A Igreja Ortodoxa surgiu no século IX de nossa época e foi causa da primeira separação ocorrida no cristianismo. Até então a Igreja Romana era a única para os cristãos. Na verdade uma série de fatores contribuíram para essa divisão.

Desde a morte dos apóstolos Pedro e Paulo no ano 67 a sede da Igreja ficou sendo Roma, onde eles foram martirizados. Todos os papas seguintes mantiveram  a cidade eterna como sede pontifícia. Roma era, ao mesmo tempo, sede da Igreja e capital do Império Romano. Mais tarde, no ano 330, a capital do império foi transferida para Constantinopla, no Oriente. No ano 396 o Imperador Teodósio dividiu o Império Romano para deixá-lo aos seus dois filhos. Roma ficou sendo a capital do Ocidente enquanto Constantinopla ficou sendo a capital do império no Oriente. Por Constantinopla já ter sido a capital do império anteriormente, havia um desejo no Oriente de que a sede papal fosse lá. Como a Sé Apostólica permanecesse  em Roma muitos queriam que o patriarca de Constantinopla fosse, no mínimo, um igual ao papa.

O Império Romano do Ocidente entrou em decadência e deixou de existir quando, no ano 476, os bárbaros conquistaram Roma e destituem o último imperador do Ocidente, Rômulo Augústulo. Roma cai mas a Igreja sai ganhando com isso pois a fé se espalha entre os bárbaros e se estende pela Europa com a conversão dos povos pagãos. O Império Romano do Oriente, que sobreviveu, passa a se chamar Bizâncio e vai durar ainda mil anos. Herdeiros do que fora o Império Romano, o Império Bizantino sonha com a sede papal em Constantinopla. E vai ser justamente esse império que irá, mais tarde, infligir um duro golpe na Igreja.

Compreende-se então que, o prestígio que Bizâncio não possuía por suas tradições os Bizantinos o quisessem obter por suas reivindicações. De modo geral, ia-se tornando difícil aos bizantinos reconhecer a autoridade religiosa de Roma, já que todo o esplendor da corte imperial se havia transferido para Constantinopla. Acontece que os Imperadores bizantinos, herdeiros do conceito pagão de Pontifex Maximus (Pontífice Máximo no plano religioso), se ingeriam demasiadamente em questões eclesiásticas, procurando manter a Igreja no Oriente sob o seu controle. Os monarcas, nas controvérsias teológicas, muitas vezes favoreciam as doutrinas heréticas, contrapondo-se assim a Roma e ao seu bispo, que difundiam a reta fé. Os patriarcas de Constantinopla, por sua vez, muito dependentes do imperador, procuravam a preeminência sobre as demais sedes episcopais do oriente e queriam rivalizar com o Patriarca de Roma, sucessor de Pedro, aderindo à heresia e provocando cismas: dos 58 bispos de Constantinopla desde Metrófanes até Fócio (858) até a ascensão de Fócio (858), a sede de Bizâncio passou mais de 200 anos em ruptura com Roma.

Registraram-se mesmo atos de violência cometidos por imperadores contra alguns papas: Justino I mandou buscar à força o Papa Virgílio em Roma e quis obrigá-lo a subscrever normas religiosas baixadas pelo monarca (cerca de 550); Constante II procedeu de forma análoga contra o papa Martinho I, que em Roma (649) se opusera à heresia monotelista, favorecida pelo Imperador Justiniano II mandou prender em Roma o Papa Sérgio I, que não queria reconhecer inovações promulgadas pelo Concílio Trulano II (692); Leão III, iconoclasta, em 731 subtraiu a Roma a jurisdição sobre a Ilíria e sobre parte do "Patrimônio de S. Pedro" na Itália meridional.

O distanciamento entre orientais e ocidentais ainda foi acentuado pala criação do "Sacro Império Romano Germânico", cujo primeiro imperador, Carlos Magno, recebeu a coroa, em 800, das mãos do Papa Leão III. O descaso ou a hostilidade dos bizantinos associados à opressão dos lombardos no Norte da Itália, dera motivo a que os papas se voltassem aos poucos, com olhar simpático, para o povo recém-convertido dos francos, pendido-lhes o auxílio necessário para instaurar nova ordem de coisas no Ocidente. A entrega da coroa imperial a Carlos Magno visava a prestigiar os francos nessa sua missão. Como se compreende, em Bizâncio tal ato foi mal acolhido; os orientais julgavam que só podia haver um império cristão, como só pode haver um Deus. O imperador reinava em nome de Cristo e era como que o representante visível da unidade da Igreja; daí grande surpresa e escândalo quando souberam que o bispo de Roma sagrara em 800 um "bárbaro" para governar um segundo império cristão!

Apesar de tudo, deve-se dizer que até o século IX o primado de Roma ainda era satisfatoriamente reconhecido pelos orientais. A tensão de ânimos se manifestou em termos novos e funestos sob a chefia dos patriarcas Fócio (+ 897) e Miguel Cerulário (+ 1054).

No ano de 868, César Bardas, homem imoral e viciado, tio do Imperador Miguel III de Bizâncio, foi excomungado pelo Patriarca Inácio, de Constantinopla. Indignado, ele insta o sobrinho-imperador fazendo com que este destituísse Inácio. Este é destituído do Patriarcado e  preso, por ordem de Miguel III, e desterrado para a Ilha de Terebinto. Em seguida, com o apoio do sobrinho-imperador, César Bardas consegue eleger Fócio comandante da guarda imperial, a quem Miguel III favorecia, como bispo para ocupar o patriarcado de Constantinopla em lugar de Inácio. A sagração de Fócio foi cercada de irregularidades: o novo prelado recebeu em apenas cinco dias todas as ordens sagradas e foi empossado pelo Imperador Miguel III como patriarca de Constantinopla sem a aprovação de Roma e sem que a sede estivesse vaga pois Inácio, o legitimo patriarca não havia renunciado nem tinha sido destituído legalmente pelo Papa. Nicolau I. Além disso, Fócio fora sagrado por um bispo que não estava mais em comunhão com a Santa Sé. A sagração foi portanto irregular. Mas Fócio ama o poder e manda espalhar que Inácio fora desterrado por ter conspirado contra o imperador. Também achava que o papa aceitaria sua nomeação porque precisaria do auxílio das tropas bizantinas para proteger os cristãos na luta contra os sarracenos muçulmanos. Mas o Papa Nicolau I lhe opôs enérgica resistência e não aceitou sua indicação e sagração irregular. Em seguida o papa declarou solenemente, em 863, que Fócio estava destituído (naturalmente) das funções pastorais.

Não conseguindo impor-se com o apoio papal, Fócio convoca um concílio irregular em Constantinopla (a maioria dos bispos estava suspenso de ordens) e obtêm dessa forma a aprovação para o patriarcado. O Papa Nicolau I condena os decretos do Concílio irregular e excomunga Fócio. Este rompe com o papa provocando o Cisma do Oriente. Dessa forma a Igreja de Bizâncio, seguindo a Fócio, cai no cisma que dolorosamente separa os cristãos do Oriente da Igreja de Roma. Não aceitam mais a autoridade papal e criam com isso a primeira divisão entre os cristãos.

Não conseguindo impor-se ao bispo de Roma, que em 863 o declarou destituído das funções pastorais, Fócio, ainda apoiado pelo imperador, abriu violenta campanha contra os cristãos ocidentais. A situação se tornou mais tensa pelo fato de que o Papa Nicolau I enviou missionários latinos à Bulgária, cujo rei Bóris, recém batizado, hesitava entre a obediência a Roma ou Constantinopla. A entrada dos latinos em território tão próximo das fronteiras gregas irritou os bizantinos; a cólera chegou ao auge quando estes souberam que legados de Roma estavam a caminho de Constantinopla, onde deveriam informar o imperador de que a Bulgária se tornara decididamente latina. Presos antes de penetrarem em território imperial, os legados do papa foram expulsos (866). Fócio enviou uma carta aos bispos do Oriente condenando a conduta dos "ocidentais bárbaros": além da evangelização da Bulgária, censurava-os por praticarem o jejum no sábado, celebrarem a Eucaristia com pão ázimo e principalmente, por terem acrescentado o Filióque ao Símbolo da Fé. Como sabemos  o credo Niceno-constantinopolitano professava: "Creio no Espírito Santo, que procede do Pai...". Todavia a partir de fins do século VI, a Igreja na Espanha propagou a fórmula: que procede do pai e do Filho (Filioque). Pouco depois um Concílio irregular reunido em Constantinopla em 867 "depôs" o Papa Nicolau I, que morreu naquele mesmo ano, dez dias depois que o Patriarca Fócio também fora destituído por uma revolução palaciana em Constantinopla. Inácio foi então recolocado na Sé patriarcal. Em 869/870 celebrou-se o oitavo Concílio Ecumênico em Constantinopla, sob a direção de três legados papais. Fócio foi excomungado e a comunhão com Roma foi restabelecida. Todavia, em 879 Fócio assumiu a Sé de Constantinopla. Reuniu um sínodo nesta cidade em 879/80, que rejeitou o de 869/70 e hostilizou os latinos (os gregos consideram este o oitavo Concílio Ecumênico). Fócio morreu num mosteiro em 897. Os Patriarcas seguintes restauraram e confirmaram a união com Roma, a qual, porém, estava gravemente abalada após tantas discórdias.

A cisão definitiva em 1054

O século X foi marcado pela ascensão do sacro Império Romano Romano Germânico com a dinastia dos Otos (962)  o que muito irritou os bizantinos, que viam nesse fato a renovação do gesto de 800 (coroação do Imperador Carlos Magno). As relações com Roma eram frias e bastaria um pequeno incidente para reavivar as acusações feitas no passado. Isto, de fato, aconteceu em 1014: o Papa Bento VIII introduziu o Filióque no canto da Igreja Romana a pedido do Imperador Henrique II. O Patriarca bizantino Sérgio II reagiu propagando os escritos de Fócio sobre o assunto. Em 1043 tornou-se Patriarca de Constantinopla Miguel Cerulário, homem ambicioso, que deu livre curso à paixão anti-romana; em 1053 ele mandou fechar as igrejas dos latinos em Constantinopla e confiscou os mosteiros destes. Acusava-os principalmente de usar pão ázimo na Eucaristia. Um dos funcionários imperiais parece ter calcado aos pés as hóstias dos "azimitas' como não consagradas. Estes fatos causaram grande agitação no Ocidente. O Cardeal Humberto da Silva Cândido, homem erudito e talentoso, escreveu um "Diálogo", onde refutava as objeções dos gregos e os acusava de  Macedonismo (por não aceitarem o Filioque).

 

Todavia o imperador bizantino Constantino IX desejava boas relações com o Papa Leão IX para que este o ajudasse a combater os normandos, que devastavam as possessões bizantinas na Itália Meridional. Em resposta a uma carta do imperador, Leão IX enviou uma legação a Constantinopla em 1054, composta pelo Cardeal Humberto da Silva Cândido e por dois outros prelados. O imperador mandou queimar um libelo acusatório anti-romano para favorecer o diálogo. Mas Miguel Cerulário se mostrou intransigente e chegou a proibir os ocidentais de celebrar missa em Constantinopla. À vista disto, os legados romanos reagiram com o recurso extremo: aos 16/07/1054, na presença de clero e do povo depositaram sobre o altar-mor da basílica de Santa Sofia em Constantinopla uma Bula de excomunhão contra Cerulário e seus seguidores. Despediram-se do imperador e tomaram o caminho de volta para Roma. Os legados papais julgavam que, diante deste gesto, o patriarca retrocederia. Em vão, porém. Miguel Cerulário excitou tumulto em Constantinopla contra o imperador acusando-o de cumplicidade com os romanos.

O Imperador Constantino IX reagiu violentamente contra os revoltosos. Num Sínodo o patriarca pronunciou o anátema sobre o papa e seus legados e promulgou um manifesto que considerava os demais bispos do oriente a se lhe associarem. Na verdade, o proceder de Cerulário foi em breve imitado por outros bispos orientais e pelos povos evangelizados por Bizâncio (sérvios, búlgaros, rumenos, russos), acarretando a grande divisão que até hoje perdura apesar das tentativas de reatamento que se deram nos séculos XIII e XV. Quanto a Cerulário, levou sua paixão ao ponto de reivindicar para si as insígnias imperiais, por isto em 1057 foi exilado pelo Imperador Isaac I, o sucessor de Constantino IX,  e morreu no desterro em 1059.

COMO É A IGREJA ORTODOXA:

Oficialmente, adotam o nome de Igreja Católica Apostólica Ortodoxa, também chamada de grega cismática em oposição à Igreja Latina, de Roma. Para os ortodoxos foi a Igreja de Roma que rompeu com a tradição apostólica e por isso se consideram os únicos depositários da doutrina apostólica e representante da fé cristã no Oriente. Aceitam a Bíblia, e a Sagrada Tradição, como os católicos, e a sua doutrina se baseia na Sagrada Escritura, nos sete primeiros concílios ecumênicos e nas obras dos Santos Padres. Conservam os sete sacramentos deixados por Cristo e a missa sempre solene é pouco freqüente. Não usam instrumentos, inclusive o órgão, cabendo ao coral importante papel nos trabalhos litúrgicos. Não aceitam o purgatório, o primado do papa e a sua infalibilidade. Para eles o Espírito Santo procede somente do pai e não do filho. Negam o dogma da Imaculada Conceição mas têm uma excepcional veneração por Nossa Senhora e celebram a sua Assunção ao céu. É proibido o uso de imagens esculpidas mas permite-se as imagens pintadas. Veneram os santos a admitem ícones (imagens) representando Cristo, a Virgem Maria ou outro santo destacado. A liturgia é centro da vida ortodoxa, tanto para a expressão da fé como para a educação dos fiéis. Assim como na Igreja Romana, os graus da ordem são três:  diáconos, padres e bispos. A autoridade suprema regional é o Santo Sínodo Tópico formado pelos metropolitas (chefes das arquidioceses). O Patriarca Ecumênico de Constantinopla recebe o título de sua Santidade enquanto os demais patriarcas, os de sua Beatitude. Bispos, arcebispos, metropolitas e patriarcas são iguais na sucessão. Os padres podem se casar mas os bispos são escolhidos entre os solteiros.

Embora o cisma ocorresse em 858, a separação definitiva só se deu em 1054. Várias tentativas de reaproximação foram feitas posteriormente (a maior com o papa Eugênio IV, no Concílio de Florença, Século XIII) mas todas fracassaram. Mais tarde, com a queda de Constantinopla no ano de 1453, tomada pelos turcos muçulmanos, o Império Romano do Oriente (Bizâncio) deixou de existir. O Ocidente foi acusado de não socorrer seus irmãos do Oriente na luta contra os turcos e portanto a união ficou mais inviável ainda.

A igreja Ortodoxa se espalhou pelo Oriente, se fixou na Grécia, Bálcãs (Romênia, Bulgária, Iugoslávia... ) na Rússia e Finlândia entre outros países. Teve um papel importante na Rússia, durante o regime imperial, até 1917. Hoje os principais patriarcados são os de Istambul (antiga Constantinopla) na Turquia, Alexandria (Egito), Jerusalém, e Antioquia (na Síria). Os ortodoxos espalharam sua fé até lugares distantes como Austrália, Japão, Estados Unidos e no Brasil, onde se encontram mais na região sul do país.