Caríssimos irmãos. Estamos encerrando o tempo Pascal com esta solenidade de Pentecostes.

A festa do Espírito Santo, terceira pessoa da SS. Trindade.

O profeta Ezequiel (cap. 37), teve uma grande visão: Encontrava-se no meio de um vale silencioso e sem vida, repleto de ossos, de cadáveres. O Senhor tomou-o pela mão e caminhou com ele por entre os esqueletos e disse-lhe: "Filho do homem, porventura tornarão a viver estes ossos?". Ezequiel respondeu: "Senhor, tu o sabes". Invoca sobre eles o Espírito e tornarão a viver."  O profeta obedeceu.  - Ó Espírito - disse ele - vem dos quatro ventos e sopra sobre estes ossos para que revivam!"

Enquanto ainda falava, ouviu-se um ruído nos céus, depois como que um terremoto que se aproximasse, depois um vento impetuoso. A esse sopro, os ossos dos mortos, partidos  e secos, reuniram-se, se revestiram de carne, ergueram-se em pé como um imenso exército.

"Estes ossos - disse então o Senhor - receberam o meu Espírito, e agora formam a casa de Israel".

Meus irmãos, nesta visão está figurado o mistério de Pentecostes que hoje celebramos. Antes da descida do E.S., a terra se assemelhava ao vale árido e morto da visão de Ezequiel. Todos os homens afastados de Deus pelo pecado original e pelos pecados pessoais, eram ossos árido e secos.

Mas veio o E.S. Passados dez dias da Ascenção de Jesus ao céu, enquanto os apóstolos se encontravam com Maria no cenáculo, rezando. Fechados em casa porque temiam aqueles que mataram Jesus, "de repente veio do céu um ruído, como de um vento impetuoso, que encheu toda a casa em que estavam sentados. E viram, então, uma espécie de línguas de fogo, que se repartiram e foram pousar sobre cada um deles. Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas" (At 2).

Nesse momento nasceu a Igreja. Nesse momento os homens, ossos secos e insepultos, uniram-se no vínculo da comunhão dos santos. Cada um sentia-se animado de uma vida nova: a vida da graça. Vindo à terra, o E. S. fez de cada homem um templo de Deus e um filho de Deus.

 

Templos de Deus

Nós também recebemos o E. S. no nosso batismo. E se não pecamos mortalmente, ele permanece em nós. Portanto, nós também somos templos de Deus. Nós também somos filhos de Deus.

S. Paulo, em vários momentos nos recorda: "Não sabeis que vosso corpo é templo do Espírito Santo, que está em vós" (1Cor 6, 19). "O Espírito de Deus habita em vós" (1Cor 3, 16); "Glorificai, pois, a Deus em vosso corpo" (1Cor 6, 20).

Portanto, quem recebeu o E. S. traz Deus dentro de si. Trazemos Deus na nossa alma.

Leônidas, pai de Orígenes, curvava-se sobre o berço onde repousava seu filho, e beijava-o no coração, adorando. As pessoas ficavam admiradas. E ele dizia: "Não vos admireis! Eu adoro a Deus presente no coração deste pequeno batizado".

 

Filhos de Deus

Luisa de França, filha de Luis XIV, num ímpeto de ira disse um dia à sua governanta: Esqueceis porventura que eu sou filha do vosso Rei?" e a governante respondeu: "E vós esqueceis que eu sou filha do vosso Deus?"

Esta é a grande dignidade que conquistamos com a vida do E. S. Tornamo-nos filhos de Deus. Não apenas no nome, mas também na realidade; porque o E. S. não se contenta com habitar dentro de nós como num templo a ele consagrado, porém transforma a nossa alma, embeleza, diviniza. Comunica-nos algo da sua natureza: "participantes da natureza divina" (2 Pd 1, 4).

Assim como o filho se assemelha ao seu Pai, assim também, por meio da graça que o E. S. difunde nos nossos corações, nós nos tronamos semelhantes a Deus. É por isso que rezamos: Pai nosso que estais nos céus...

Pensando nisso é que S. João disse com tanto entusiasmo: "Filhinhos! Desde agora somos filhos de Deus. Vede com que amor o Pai nos amou, dando-nos não só o direito de sermos chamados, mas de sermos realmente filhos de Deus".

Nós sustentamos, às vezes, com tanta soberba os títulos que o mundo nos confere: Excia., Dr., Majestade, etc. E nós, que somos filhos de Deus, não sabemos apreciar a nossa dignidade. "Ó homem! Reconhece a tua grandeza.!" Homo, agnosce dignitatem tuam. (S. Leão).

Vocês se lembram da história de Esaú e Jacó? Filhos de Isaac. Esaú trocou a primogenitura por um prato de lentilhas.

Nós somos piores, às vezes. Renunciamos a ser filhos de Deus, por menos ainda que um prato de lentilhas. Pelo prazer de um hora; por uma paixão; por trinta moedas...

 

No evangelho, o E. S. aparece representado por três sinais: sob a aparência de nuvem na transfiguração, no Tabor; sob a aparência de pomba no batismo, no Jordão; sob a aparência de fogo no cenáculo.

 

O primeiro, a nuvem, nos ensina como o E. S. vem a nós: nas águas do batismo.

O segundo sinal, a pomba branca, nos ensina como o E. S. permanece em nós. Pela brancura de uma vida pura. Sem pecados.

O Último sinal - o fogo - ensina-nos como o E. S. volta a nós mediante o amor de Deus que é como fogo que queima e purifica.

 

Vem, ó Santo Espírito, e tornai a consagrar-me templo de Deus.

Vem, ó Espírito Santo, e tornai a fazer-me filho de Deus.

 

Que alegria poder rezar hoje assim: "Vem Espírito Santo, envia do céu um raio da tua luz, para que possamos sempre louvar-te e agradecer-te. Permanece conosco, conforta-nos com o teu poder, aquece-nos com o fogo do teu amor".