Antes de darmos prosseguimento com a visão escatológica é mister realçarmos, como católicos que somos, que a oração é um dos meios que nos une de forma extraordinária, isto é, todos vivos e mortos, constituímos a grande comunhão dos santos, rezamos por todos em Cristo, o Ressuscitado o Senhor da Vida, que nos dá a vida e nos sustenta, a nós que somos peregrinos a vivermos a vida com real dignidade.

 

No Catecismo da Igreja Católica encontramos de forma relacionada com as diversas dimensões da existência cristã as quatro partes principais da catequese: o símbolo, a oração, os sacramentos e o Pai Nosso. Do Pai Nosso se diz que nos ensina o que o cristão deve esperar. Pai Nosso e Esperança, Oração e Teologia da Esperança são intrinsecamente unidas, como citamos na primeira parte deste trabalho, uma vez que na oração se torna claro o que é Esperança.

 

Se compreendermos a Esperança, perceberemos o que significa orara. Sendo o Pai nosso o modelo, por excelência, da oração, essa relação entre oração e esperança está aqui como exemplar. Assim importa ocupar-nos dessa observação do Catecismo Romano, a qual parece estranhar ou, antes, arbitrária a quem a ouve pela primeira vez. Em primeiro lugar, o Pai nosso, sob o ponto de vista do seu conteúdo, se relaciona com a Esperança. Na sua Segunda parte, responde às angústias diárias do homem, encorajando-o a transformá-las pela prece em esperanças. Trata-se da subsistência, do medo diante do mal que de diversos modos nos ameaça, da paz com o próximo e com Deus, e da proteção contra o mal propriamente dito, a falta de fé que eqüivale à ausência de Esperança. Deste questionando as esperanças, voltamos à Esperança propriamente dita, ao nosso anseio pelo Paraíso, ao reino de Deus o qual se inicia a Oração. Mas o Pai nosso é mais do que uma série de súplicas plenas de esperança. É Esperança em realização. Quando o rezamos, vivemos a dinâmica do seu conteúdo, a própria Esperança. O orante é alguém que espera. Ainda não está na posse atualizada; do contrário não precisaria mais de rezar, mas sabe que há alguém que tem o poder e a bondade capazes de dar-lhe e que lhe estende os braços.

 

Fé, disponibilidade é "pistis" em grego  e é este termo que a Sagrada Escritura se utiliza, contudo pode-se, às vezes, traduzir como confiança e fidelidade. Que é o que parece significar hoje e neste nosso contexto. Um fruto do Espírito é uma qualidade da própria vida de Deus, e Deus é fiel e podemos confiar nele. A fidelidade é um aspecto do amor. Cremos realmente que Deus é fiel às suas promessas e isso nos dá sustento em nossa esperança, afinal, podemos contar com isso. Mas a experiência nos mostra que temos algum problema em confiar completamente. O problema não é que Deus é fiel, mas que nós temos dificuldades em acreditar que ele é fiel. Nossa confiança é sempre fiel e quando os outros compartilham conosco da fidelidade de Deus para com eles. Aos poucos nossos temores desaparecem.

 

Como fruto do Espírito, a fidelidade, a confiança, a esperança, cresçam quando o amor dentro de nós se torna mais profundo e mais intenso. Aprendemos como é importante que se tenha esperança em nós, que as pessoas consideram isso como uma forma de amor. Toda a imagem do Corpo de Cristo constituída de muitos indivíduos que prestam muitos serviços, nos mostra que a interdependência de todas as partes só funciona produzindo a unidade quando cada uma das partes merece confiança. não podemos ter interdependência sem esperança, sem confiança. como no caso de Deus o único meio como podemos crescer em esperança uns com outros e na própria possibilidade da comunidade cristã é se cada um de nós sentir continuamente que pode confiar no resto. O que acontece quando alguém deixa de pôr a correspondência no correio ou quando alguém  falta a um encontro muito importante? Quando o corpo se torna adulto até a estatura plena de Cristo a sua unidade se torna mais pronunciada. Esta unidade se realiza através do fruto da esperança que se traduz em confiança.

 

Orar juntos não garante que um relacionamento qualquer seja automaticamente. Visto que seja mais fácil não ser autêntico na oração do que qualquer outra coisa. A oração não é uma prova de que um relacionamento é santo, mas um modo para que o relacionamento se torne santo.  Como em tudo mais a prova da santidade é o amor.

 

A oração em diálogo é mais íntimo e cheia de riqueza, principalmente no tocante da esperança que é compartilhada e vivenciada... Em uma palavra, compartilhar o mais profundo da própria personalidade é compartilhar o mais íntimo da própria esperança que o faz viver com mais intensidade o próprio presente, como uma espécie de antecipação do que vivenciaremos no futuro.

 

Josef Pieper, assim se expressa em suas análises:

 

"O orante  mantém-se disponível para receber uma dádiva que lhe é afinal desconhecida e, se o seu pedido não se realiza concretamente, continua, apesar disso, certo de que a sua oração não foi inútil".

Por esse motivo os que ensinam a rezar não oferecem apenas um consolo, mas são os verdadeiros mestres da esperança. Temos  um exemplo de uma coletânea de uma irmã baseados nos cantos da Campanha da Fraternidade de 1975 e do Hino do 9º Congresso Eucarístico Nacional - o chamado de Manaus-, a Irmã Isabel Fontes Leal Ferreira que assim escreve:

A casa da fé, o Altar da Esperança

"A Casa da Fé...

... é o Templo de Deus

santificado pelo sacrifício do Altar

e pela presença de Cristo na Eucaristia.

A casa da Fé...

... acolhe e abriga

o mistério do Amor,

diante do qual nossa fé se curva,

crendo com simplicidade

e adorando-o em profundidade.

A casa da Fé ...

... presencia quotidianamente,

aqui, ali, nos recônditos longínquos do mundo,

o milagre permanente de nossos dias,

e de todos os tempos desde a última Ceia:

o Milagre da Trans-Substânciação  -

-   a mudança, em substância,

do pão e do vinho no Corpo e no sangue do Senhor;

o Milagre do passado que se faz presente:

às palavras do celebrante: "Isto é meu corpo.

Este é o cálice do meu sangue",

O que aconteceu, na Ceia do Senhor com Seus Apóstolos,

"atinge-nos onde estamos,

no ponto do espaço e do tempo que ocupamos,

toma uma existência atual,

reveste um poder de resgate

na nossa própria existência".

O Altar da esperança ...

...o altar em que Cristo se dá a nós como Pão da Vida,

como se deu na ceia a seus apóstolos.

O altar, em que por nós e conosco

Ele torna presente a oferta e o sacrifício

Que, um dia e de uma vez para sempre,

Fez de si próprio ao Pai,

No alto da cruz, no cimo do Calvário.

Altar da esperança ...

... porque altar que nos acolhe como somos,

que não exige violência nem mudanças forçadas;

que nos abre horizontes de eternidade.

Altar ...

... onde não existe fingimento nem insinceridade

onde não existem indiferenças, malquerença ou desamor,

onde não existe hipocrisia nem mentira,

onde não existem ódio nem rancor, pavor nem medo ...

Altar ...

... onde a verdade é o Pão da palavra

e o amor o Pão da Vida.

Altar ...

... onde está Jesus,

O Filho de Deus,

O nosso irmão,

O nosso tudo!

Altar que,

Justamente por tudo isto,

É, por excelência,

O altar da esperança ...".


RAHNER, K. A Eucaristia e os homens de hoje. Paulistas.

FERREIRA, Isabel F. L. Pão e Vida são de todos. Aparecida. Santuário, 1975, pp. 117-118.