Vimos que Orígenes fora um dos grandes homens da Igreja no século III foi mestre da Escola de Teologia em Alexandria, no Egito em uma época que a Teologia estava ainda em seus primórdios. Dedicou-se ao estudo da matéria (corpo e da alma). Inspirando-se no platonismo, defendia que as almas humanas unida ao corpo eram produto de um resfriamento do fervor dos espíritos que Deus criou todos iguais mas destinados a viverem fora do corpo. Assim a encarnação das almas e a criação do mundo material dever-se-iam a um abuso da liberdade ou a um pecado dos espíritos primordiais que Deus teria punido ligando tais espírito à matéria (corpo). Banidos do céu e encarcerados no corpo, sofrem aqui na terra sua justa sanção e vão se purificando até voltarem a Deus. Após a vida presente alguns ainda precisarão se purificarem no fogo, numa existência póstuma, mas na etapa final da história todos serão salvos e recuperarão seu lugar junto a Deus. O mundo visível terá então realizado o seu papel e será aniquilado.

É preciso observar que Orígenes  propunha essa idéias como hipóteses e sobre as quais a Igreja ainda não tinha se pronunciado. Não havia, portanto, da parte de Orígenes nenhuma intenção de se afastar do ensinamento da Igreja e nem mesmo levantar uma heresia. Sua desgraça porém foi ter tido muitos discípulos e admiradores. Estes, mesmo depois que a Igreja se posicionou contrária a tal pensamento, atribuíram valor dogmático a essas proposições e as propagaram.

É importante observar ainda que Orígenes admitiu a pré-existência das almas humanas como uma coisa possível. Isso não significa necessariamente a reencarnação. Apenas ele queria dizer que antes de se unir ao corpo, a alma humana viveu algum tempo fora da matéria. Só depois se encarnou. Daí não se quer dizer que tenha que encarnar mais uma vez. Isso sim, seria a reencarnação. E a essa doutrina, aliás, ele se pronunciou contrário. O que aconteceu foi que seus seguidores e admiradores, chamados origenistas começaram a professar como verdade de fé a doutrina da reencarnação e não somente o que ele afirmara sobre a pré-existência da alma. Essa doutrina estava muito em voga no início do século VI nos mosteiros da palestina e no Egito. Era preciso dizer um não a ela e esclarecer de uma vez por todas seu erro.

Quem primeiro combate essa doutrina da reencarnação foi o abade São Sabas, no ano de 531, que com seus 92 anos de idade se opõe energicamente ao origenismo pregado dois séculos após a morte de Orígenes. Mais tarde no ano de 539 o imperador de Bizâncio (assim era agora chamado o que foi o Império Romano do Oriente) Justiniano interveio e condenou tais idéias  pronunciando-se contrário a elas. Ele escreveu uma série de dez anátemas contra tal doutrina e em seguida, em 543, o envia ao Patriarca Menas, de Constantinopla, que convoca um Sínodo com os bispos vizinhos e aprovam a condenação da doutrina. Entre esses dez anátemas de Justiniano podemos destacar os seguintes:

-   Se alguém disser ou julgar que as almas humanas existiam anteriormente, como espíritos ou poderes sagrados, os quais, desviando-se da visão de Deus, se deixaram arrastar para o mal, e, por este motivo, perderam o amor de Deus, e foram chamados almas relegadas para dentro do corpo à guisa de punição, que seja anátema (maldito).

-   Se alguém disser ou julgar que, por ocasião da ressurreição, os corpos humanos ressuscitarão em forma de esfera, sem semelhança com o corpo que atualmente temos, que seja anátema.

- Se alguém disser ou julgar que a pena dos demônios ou dos ímpios não será eterna, mas terá fim, e que se dará uma restauração e reabilitação dos demônios no final dos tempos, que seja anátema.

 

O Sínodo de Constantinopla reunido pelo Patriarca Menas a pedido do Imperador Justiniano promulgou por sua vez mais quinze anátemas. O Origenismo e a doutrina da  reencarnação estava assim oficialmente condenada pela Igreja. O Papa Virgílio e os demais patriarcas deram sua aprovação a esses artigos.

Quando, pouco tempo depois, em 553, foi convocado o Concílio de Constantinopla II esse tema da pré-existência e da reencarnação não veio mais à tona. Era um assunto encerrado.

No século VIII outra heresia surgiu atormentando o cristianismo: foi o Monotelitismo. Seu autor foi o Patriarca Sérgio, de Constantinopla. Essa heresia ensinava que em Jesus havia uma só capacidade de agir. Sua capacidade humana estava absorvida pela Divina e por isso Ele não teria suas expressões naturais. Em Jesus agia somente uma energia.

O monge Sofrônio, da Palestina, denunciou essa heresia como um monofisimo velado. A heresia foi condenada pelo Concílio de Constantinopla III (680-681) que promulgou o seguinte: "Nós professamos, segundo a doutrina dos santos Padres duas vontades e dois modos de operar, em Jesus, indivisos e inalterados, inseparados e não misturados, duas vontades diversas, não porém, no sentido de que uma esteja em oposição à outra, mas no sentido de que a vontade humana (de Jesus) segue e se subordina à Divindade."