Em 7 de abril de 1378, os cardeais reunidos em conclave para eleger o novo papa eram 11 franceses , 4 italianos e 1 espanhol. Os franceses embora fossem maioria não estavam de acordo entre si para a escolha do papa. O povo romano exercia pressão para o novo papa fosse romano ou pelo menos italiano. A cristandade cansada dos excessos de Avinhão, não queria mais um papa francês. Na manhã do dia 8 de abril, foi eleito não um papa francês e nem um romano, mas um italiano de Nápoles: o arcebispo Bartolomeu Prignano com o nome Urbano VI ( 1378 - 1389).

 

Os cardeais com medo da reação dos romanos por não ter sido escolhido um romano para a cátedra se São Pedro, acharam prudente não revelar de imediato o resultado da eleição. Decidiram então pedir ao ancião, Cardeal Tibaleschi que se deixasse revestir das insígnias papais e se apresentasse ao povo como o novo papa. A contragosto ele concordou e foi bem aceito pelo povo. Contudo, foi o próprio Cardeal Tibaldeschi quem recuou e encarregou de dissipar o erro. Depois de explicar ao povo os temores acerca da escolha., os romanos deram-se por satisfeitos com a escolha de um cardeal napolitano para o trono pontifício. Dessa forma, os cardeais afirmaram solenemente no dia seguinte, 9 de abril de 1378 a Urbano VI que ele era o papa legítimo e o empossaram no dia 10 de abril.

 

A princípio pensava-se que Urbano VI, homem austero e experiente jurista, fosse sanear os males da Cristandade. Faltou-lhe, porém, paciência e moderação. O papa passou a censurar intempestivamente os costumes dos cardeais. Santa Catarina de Sena pedia-lhe moderação e calma. Irritados com os constantes atritos com Urbano VI, treze cardeais se reuniram se Anagni e declararam inválida a sua escolha para a cátedra papal, alegando que a escolha foi realizada sob pressão popular. A seguir, sob a tutela da Rainha Joana I de Nápoles e de Carlos V da França, escolheram o Cardeal Roberto de Genebra como novo papa com o nome de Clemente VII. Este era primo de Carlos V da França. Depois de uma luta armada pela posse de Roma a fim de coroarem Clemente VII no lugar de Urbano VI, os insurgentes recuaram e Clemente VII retirou-se para Avinhão onde estabeleceu sua Cúria com novos cardeais. A ele aderiram a França, Nápoles  ( que era ligada a França  por laços dinásticos ) a Sicília, a Espanha , a Escócia, pequenas partes da Alemanha, a Dinamarca e a Noruega. Ao legítimo papa, Urbano VI ficaram fiéis a Itália, a maior parte da Alemanha, a Inglaterra ( que era na época inimiga da França ), a Hungria e a Suécia. Urbano VI excomungou o antipapa Clemente VII e este por sua vez excomungou o legítimo papa, Urbano VI. Estava aberto, desta forma, o grande Cisma Ocidental, que duraria cerca de quarenta anos ( 1378 - 1417 ) e causou enormes danos à Igreja.

 

A opinião pública estava confusa, as pessoas não sabiam distinguir o papa legítimo . Essa confusão se deu até entre os santos da época: Santa Catarina de Sena defendia Urbano VI, o legítimo, enquanto do lado de Clemente VII, o antipapa, se colocaram São Vicente Ferrer e o Bem Aventurado Pedro de Luxemburgo. Isso tudo fazia diminuir o respeito pelo papa e ainda mais lançava-se dúvidas sobre a necessidade do Papado. Esse atrito entre os dois pontífices , o falso e o verdadeiro enfraquecia a Igreja e a fortalecia a autoridade dos monarcas europeus.

 

 

A confusão despertava na população a crendice de que o fim do mundo estava próximo e que provavelmente seria na virada de 1399 para o ano 1400. Por causa disso grandes grupos de penitentes se puseram em marcha em direção a Roma oriundos da Inglaterra, Espanha, França e de outros lugares. Lá, essa gente amedrontada e  desamparada, sentia-se atraída para a oração na cidade santificada pelo sangue dos mártires e onde estavam os túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo. Multidões de fiéis se dirigiam a Roma  para fazer penitências e orações em favor da Igreja.

 

Toda a cristandade queria uma solução. E ela veio à tona, com muita pujança, através da Teoria Conciliar, apregoada por Guiilherme de Occam, o famoso teólogo franciscano e Marsílio de Pádua, outro teólogo franciscano. Ambos foram apoiados pela Universidade de Paris ( grande potência da época ) no sentido de que se deveria convocar um Concílio para julgar o caso. Se fosse preciso se deporia o papa. A Igreja deixaria de ser uma monarquia sagrada e instituída por Cristo e passaria a ser uma república fundada sobre os arbítrio dos homens., Essa era a sugestão por eles apresentada.

 

O Papa Urbano VI morreu em 1389 deixando para trás um sério problema causado pela sua intransigência. Até mesmo seus partidários haviam se incompatibilizado com ele. A Igreja ficava com dois papas: um legítimo na sede pontifícia de Roma e o outro , antipapa, em Avinhão.

 

Depois da morte de Urbano VI, sucederam-lhe na cátedra de São Pedro, em Roma, os papas legítimos Bonifácio IX ( 1389 - 1404). Inocêncio VII ( 1404 - 1405 ) e Gregório XII (1405-1415)  Todos legítimos.

 

Enquanto isso, em Avinhão, o antipapa Clemente VII eleito em 1378 veio a falecer em 1394. Seu sucessor foi o também antipapa Bento XIII ( 1394 - 1423 )

 

Durante essa confusão de pontífices várias tentativas de reatamento dos dois lados foi tentada, mas todas fracassaram. Durante o pontificado do legítimo Papa Gregório XII deu-se um fato novo. Durante o conclave que o elegeu, ele rezou em silêncio e prometeu que se fosse eleito tudo faria para unir de novo a Cristandade. Logo que foi eleito procurou entrar em contato com o antipapa Bento XIII e combinaram encontrarem-se em Savona, perto de Veneza, para tratar da reconciliação. A notícia desse encontro causou grande alegria nos cristãos. Mas foi efêmera, pois não se realizou. Pessoas poderosas decididas a manterem, os cristão divididos ( entre elas o Rei Ladislau, de Nápoles ) tudo fizeram para impedir o encontro dos dois. O Papa Gregório XII só conseguiu chegar até Lucca, enquanto o antipapa Bento XIII desceu pela Itália, abaixo de Savona, mas só chegou até Porto Venere. Os dois não conseguiram se encontrar e a possibilidade de uma união se dissipou.

 

Os cardeais romanos se irritaram com a instabilidade de Gregório XII e deixaram de apoiar suas iniciativas. Enquanto isso em Avinhão, o antipapa Bento XIII ficava em má situação pois a França deixou de apoiá-lo. No meio dessa confusão, todos os cardeais resolveram convocar um Concílio Ecumênico para Pisa em 25 de março de 1409 e convocaram a ele tanto o papa como o antipapa. Todavia nenhum deles aceitou o convite.

 

Este Concílio Ecumênico de Pisa durou de março a julho de 1409. Apesar de se declarar canônico, era irregular, pois não havia aprovação do autêntico papa, Gregório XII. O Concílio reunido declarou cismáticos e heréticos tanto o papa como o antipapa e declarou depostos a ambos: o verdadeiro papa, Gregório XII, e o antipapa Bento XIII.

 

E no meio dessa confusão toda, eles fizeram o pior: procedendo a uma nova eleição e escolheram um segundo antipapa: o Cardeal Pedro Philarghi, de Milão, que tomou o nome de Alexandre V. Embora fosse reunido com a boa intenção de resolver a crise na Igreja e reunir os cristãos, o Concílio de Pisa não só fracassou nesse sentido como ainda agravou ainda mais a situação: a Igreja tinha agora três pontífices: Gregório XII, o legítimo em Roma, Bento XIII, o antipapa de Avinhão e agora o segundo antipapa Alexandre V que se estabeleceu em Bolonha.

 

A Gregório XII permaneceram fiéis a maioria dos cristãos e os reis de Nápoles, Alemanha e da Itália Meridional. Ao antipapa Bento XIII de Avinhão ficaram fiéis apenas a Espanha, Portugal e a Escócia ( nem a França o apoiava mais ), enquanto ao novo antipapa Alexandre V ficaram fiéis a França e a Inglaterra, embora nessa época inimigas entre si por causa da Guerra dos Cem Anos.

 

O segundo antipapa, Alexandre V de Bolonha, morreu no ano seguinte, 1410. Seu pontificado durara apenas um ano. Para seu lugar foi escolhido outro antipapa que tomou o nome de João XXIII ( 1410 - 1415 ) homem inteligente e ambicioso que julgava ser ele o papa legítimo. Só que foi justamente este antipapa que acabou sendo o instrumento da Providência Divina para restaurar as coisas em seus lugares dentro da Igreja através de um acontecimento de grande importância para os cristãos. O fato se deu da seguinte maneira: o Imperador Sigismundo , da Alemanha e do Sacro Império, homem de grande capacidade e de grande amor à Igreja, decidiu pedir ao antipapa João XXIII que convocasse um novo Concílio para Constança, na Alemanha, a fim de se resolver de uma vez por todas a confusão estabelecida com três papas. O antipapa João XXIII o convocou porque precisava do apoio de Sigismundo e esperava obtê-lo. Esse Concílio começou irregular pois fora aberto por um antipapa. Contudo, naquela confusão acabaram comparecendo grande número de prelados. o Concílio foi aberto em 1414 e durou quatro anos até 1418.

 

O Concílio de Constança acabou decepcionando o antipapa João XXIII que o convocara porque os padres conciliares ali presentes pediram tanto ao papa como aos dois antipapas que   renunciassem, a fim de escolherem um papa somente.  O antipapa João XXIII, bastante magoado, resolveu retirar-se secretamente do Concílio de Constança e por isso foi declarado como deposto. Era deposto por um Concílio irregular que ele mesmo convocara.

 

No ano seguinte, o legítimo papa, Gregório XII, com quase noventa anos de idade, no dia 4 de julho de 1415, faz saber aos padres conciliares de Constança que ele os convocava apara aquele concílio e com isso dava legitimidade ao mesmo. Gregório XII foi mais além: renunciou, deixando a sede papal vacante para que se escolhesse apenas um pontífice, Os padres conciliares aceitaram a renúncia e os ditos "conciliares" não protestaram. Foi a ação do Espírito Santo no meio de tanta confusão na Igreja. O papa eleito seria legítimo pois a sede papal estava vacante e o concílio, agora legitimado, era um órgão juridicamente habilitado para eleger um papa. Havia ainda a questão dos antipapas, João XXIII que depois de fugir não foi mais considerado e por isso mesmo foi esquecido. O outro antipapa, Bento XIII recusou-se a renunciar para facilitar a unidade da Igreja e por isso foi deposto pelo Concílio. Reagiu não reconheceu a sentença e manteve-se como antipapa. Teve de fugir de Avinhão e refugiou-se na fortaleza de Peniscola, perto de Valência, na Espanha.

 

No dia 11 de novembro de 1417, três anos após ser aberto o Concílio de Constança, os padres conciliares ali reunidos escolheram o, Cardeal Odo de Colonna como o novo papa da Igreja com nome de Martinho V (1417-1431). Imenso foi o júbilo de toda a Cristandade pelo restabelecimento da paz e da legalidade dentro da Igreja. Poucos anos depois, o antipapa Bento XIII, que se refugiara na Espanha, veio a falecer em 23 de maio de 1423. estava terminado o Cisma do Ocidente que a Providência Divina resolvera, acabando uma situação da angústia e perplexidade até mesmo para santos e doutores da época. Foi, talvez, a pior fase da História da Igreja.