SACRAMENTO DA PENITÊNCIA

INTRODUÇÃO

"Pois Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna. De fato, Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, e sim para que o mundo seja salvo por meio dele. Quem acredita nele, não está condenado; quem não acredita, já está condenado, porque não acreditou no nome do filho único de Deus" (Jo 3,16-18).

O Cristianismo se auto compreende como religião portadora de redenção, como o evento do perdão da culpa humana pelo próprio Deus, em seu agir gratuito, em nosso favor, em Jesus Cristo, em seu Mistério Pascal. Portanto, Culpa e Pecado constituem tema central no cristianismo. Mais: o cristianismo entende que o ser humano é um ser cuja ação livre culposa não é "assunto privado", pertencente exclusivamente à sua intimidade, do qual o próprio ser humano pudesse, por seu próprio poder e força, depois de perpetrada a culpa purificar-se a si mesmo. Pelo contrário, pecado e culpa - apesar do ser humano ser responsável por seu pecado e culpa em virtude de sua liberdade -, uma vez cometidos, só podem realmente ser superados pela ação do próprio Deus.

No entanto, estes temas da culpa, do pecado e da necessidade de redenção sofrem hoje de dificuldade especial. Parece que a questão de serem pecadores - a nível pessoal ou social - bem como a questão de como se tornam justos perante a ação misericordiosa de Deus, são temas que não fazem parte da agenda das pessoas, atualmente. Neste sentido, pode-se afirmar que o ser humano moderno não teme a Deus. O tema da justificação tão central na época de Agostinho e da Reforma, hoje, já não goza do mesmo prestígio.

 

1.     QUAL O FATO VALORIZADO?

 

A vida está cheia de tensões e conflitos. Mesmo que no fundo de nós mesmos desejamos uma harmonia e uma paz completa, a realidade é outra. Quer queiramos ou não, passamos grande parte da vida em conflitos. Se esperássemos o seu fim para aceitar e amar a vida, correríamos o risco de esperar para sempre. O importante é incorporar à nossa história pessoal e social os conflitos que a vida comporta.

Há conflitos, tensões em todos os nossos relacionamentos, desde os mais profundos até os mais ternos. Até o amor comporta uma dimensão de desejo, de agressividade, que pode ferir. Amar alguém é, pois, desejar uma resposta dele: é entrar em seu domínio, essa intrusão provoca tensões. Aceitar a proximidade do outro é correr o risco de ferir e ser ferido.

Nossa história psicológica está marcada por conflitos interiores de complexos de culpa, de vexames pessoais e outros sofrimentos que esmagam. Essas tensões são muitas vezes, o resultado das interações com os outros. O complexo de culpa, por exemplo, provém da interiorização de imposições do pai ou da sociedade.

Há outras tensões que ultrapassam os indivíduos: são os conflitos de interesses provindos da organização da sociedade. Assim, uma manifestação dos "sem terra" exprime o choque de interesses opostos. Essas oposições são tidas como agressão. Esses conflitos ferem as pessoas, embora as ultrapassem.

A organização "racional" da sociedade também é fonte de conflitos: em nome da razão, da moral, da ciência e da técnica, impõe-se certa violência social. As pessoas são submetidas às exigências da organização tecnológica de uma sociedade complexa e aos aspectos éticos necessários à vida coletiva. Porém, a racionalidade, a força da tecnologia e as novas normas oprimem alguns e de certa forma ferem a todos.

Todavia, os conflitos, quer sejam ligados aos sentimentos interiorizados, às relações interpessoais, às estruturas sociais ou às tecnológicas, todos acarretam choques. Todos sentem os efeitos e apresentam as cicatrizes.

Todos esses sofrimentos partem da existência humana. Eles levam os indivíduos a se isolarem com suas feridas e esconderem as contradições em que vivem. Para nos familiarizar com tudo isso, temos que viver o perdão e celebrá-lo. Para isso a Igreja nos oferece o sacramento da Reconciliação, Penitencia ou Confissão.

Porém, diante do sacramento da reconciliação e do pecado, encontramos as atitudes mais variadas que dificultam compreender seu verdadeiro significado. Vejamos algumas atitudes:

· Falta de noção clara do pecado, nada é pecado, mas apenas problema psicológico;

· Não adianta confessar, porque se volta a repetir os mesmos pecados;

· Consideração de que pecado grave é apenas roubar ou matar;

· Busca do perdão diretamente com Deus, rejeitando a mediação da comunidade;

· Não se reconhece como grave os pecados contra a justiça, a natureza;

· Consideração do pecado como ato meramente individual e a procura do sacramento da reconciliação para purificação pessoal;

· Etc.