Agora nós vamos entrar numa das fases mais dolorosas da História da Igreja e veremos muito claramente que a Igreja subsiste porque é a força de Deus que a sustenta.

 

Vimos que a permanência do Papado em Avinhão foi um grande mal para a cristandade pois os reis franceses sempre procuraram influenciar no papado. Enquanto isso o Estado Pontifício sofria desordens de toda a espécie assim somo toda a Itália. No ano de 1362, foi eleito em Avinhão o Papa Urbano V, homem piedoso, amigo da reforma que hoje é venerado com Bem Aventurado. As mais respeitáveis personalidades da época, entre elas Francisco Petrarca, o poeta italiano, lhe pedem que volte a Roma. Também a Rainha Brígida da Suécia (hoje, Santa Brígida) implora ao pontífice pessoalmente, rogando-lhe que retorne à Cidade Eterna e ajude a restabelecer a ordem na Itália. Também Carlos IV, imperador da Alemanha lhe pede que retorne à Roma, mas este a principio fica indeciso temendo pressões dos cardeais franceses e do rei da França. Já se faziam setenta anos que o Papado estava sediado em Avinhão, um período comparado ao cativeiro dos judeus em Babilônia. Toda a cristandade tinha consciência que a Cúria Romana estava sob o domínio dos interesses dos reis franceses. Contudo, em 30 de abril de 1367, o Papa Urbano V deixou Avinhão, apesar dos protestos do rei da França e se dirigiu à Roma, onde chega no dia 3 de junho e é recebido com grande alegria por uma multidão incontável de fiéis. Desde a morte de Bonifácio VIII que nenhum pontífice tinha ido rezar no túmulo de São Pedro. A festa é tão grande que o papa recebe em Roma duas grandes personalidades  que lhe vêem render homenagens: o Imperador Carlos IV, da Alemanha e a imperatriz de Bizâncio, representando o esposo, o imperador. Parecia que o exílio havia finalmente acabado.

 

Todavia as lutas continuam em toda a Itália. O Rei Luís, da Hungria, oferece um exército de 10.000 homens para defender o papa e restaurar a ordem na Itália, mas Urbano V recusa a oferta, pois isso seria favorecer a guerra. O piedoso Rei Luís, da Hungria, como bom cristão, haveria de compreender a recusa. Para piorar as coisas a França e a Inglaterra se envolvem numa luta que seria depois conhecida como a "Guerra dos Cem Anos". Diante de tais circunstâncias, os cardeais franceses convencem o papa de que era mais seguro estar em Avinhão do que em Roma. Portanto, seria melhor que ele voltasse. Finalmente o papa, já sem forças por causa de uma enfermidade, acaba cedendo e no dia 5 de setembro de 1370 retoma o caminho do exílio em direção a Avinhão. É recebido com festa pela população de Avinhão, mas não pode esquecer os fiéis que ficaram em Roma lamentando a sua saída. O pontífice não resiste e três meses depois, em dezembro de 1370 veio a falecer. Quinhentos anos depois seria declarado Bem-Aventurado pela Igreja.

 

O sucessor de Urbano V foi Gregório XI, grande jurista e muito piedoso. Seu pontificado durou oito anos entre 1370 e 1378. As desordens continuavam assolando o Estado Pontifício e toda a Itália, onde o povo estava descontente com a administração estrangeira. A poderosa república de Florença explorava a insatisfação de seus súditos contra o papa. Gregório XI, agindo com energia, lançou a excomunhão e o Interdito sobre Florença. Foi então que entrou em cena uma mulher humilde, mas de profunda santidade. Era Santa Catarina de Sena, que com apenas 17 anosa de idade tinha entrado na Ordem Terceira de São Domingos. Agora era uma religiosa e decidiu se empenhar pela restauração da ordem na Igreja e no Estado Pontíficio. Em 1376 ela compareceu pessoalmente à presença do Santo Padre em Avinhão dizendo-lhe com toda franqueza que sentia na sua corte o odor vicioso do inferno. Ela então suplica ao pontífice que retorne a Roma pelo bem da Igreja. Mesmo tendo pouca instrução, Catarina de Sena, que mal sabia escrever, dita cartas ardentes aos reis e príncipes de toda a Europa para que tenham paciência com o Papado.

 

Gregório XI fica indeciso e também perturbado. Todavia no final do ano de 1376 começa a se mobilizar de Avinhão para Roma. No dia 17 de janeiro de 1377 o papa chega a Roma onde é novamente recebido festivamente pelos fiéis e aclamado com júbilo por toda a população. A residência dos papa deixa de ser o Latrão e passa a ser o Vaticano. Santa Catarina de Sena alertara Gregório XI que se ele não retornasse haveria o risco de os romanos elegerem outro papa e surgir um cisma na Igreja. Ele a ouviu e retornou, mas o cisma que a religiosa tentou evitar viria logo em seguida. O espírito pernicioso de Avinhão acompanhou a Cúria Pontifícia para Roma. As lutas internas da Itália e agitação ainda persistiram por algum tempo depois da volta do papa. E foi nesse clima que Gregório XI morreu em 1378, tendo sido o último papa francês. Contudo, entrou para a história como o papa que pôs termo ao exílio de Avinhão e transferir o Papado para Roma.