Esta a mais bela definição e a mais completa revelação de Deus. O apóstolo João não faz outra coisa no seu Evangelho e nas suas carta do que nos lembrar disso: Deus é amor, também nós devemos ser amor, devemos "amar-nos uns aos outros".

Qual a idéia que fazemos geralmente de Deus? Como o pensamos? Como o sentimos? Quantas vezes fazemos uma idéia pequena e limitada de Deus? Quantas vezes o sentimos distante, como se não pensasse em nós, como se tivesse se esquecido de nós?

Mas Deus é amor! Sempre, somente, unicamente e infinitamente amor, por cada um de nós, por todas as suas criaturas, como cantava S. Francisco.

Essa verdade deve nos trazer serenidade, alegria, em cada situação de nossa vida. Os santos foram capazes de uma fidelidade alegre, mesmo nos momentos mais difíceis.

No domingo passado ouvimos a alegoria da vinha. Jesus é a verdadeira vinha, da qual o Pai cuida em pessoa, arrancando os ramos secos, podando os produtivos: ou seja, podando os discípulos, e todos que aceitaram a palavra vivificante de Jesus. Nós somos convidados, incentivados a viver em Jesus, a permanecer nele. (A palavra grega para "permanecer", ménõ, ocorre 11 vezes neste trecho do Evangelho). Permanecer. E outra palavra importantíssima aqui neste trecho é "Amor" (9x). O Evangelho de hoje é continuação do de Domingo passado. Assim como o verbo "permanecer" é a palavra essencial nos versículos 1-8, "amor" é a palavra essencial nos versículos de 9-17, pois ambas concluem esta pequena passagem com "permaneça" e "ameis uns aos outros" dos vv. 16-17. Assim, o ensinamento central dessa alegoria é claro. Permanecer em Jesus por meio do amor. Se isso acontece, quando acontece, o discípulo produz fruto (vv.5-8). Quando não acontece, o discípulo não é, na verdade, discípulo, mas só presta para ser queimado (v.6).

O amor de que Jesus fala é um, mas também muitos. Começa com o amor do Pai por Cristo, passa para o amor de Jesus pelos discípulos, é retribuído na obediência amorosa dos discípulos a Cristo e resplandece no amor de uns pelos outros. É esse amor que será a fonte de sua alegria e a condição essencial de sua amizade intima com o Senhor. O modelo de amor para todo verdadeiro discipulado é extremo, sem limites; pois é o próprio Jesus que se despoja da vida pelos amigos, como faz o bom pastor. Contudo, é precisamente por um amor como esse que Jesus os escolheu. Eles produzirão fruto duradouro, suas orações serão atendidas desde que se amem uns aos outros (vv.16-17).

Esta constatação abre a nossa vida para o amor. Somos chamados a viver o amor, como nos ensinou Jesus com toda a sua vida, com o seu mandamento novo.

Às vezes achamos que fazemos muitas coisas pelo Senhor. Vamos a missa, rezamos, praticamos boas ações... Praticamos e vivemos a religião com um conjunto de coisas que nós fazemos para o Senhor (como se Ele tivesse necessidade das nossas coisas). A religião não é aquilo que nós fazemos pelo Senhor, mas tudo aquilo que Ele fez, faz e fará por nós, pela humanidade, pelo universo todo.

As passagens da palavra de Deus mostram isso com muita clareza:

"Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho...".

"Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça".

Devemos nos lembrar sempre que Deus é amor: no seu amor nos escolheu, nos fez seus, nos fez participante da sua obra de amor, da sua missão de salvação. O Senhor pensou em mim, me escolheu, me chamou e me enviou.

Desta tomada de consciência deve nascer o desejo imediato de "permanecer no seu amor", de observar os seus mandamentos, de amar-nos uns aos outros, como Jesus nos amou.

Às vezes sabemos de tudo isso na teoria. Mas o amor deve ser concreto, expresso em ações: "irmãos - escreve S. João - não amemos só por palavras, mas com ações e na verdade".

Cada palavra, cada atitude, cada pensamento, cada ação pode ser um verdadeiro ato de amor ou pode ser, infelizmente, um pecado contra a caridade.

Até mesmo um simples sorriso pode ser um reflexo do Deus Amor; quanto mais uma vida doada!

Nós precisamos de alegria, felicidade. O mundo precisa. Jesus nos ensina tudo isso "para que a sua alegria esteja em nós e a nossa alegria seja plena".

Queridos, só o amor transforma.

Ou a nossa comunidade, na consciência dos próprios limites, se deixa vencer pelo amor de Deus para se tornar verdadeira testemunha deste amor, ou a nossa fé se reduz a uma inútil observância.

Se o nosso coração não queimar de amor, o mundo morrerá de frio.