A queda do Estado Pontifício permitiu mais livre exercício das funções do Papado. Os sucessores de Pio IX até hoje têm sido grandes vultos, respeitados internacionalmente. Foram todos grandes pontífices que prestaram grandes serviços à Igreja. Veremos, a partir de agora, o pontificado desses grandes papas que regeram a Igreja nos últimos tempos.

Após a morte de Pio IX em 1878, o conclave se reuniu e em apenas dois dias escolheu seu sucessor. Havia temores da parte dos cardeais de que  governo da Itália ou de outra potência quisesse interferir na escolha do novo papa, mas o Rei da Itália, Humberto I, fez questão de mostrar ao mundo que observava as "leis de garantias" que o Papa Pio IX havia rejeitado. No conclave reunido, foi escolhido o Cardeal Joaquim Pecci que tomou o nome de Leão XIII. Este era um homem de sólida formação que se dedicava ao estudo de São Tomás de Aquino e à literatura latina.

Leão XIII era firme na defesa da verdade e do direito mas soube também ser moderado e conciliador quando foi preciso. Logo na sua primeira encíclica, em 21 de abril de 1879, reafirmou a sentença de Pio IX ao Estado Italiano: "O Estado da Igreja é uma instituição indispensável da Providência Divina para assegurar o livre exercício da autoridade eclesiástica". Tal com fizera Pio IX, Leão XIII, uma vez eleito se declarou prisioneiro no Vaticano, mantendo o protesto de seu antecessor. Os chamados "conciliadores" procuravam promover uma conciliação entre o Estado Italiano e o Vaticano mas a Maçonaria entravava esta reaproximação e não cessava de hostilizar a Santa Sé. As relações esfriaram ainda mais nos anos seguintes quando o governo italiano ignorou as bodas de ouro  de sacerdócio do papa, em 1887. Nesta festa, porém, os soberanos do mundo inteiro mandaram felicitações e presentes para o Pontífice.

Por duas vezes, em 1888 e 1903, o Papa Leão XIII recebeu a visita, no Vaticano, do imperador protestante da Alemanha, o Kaiser Guilherme II, ao passo que aos príncipes e estadistas católicos a visita oficial de Roma estava proibida desde 1870. Ainda em 1888, Leão XIII recebeu a visita da Rainha Vitória, da Inglaterra e em 1895 foi criada a embaixada da Rússia junto à Santa Sé. Tudo isso demonstra o sábio comportamento político de Leão XIII com as nações onde o catolicismo não era maioria. Infelizmente, na Conferência Internacional de Haia, na Holanda, em 1899, o Papado não pode se fazer representar por causa da intromissão do governo italiano. Mesmo assim Leão XIII enviou uma carta aos conferencistas que chegou a ser lida mas as conversações de Haia sobre a paz e a guerra não puderam ter a assinatura do Pontífice.

No regime interno da Igreja Leão XIII revelou-se ótimo pastor e mestre. Numa carta encíclica ele recomendou São Tomás de Aquino para os estudantes de Filosofia e Teologia, numa época de certo desatino filosófico que tato prejudicava a Teologia. A partir de 1891 deu início a uma série de encíclicas referentes à questão social, sobretudo a "Rerum Novarum". Mandou abrir aos estudiosos do mundo inteiro o Arquivo e a Biblioteca do Vaticano querendo mostrar que a Igreja não teme a publicação de sua história. Em 1902 criou a Pontifícia Comissão Bíblica para acompanhar as novas pesquisas exegéticas  empreendidas por pensadores de diversas correntes. Mandou ainda ampliar o Observatório do Vaticano para onde ele próprio se retirava com prazer para trabalhar e repousar.

Leão XIII enfrentou também uma época difícil de agitação social com a qual se preocupou. Combateu as injustiças sociais e defendeu os trabalhadores lutando por melhores condições de vida. Uma onda de anarquismo agitou seu tempo. Os anarquistas defendiam uma sociedade sem governo. Por toda parte cometiam atentados e algumas figuras importantes do cenário político perderam suas vidas. Num desses atentados morreu o Rei Humberto I, da Itália, assassinado a tiros por um anarquista, em Monza. O papa, ao saber da morte do rei, ficou vivamente comovido e ficou longo tempo em oração, não só pela alma do rei mas por toda a Itália e pelo mundo inteiro. Sabia que a situação era delicada e que o mundo precisava de governantes justos e generosos.

A jornada terrena do "mestre dos povos" foi longa ! Ao completar 93 anos de idade, o papa adoeceu de pleurite e passou a aguardar a morte serenamente. Em seu leito de morte recebeu a visita de cardeais, diplomatas e funcionários que vinham para beijar-lhe a mão pela última vez. Pouco antes de morrer Leão XIII disse: "Sei que sempre amei a Igreja e que procurei o bem dela".

O Papa Leão XIII faleceu em 1903, com 93 anos de idade, lúcido e enérgico. Na praça de São Pedro o povo chorou comovido a perda do Pontífice tão querido. Este fizera do Papado uma potência moral universal, com a qual deveriam contar os estadistas do mundo inteiro. Windthorst certa vez afirmou no Parlamento Prussiano: "a autoridade moral da Santa Sé nunca foi maior em período igual da história". O Papa Leão XIII só fez aumentar essa herança.