Severo (461-467).

Nesse período o império caía cada vez mais. De todo o Império Romano do Ocidente praticamente só a Itália estava ainda nas mãos dos romanos. No resto do império mandavam agora os bárbaros: Os Visigodos na Ibéria e no sul da Gália, os Alamanos na Germânia, os Vândalos na África, os Hérulos e Ostrogodos na Europa Central e assim por diante. O império agonizava!

Em 467 sobe ao trono um novo imperador: Artêmio. Nesta época o papa é Hilário. Na celebração da entronização do imperador a festa é celebrada nos rituais pagãos Este permite que assim seja porque pretende agradar a todos. Por conta disso alguns hereges se aproveitam para ir pedir ao novo imperador a permissão para falar livremente sua doutrina. O Papa Hilário apela ao imperador para de defenda a verdadeira fé. O imperador cede aos apelos do papa mas mesmo assim é complacente com hereges. Depois querendo mostrar um gesto de boa vontade para com a Igreja, decide ir visitar a Basílica de São Pedro em Roma. Quando o Papa Hilário vê o Imperador Artêmio se aproximar impede seu ingresso no templo e diz-lhe: "Para trás, protege os hereges e agora queres entrar neste lugar sagrado para profaná-lo? Não o permitirei"

Depois da morte de Artêmio em 472, os imperadores seguintes nada fizeram para evitar o colapso do império. Olíbrio reinou entre abril e dezembro do mesmo ano de 472. Glicério o sucedeu e reinou entre 472 a 474. Depois dele veio Júlio Nepos que tentou salvar o que ainda restava do Império Romano mas agora era tarde demais Os bárbaros estavam por toda a parte.

Em 475, no sétimo ano do pontificado do Papa Simplício, o Imperador Júlio Nepos é assassinado pelo comandante da guarda, Orestes, que coloca no trono de Roma seu filho menor Rômulo Augústulo, um menino de apenas 14 anos. No ano seguinte os bárbaros Hérulos atacam Roma e seu comandante Odoacro  conquista a capital do Ocidente. O menino Rômulo Augústulo, o último imperador romano do Ocidente, é aprisionado enquanto seu pai Orestes é assassinado a mando de Odoacro. Com a prisão e destituição de Rômulo Augústulo, acabava ali o Império Romano do Ocidente. O Império Romano do Oriente sobreviveu e depois passará a se chamar Império Bizantino. Este ainda iria durar mil anos até 1453.

Depois de conquistar Roma, Odoacro manda as insígnias imperiais para Zenão, o Imperador do Oriente, numa tentativa de unificar novamente o Império. Mas o Imperador Zenão apenas aceita as insígnias e recusa o trono de Roma, reconhecendo Odoacro como regente da Itália e lhe confere o título de "Patrício". Este funda um reino na Itália com sua capital em Roma.

A recusa do Imperador Zenão, do Oriente, apenas consolida e legaliza a conquista dos Hérulos. O Papa Simplício nada pode fazer para afastar os Hérulos na Itália. Dessa forma desapareceu o Império  Romano do Ocidente, que outrora entendera seu domínio pelo mundo e permitira a fé católica se expandir entre os povos da terra.