INTRODUÇÃO

Ao olhar a desumana sociedade pós-moderna, mergulhada até os cabelos nos vícios mais hediondos - infame prostituição infantil, descarada homossexualidade, total desprezo pela vida alheia com carros portando bombas apinhadas de gente ou tanques assassinos avançando sobre pessoas desarmadas; liquidação pura e simples de seres indefesos ainda antes de nascer; intermináveis e inúteis guerras nos cinco continentes, todos eles, por sua vez, implicados no rendoso e criminoso negócio da droga; revoltantes injustiças sociais, massacre de sem terra, de sem teto e quantos outros que nada tem e são mais um dos sem dignidade ... - poderia surgir o questionamento frente a um mundo tão caótico: é possível viver a santidade e, ainda mais, a esperança cristã é a nossa alavanca, principalmente nos pobres no Brasil?

 

Em contra partida, este mesmo mundo caótico, está em construção. Operários, médicos, cientistas, trabalhadores nas estradas, astronautas, agricultores, comerciantes, estudantes, engenheiros, donas de casa, professores, todos estão construindo o edifício do mundo. Imersos no ritmo do progresso queremos construir um mundo mais cômodo, com menos fome, com menos guerra, com mais justiça, com mais facilidades. Entregues às atividades absorventes e múltiplas muitas vezes nos cansamos e nos prostramos sem saber muito bem a razão de toda essa correria, o motivo de todos esses ruídos que enchem nossas grandes e pequenas cidades. Temos a impressão de que os homens se esqueceram de Deus. Há uma certa prática religiosa de muitos grupos cristãos, mas temos também a impressão de que mesmo estes não compreenderam muito bem o que significa a luz de Deus na vida, a vinda de Deus no humano. Torna-se necessário parar um pouco, é indispensável examinar até que o ponto estamos querendo que Deus esteja presente em nosso mundo e em nossa vida. Não adiantará muito todo esse trabalho de construção quando Deus não estiver perto de nós. Em vão trabalham os operários quando Deus não está presente. Parece que precisamos viver hoje novamente uma séria espiritualidade escatológica, de uma esperança no já e no ainda não. E neste ponto vemos mister falara nos pobres, em especial no Brasil, que são levados por euforias e muitas vezes enganados por pseudo-profetas. (...)

 

Deus torna livre o que é seu, mas é também preciso tornar-se livre. De fato, quem não se libertar, não é livre. Permanecer no mundo, tecidos no tecido humano, respirando sua mentalidade e condividindo seu modo de ser, coloca-se muitas vezes em condições de acreditar que somos livres, embora não o sejamos realmente. Assumir uma esperança cristã num mundo pós-moderno em que vivemos é um verdadeiro testemunho - martírio frente a  um mundo marcado por variadas  formas de "adivinhações" do futuro, a presença dos "Walteres Mercados, de Mães Dinahs, de Chicos Xavieres" são variadas e nosso povo pobre - ou intelectual, ou  pecuniário - é mais uma vez levado ao engano e a frustração total.

 

Suplicar insistentemente que Deus venha, que as nuvens do céu façam explodir o justo, que a terra de nossos corações seja visitada por Deus. Os caminhos para a chamada de Deus não estão preparados. As veredas não estão plainas. Os outeiros do orgulho, da auto-satisfação, da soberba não deixam Deus passar. Precisam surgir novos profetas como Isaías e como João Batista que gritem: "Preparai os caminhos do senhor". Torna-se urgente que nasçam corações como o da pequena e humilde Maria de Nazaré, donzela simples que suplicava pela vinda de Deus. Toda a humanidade deveria viver um clima de Advento, de esperança, de esperança escatológica, do "já e do ainda não" . Os homens de todas as raças e de todas as condições, pobres e ricos, poderosos e pequenos precisam levantar as mãos para o céu e suplicar: "Vinde Senhor, vinde sem tardar!"

 

A primeira consagração como cristão é a do Batismo e aí temos já o início da nossa esperança; e é, por meio do Batismo que temos todas as possibilidades para melhor assumirmos a nossa vocação e nosso estado a que fomos chamados - a santidade para todos -  uma vez que nos desígnios de Deus cada homem está chamado a desenvolver-se,  porque toda a vida é uma vocação, ou seja, porque todo o homem tem sua vocação, já que convidado pelo próprio Deus a se realizar, mas se realizar totalmente, sendo útil primeiramente a si, para ao depois, ser útil aos seus semelhantes, já que o homem sendo um animal intrinsecamente social, terá de viver em comunidade, emalhetado na sociedade não numa obrigação, mas numa livre opção para viver a comunhão, pois: "Ninguém é santo pela própria vontade, nem ninguém pode ser santo, sem que tenha vontade". Eis o primeiro traço da Esperança na vida do cristão, esperança de compromisso e compromisso numa esperança.   O nosso presente trabalho visa dar uma visão panorâmica sobre a questão da Teologia da esperança dando um foque no pobre de hoje no Brasil. Tema, deveras vasto mas que decidimos fazê-lo da seguinte maneira, haja visto todos os itens já citados: falar da Esperança que é um tema cristão e deste ver a esperança e os desesperos humanos, dando um sobrevôo sobre  o povo de Israel, a figura emblemática que é Cristo Jesus, na Igreja. Não poderíamos dar uma visão completa de esperança se não apresentássemos, mesmo que breve, uma fundamentação antropológica. E desta antropologia partimos para fé e esperança, primeiramente como um aspecto da promoção humana; por isso se fez necessário falarmos das dimensões da esperança e chegamos a uma esperança escatológica, e seu relacionamento com a oração nos abre  mais um tema. Eis aí que estruturados no que seja esperança, colocamos a nossa perspectiva a do pobre, contudo, sempre bom lembrarmos quem é o pobre, e que a pobreza rica nos enriquece sempre quando abrimos os nossos horizontes, porque é neste ponto que esclareceremos que já falamos do pobre não diretamente com este termo, mas que o pobre não é o miserável e muito menos em Deus há um exclusivismo, deste ou daquele, mas seu amor é sempre católico, universal, é direcionado a todos que se fazem pobre, principalmente numa terra sofrida por tantas escravidões, como é o nosso Brasil.  Por fim, vemos algumas perspectivas diferentes da própria Escatologia: a Católica, a Protestante, a Islâmica e a Judaica.

 

Por essa razão e com a autêntica esperança que nos move a busca constante e a luta do dia-a-dia, deixemos que o Espírito Santo, condição de possibilidade, nos faça ver e seguir de perto os passos de  Cristo Jesus, para que deste modo peculiar - no serviço e na entrega - possamos ir ao Pai.  Neste sentido guardemos o pensamento de Kahil Gilbran: "Quando amas não digas: tenho Deus no coração, e sim: estou  no coração de Deus" Uma vez que estar no coração de Deus é "permanecer" no Espírito,  pelo Filho, sob o complacente e amoroso olhar do Pai.