PERSPECTIVAS PROTESTANTES

 

Os evangélicos protestantes crêem que a Bíblia responde às questões básicas levantadas em todas as épocas e em todos os lugares. Entretanto, a questão que está sempre presente na mente e no coração de todos os seres humanos é a questão relacionada com o futuro. "O passado a gente conta,  o presente a gente curte, e o futuro a gente tenta adivinhar". Esta perece ser a filosofia da maioria das pessoas e de várias religiões.

 

Historicamente falando, a Igreja protestante tem passado por épocas nas quais pode-se detectar a falta de um balanço escatológico. Algumas vezes, a igreja se mostra tão apegada ao presente, que dava pouca atenção ao futuro. Outras, a igreja se apegava tanto ao passado, que chegava a esquecer de sua reverência para o presente e de seu destino futuro.

 

A história da Escatologia cristã em geral reflete essa batalha entre o passado, o presente e o futuro. Vários teológicos evangélicos protestantes têm escrito sobre o assunto. A história da igreja tem revelado que, durante os primeiros cinco séculos, os cristãos não se preocupavam muito em desenvolver uma doutrina escatológica. É bom ressaltar, entretanto, que a ausência de um dogma sistematicamente formulado nunca significou a ausência de crenças e esperanças escatológicas. Pelo contrário, durante os primeiros cinco séculos os cristãos criam na vida após a morte, na segunda vinda do senhor Jesus, na ressurreição dos mortos, no julgamento final, em tribulações e na criação de um novo céu e de uma nova Terra. Mas a Escatologia como doutrina sistematizada, tal qual nós a temos hoje, não foi desenvolvida durante aquele período. Basta lermos o credo apostólico para perceber essas crenças, porém sem um desenvolvimento cronológico ou sistemático da doutrina.

Os  teólogos reformados fizeram muita ligação entre a Escatologia, a Soteriologia e a eclesiologia

 

Mesmo durante a Idade Média, até o início da reforma protestante, os cristãos daquela época também criam nesses ensinos, mas havia "pouca reflexão sobre a madeira pela qual' os fatos se desenvolveriam, especialmente sobre o aspecto cronológico da Escatologia bíblica.

 

Já os reformadores protestantes sem dúvida refletiram mais sobre a questão escatológica. Em parte, foram motivados pela disputa teológica com a Igreja Católica, que ensinava o purgatório, por exemplo. Os teólogos reformados, portanto, fizeram muita ligação entre a Escatologia, a Soteriologia (a glorificação dos salvos) e a eclesiologia (a igreja triunfante etc.)

 

Na atualidade, o racionalismo, o evolucionismo, o existencialismo, juntamente com o liberalismo teológico, provocaram uma reflexão mais profunda por parte dos protestantes ortodoxos, já que todos aqueles "ismos" atacavam todo tipo de ensino sobre a certeza de alguma realidade futura.

 

Berkhof e outros protestantes reformados reconheciam que o liberalismo teológico ignorava totalmente os ensinos escatológicos  do próprio Jesus Cristo, colocando toda ênfase simplesmente nos preceitos éticos do Senhor. o racionalismo, o evolucionalismo e o existencialismo filosófico, por  sua vez, desconsideram qualquer ensino escatológico: na melhor da hipóteses, a Escatologia bíblica não  passa de uma utopia mitológica.

 

Ao protestantes evangélicos, entretanto, baseados no ensino da Palavra de Deus, crêem na vida após a morte, na segunda vinda do Senhor Jesus, na ressurreição dos mortos, no julgamento final, na criação de um novo céu e de uma nova Terra. Em outras palavras, os protestantes conservam as mesmas crenças que os demais cristãos que aceitam as Escrituras Sagradas como única e última regra infalível de fé e prática. Mas o fato de crerem nessas doutrinas não significa que todos os protestantes as aceitem do mesmo modo, em relação à forma como elas se cumprirão.

 

Assim há uma variada divergência hermenêutica no meio protestante, com pelo menos três escolas de interpretação: aminelista, pós-milenista e pré-milenista..

 

Os amilenistas como L. Berkhof, O. T. Allis, G.C.Berkhouwer e outros crêem que as Escrituras Sagradas não fazem nenhuma distinção cronológica entre a segunda vinda de Cristo, o arrebatamento da igreja, e a participação do crente no novo céu e na nova terra. Para os amilenistas haverá apenas uma ressurreição geral dos crentes e dos incrédulos, a qual ocorrerá durante a segunda vinda de Cristo. O julgamento final será para todos os povos. A tribulação é algo que experimentamos na presente era. O milênio referido nas Escrituras (Apocalipse 20) não significa um milênio literal, pois o reino de Deus, inaugurado visivelmente com a primeira vinda do Senhor Jesus continua espiritualmente presente, embora invisível (invisibilidade não é sinônimo de inexistência), e será consumado com a segunda vinda visível do Rei da Glória. Entramos neste reino pela fé (João 3). Para os amilenistas as Escrituras não fazem distinção entre a igreja no Velho Testamento (Israel) e a igreja do Novo Testamento ("o novo Israel", composta de circuncioso e incircunciosos) .

 

De todas perspectivas protestantes, a que mais se coaduna com a exegese bíblica é a posição amilanista.. Esta posição é a mais condizente com o ensino dos profetas, do Senhor Jesus e dos apóstolos, tanto hermenêutica quando exegeticamente falando, enfocando Mateus 24-25. A posição escatológica mais fraca, em termos hermenêuticos e exegéticos, é a posição pré-milanista, devido à sua grade cronológica pré-estabelecida. Os pré-milenistas, em geral, começam com um quadro cronológico pré-estabelecido e passam a fazer uma "cirurgia textual" nas Escrituras, de acordo com o quadro já pré-desenhado por eles.

 

Se estudar-mos com mais afinco essas posições escatológicas, poderemos perceber suas implicações imediatas no que tange à evangelização mundial e ao envolvimento da igreja nas questões sociais e políticos de nossa era.