Na Idade Média Baixa surgiram as grandes Ordens Religiosas preocupadas com a pobreza e que muito contribuíram para o crescimento espiritual da Igreja. Seus fundadores foram grandes homens que souberam manter-se fiéis à Igreja, embora não hesitassem em combater o seu luxo na época.

Vejamos a seguir algumas dessas Ordens:

1) A PATÁRIA

Patária ( do milânes patta = trapo, donde pattari = trapeiros) teve origem na segunda metade do século XI na Lombardia, especialmente em Milão. Congregava o povo simples contra a riqueza do alto clero a ela aparentado. Apregoavam pobreza, tendo em vista especialmente a simonia e o matrimônio dos clérigos, males freqüentes na Lombardia. Entre os chefes do movimento pátaro, destaca-se Anselmo, Bispo de Lucca, que foi eleito Papa Alexandre II ( 1061-1073 ), precedendo a S. Gregório VII na luta contra as investiduras.

2) As Ordens Mendicantes

As nobres aspirações à pobreza dentro da Igreja não haviam de perecer por completo no fanatismo e na agressividade. Para salvá-las, Deus quis suscitar no início do século XII os fundadores das Ordens ditas "Mendicantes" (porque viviam, em grande parte, de esmolas), também eles pregadores ambulantes, mas integrados dentro da Santa Igreja. Estes deram origem a famílias que, entre outras, apresentavam as seguintes notas:

1) O culto da pobreza não era só individual, mas também comunitário. Os irmãos viviam de

trabalho manual ou de esmolas e eram provavelmente todos leigos de início.

2)  Para tornar mais eficaz a sua pregação, renunciaram a habitar em montes ou vales retraídos, como os antigos monges, a fim de estabelecer-se em centros populosos, renunciavam também à estabilidade no mesmo lugar, que os antigos monges praticavam;

3)  Constituíram as chamadas "Ordens Terceiras"( a primeira era a dos frades, a segunda, a das freiras) que se abriam às pessoas casadas, proporcionando-lhes algo da vida regular; no mundo obrigavam-se a observar normas de oração e práticas de penitência e caridade. Ainda existem essas Ordens, que podem contar entre os seus membros São Luís , rei da França, S. Elizabete da Turíngia, S. Catarina de Sena, etc... Entre os Terciários inscreveram-se no fim do século XIII pessoas solteiras, que renunciavam à propriedade e viviam em comum; do que resultaram novas Ordens, ditas "dos Terciários Regulares".

3) Os Franciscanos.

São Francisco, "um dos Santos que abalaram o mundo", nasceu em Assis ( 1181 ) . Até os 23 anos de idade levou vida leviana, à procura da glória do mundo; queria ser cavaleiro, como era freqüente na Idade Média. Todavia um período de cativeiro e uma doença grave contribuíram para que se convertesse totalmente para Deus. Passou a ser cavaleiro da pobreza, que amava as aventuras heróicas. A partir de 1204, pôs-se a levar a vida de penitência e oração, tratando de pobres e doentes e reerguendo capelas caídas na região de Assis. Juntaram-se-lhe doze companheiros, com os quais foi a Roma pedir ao Papa Inocêncio III a licença de pregar - o que lhe foi concedido, contanto que se limitasse à pregação de penitência. Em 1214 quis ir para o Marrocos evangelizar os muçulmanos, mas só chegou até a Espanha. Em 12/9/1220, foi ao Egito com a intenção de converter o sultão. Durante esta sua ausência, os irmãos já começavam a disputar entre si a possibilidade de realizar o ideal de Francisco. Este teve que conceder mitigações do seu projeto de vida, o que lhe foi muito custoso. Por isso abandonou o governo da Ordem em 1221. Em 1223 o Papa Honório III aprovou a terceira e última redação da Regra de S. Francisco. Em sua simplicidade, Francisco rejeitava os estudos; queria que os irmãos rezassem mais do que estudassem. Todavia estes pediam licença para utilizar livros e estudar, já que deviam preparar-se para a pregação; tal desejo era vivo especialmente entre aqueles que, vindo das Universidades, se agregavam a Francisco. Finalmente aos 14/09/1224, Francisco já enfermo, recebeu os estigmas do Senhor Jesus, vindo a falecer aos 03/10/1226.

A Ordem difundiu-se com uma rapidez extraordinária. No Capítulo Geral, de 1282 em Estrasburgo, já contava 1853 fundações em 34 províncias. A sua principal tarefa tornou-se a pastoral e as missões. Embora o fundador tivesse rejeitado os estudos, os seus discípulos adquiriram méritos nas universidades. O conflito, porém, entre o ideal da pobreza e a realidade, que se iniciou quando vivia S. Francisco, desdobrou-se em longos litígios sobre a pobreza.

4) A Ordem dos Pregadores Dominicanos.

São Domingos nasceu em Caleruega ( Espanha ) no ano de 1170. Fez-se cônego regular agostiniano, bem formado em Teologia. Por este último atributo, muito diferia de Francisco; Domingos conhecia os erros doutrinários ( especialmente os dos cátaros ) de seu tempo e quis opor-lhes uma barreira, utilizando seu senso organizador e prático. Francisco, ao contrário, possuía um alma de poeta, que queria dirigir-se aos corações, ao passo que Domingos visava às inteligências.

Em 1215, Domingos fundou em Toulouse ( França ), onde mais forte era a heresia dos cátaros, a primeira célula de sua futura ordem. Constava de um grupo de pregadores que, após boa preparação teológica e ascética, se dedicariam à pregação. Domingos foi à Roma pedir a aprovação do seu Instituto, recebeu-a de Inocêncio III, em 1215, sob a condição de que adotasse uma das Regras já existentes, pois já eram muitas as Regras Religiosas existentes na época. O fundador escolheu à de S. Agostinho.

A Ordem Dominicana ou dos Frades Pregadores foi declarada "Mendicante" em 1220 pelo seu primeiro Capítulo Geral; todavia a prática da pobreza era aí mais branda do que entre os franciscanos - o que preservou a Ordem dos litígios que agitaram os discípulos de S. Francisco .

São Domingos morreu em 1221, deixando uma instituição que logo se propagou até a Escócia e a Síria. O Papa Gregório IX confiou-lhe a Inquisição contra as heresias.

5) Os Carmelitas.

Devem a sua origem a um cruzado, Bertoldo da Calábria ( + 1195), que em 1156 se retirou com dez companheiros para a gruta do profeta Elias no Monte Carmelo ( Palestina ) , a fim de levar uma vida eremítica. O Patriarca Alberto de Jerusalém deu-lhes uma regra de vida estritamente contemplativa, que o Papa Honório III, confirmou em 1226. Em 1238 os carmelitas, repelidos pelo Islã, estabeleceram-se em grande parte, no Ocidente, onde trocaram a vida eremítica pela cenobítica, segundo o modelo dos Mendicantes,

Mais tarde, no século XVI, São João da Cruz e Santa Teresa de Ávila irão empreender a reforma do Carmelo, transformando a Ordem no seu tempo cujos benefícios para a Igreja serão grandes.

6) Os Eremitas de S. Agostinho.

Sob a Regra de S. Agostinho, originaram-se na Itália dos séculos XII e XIII diversas Congregações de Eremitas. O Papa Alexandre IV, em 1256 resolveu fundir todas essas famílias religiosas na Ordem dos Eremitas de S. Agostinho, que se difundiu por diversos países e, nos séculos XIV-XVI, se distinguiram pelo estudo das obras de S. Agostinho.

Paralelamente ao ramo masculino, desenvolvia-se em cada Ordem antiga e medieval um ramo feminino, que se submetia à mesma regra: era a Ordem Segunda dos Franciscanos (Clarissas), dos Dominicanos, dos Carmelitas, dos Agostinianos etc...