Uma tentativa de encontrar a Justiça como virtude cardeal e como uma agir moral social, cujo Direito está simplesmente a serviço.

Permitam-me os distintos colegas que labutam no campo da Justiça, colocar-lhes com toda a humildade, esta reflexo que desde os tempos da Faculdade tanto é fruto de intrincadas lutas, como de experiências de frustação, de perda, de sofrimentos interiores, de anseios e desejos que parece se afastarem cada vez mais de nosso ideal. Alguns até já começam a perder a fé na própria Justiça e se não fosse os anos a ela dedicados, abandonariam a luta.

Gostaria em primeiro lugar que o tema de hoje fosse colocado como fonte de espiritualidade, isto é, a justiça fosse vista como a força que brota do coração humano que o aproxima de Deus (interna) e o leva a agir em prol do bem (exterior). Como espiritualidade de vida e de ação na fé da verdadeira Justiça que é Des.

Justiça em latim Justitia, apresenta-se como virtude cardeal. Ora a ética social se encontra nos quadros formais da justiça. Fundamento-me em Santo Tomás de Aquino que ocupa um lugar sempre atual na reflexão ético-filosófica sobre a justiça. Como grande comentador de Aristóteles construiu um tratado de justitia enxertado numa síntese teológica o que é propício a nós membros católicos.

O tratado da justiça é inserido por ele dentro de uma ética concreta de virtudes. A sua obra a Suma Teológica faz uma síntese da moral em duas partes bem distintas: a moral geral (I-II) e a moral concreta (II-II). Nesta segunda parte a moral é organizada em torna da categoria de virtude.

Virtude é o contrário de vício, ato operativo e repetitivo bom. Um agir constante e não ocasional. Virtude seria então a disposição firma e constante para a prática do bem. É uma disposição do espírito, por um esforço da vontade que nos inclina à prática do bem. Conhecemos dentro da fé católica as virtudes teologais: fé, esperança e caridade. Virtuoso é aquele que possui em alto grau de vida o exercício das virtudes. Mas, a justiça, é uma virtude cardeal, ou seja, principal. As virtudes cardeais são: a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança. Mas, a rainha de todas virtudes é a justiça.

A justiça é a virtude moral que consiste na constante e firme vontade de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido. Para com Deus, a justiça chama-se virtude da religião. Para com os homens, a justiça leva a respeitar os direitos de cada qual e a estabelecer, nas relações humanas, a harmonia que promove a equidade em relação às pessoas e ao bem comum. O homem justo tantas vezes evocado nos livros santos, distingue-se pela retidão habitual dos seus pensamentos e da sua conduta para com o próximo. Não cometereis injustiças nos julgamentos. Não favorecerás, nem serás complacente para com os poderosos. Julgarás o teu próximo com imparcialidade (Lev. 19, 15). Senhores, dai aos vossos empregados (escravos) o que é justo e equitativo, considerado que também vós tendes um Senhor no Céu (Cl. 4, 1), CEC, 1807.