Enquanto a Primeira Guerra mundial começava a semear suas vítimas, os Cardeais se reuniram e elegeram , no dia 3 de setembro de 1914, o Cardeal Giácomo Della Chiesa, que tomou o nome de Bento XV. Era um homem de grande experiência nos setores da diplomacia internacional. Era o homem indicado para assumir o governo da Igreja num momento tão difícil como o do conflito mundial. Era de pequena estatura, mas piedoso e prudente como também dotado de grande capacidade de trabalho, de perseverança férrea e notável eloqüência. Quis ser coroado na simplicidade da Capela Sixtina e não na grande nave da Basílica de São Pedro.  Disse que preferia a coroação mais modesta possível, para que, no luto da guerra fosse excluído todo o aspecto da festa.

Uma vez papa, Bento XV lançou um apelo a todos os governantes envolvidos no conflito para que procurassem solucionar as contendas por meios pacíficos e cessassem a guerra mas seus apelos foram em vão. Àquela altura,  nada mais podia deter a marcha dos acontecimentos. A guerra se ampliara e atingira nações distantes como o Japão, no Extremos Oriente, que entrou no conflito se apoderando das possessões alemãs do Pacífico. No começo da guerra todos se lançaram para as frentes de combate com muito ânimo achando que aquela seria uma guerra rápida e que logo estariam de volta. Mas com o passar das primeiras semanas a euforia inicial foi dando lugar ao desespero.E todos puderam perceber que a guerra não seria tão rápida como imaginavam. Era, na verdade, uma guerra bem diferente de todas as outras que haviam ocorrido até então. Era um choque entre o antigo e o novo pois naqueles 40 anos de relativa tranqüilidade, muitas nações haviam se modernizado bastante, como era o caso da Alemanha, enquanto outras mantinham suas táticas de guerra e armamentos ultrapassados, como era o caso da Rússia. Em 23 de outubro daquele ano de 1914, o Sultão Mohamed V fez um acordo secreto com os alemães e o Império Otomano entrou no conflito ao lado da Alemanha e da Áustria-Hungria, iniciando o bombardeio dos portos russos do Mar Negro. Com isso, a guerra se alastrava também pelo Oriente.

Em Roma, o Papa Bento XV se prodigaliza em dar alívio aos que sofrem. Cria a Agência para a Procura dos Combatentes Dispersos e também a Organização para a Troca de Cartas entre os militares presos e suas famílias. O papa organiza também a distribuição e roupas aos países atingidos pela catástrofe, especialmente onde as batalhas são mais intensas como a Bélgica, a Polônia e a Sérvia. Em 1915  a Bulgária entrou na guerra ao lado da Alemanha, da Áustria Hungria e do Império Otomano contra as demais nações. Estas quatro nações passariam a se chamar, a partir de então, de Potências Centrais, enquanto as demais eram denominadas como "Aliados". Também a Itália entrou na guerra, em 1915, ao lado dos aliados. A guerra foi se tornando mundial à medida que, no mundo inteiro, as colônias dos países envolvidos começaram a participar.

Naquele ano de 1915, em meio aos horrores da guerra, uma tragédia à parte envolveu os cristãos da Armênia, dentro do Império Otomano: O governo turco de Constantinopla, com a aquiescência do Sultão Mohamed V, ordenou o massacre dos cristãos da Armênia. O horror que se abateu sobre a população cristã armênia foi indescritível. Homens, mulheres, velhos e crianças foram barbaramente massacrados pelo exército turco, numa matança onde pereceram cerca de um milhão de pessoas. Aldeias e cidades foram destruídas e muitos cristãos armênios foram obrigados a fugir. Estes alimentariam posteriormente um profundo ódio pelos turcos.

Em 1916 a luta parecia estar longe de uma solução. A guerra parecia um eterno empate. Mais nações haviam entrado no conflito contra as chamadas Potência Centrais. O Papa Bento XV lançou um apelo às nações que estavam fora do conflito que colaborassem com donativos, roupas e alimentos, através de suas paróquias e dioceses. Estes donativos seriam destinados, através da Cruz Vermelha, para as vítimas da guerra. Essas vítimas eram os órfãos, os desabrigados, os sem pátria e todos os demais desamparados por causa do conflito. A Igreja, sob Bento XV, teve um papel importante no auxílio aos desamparados pela tragédia. Através dela, nos países beligerantes era possível localizar este ou aquele desaparecido ou prisioneiro. Bento XV foi um herói no meio da guerra. Não havendo como impedi-la, lançou mão de todos os recursos para atenuar a sorte dos desvalidos e para isso a Igreja teve papel de suma importância.

Os horrores da guerra eram indizíveis. Em 1917 o escrito austríaco Stefan Zweig, viajava num trem hospital em direção à Budapeste, a serviço do governo de seu país, e pode constatar a verdadeira face daquela guerra. Os mortos eram amontoados nos vagões ao lado dos moribundos e mutilados. Um sacerdote idoso, que prestava os últimos socorros espirituais aos que morriam, lhe disse: "Tenho 67 anos de idade e já vi muita coisa nesta vida. Mas confesso que nunca pude imaginar que a humanidade fosse capaz de perpetrar tal crime!"

Em 1917, em meio a guerra, a Comissão que trabalhava na codificação do Direito da Igreja, desde  1904, presidida  pelo Monsenhor Pedro Gasparri, encerrou seu trabalho e o Papa Bento XV promulgou o Código de Direito Canônico no qual se encerravam as leis da Igreja em geral. Também em Fátima, Portugal, a 13 de maio ocorre a aparição da Virgem Maria aos três pastorzinhos. Essas aparições se repetirão até outubro daquele ano quando então cessaram. No cenário da guerra mais nações entraram no conflito ao lado dos aliados, entre as quais o Brasil e também os Estados Unidos da América, cuja participação será decisiva para o desequilíbrio das operações bélicas.

Um outro acontecimento importante abalou o mundo naquele ano de 1917: a Revolução Russa, que se desenvolveu em duas etapas. No início daquele ano a Rússia estava em situação crítica, desgastada pelos 4 anos de guerra, com um frio de 40 graus negativos, sem gêneros, os trens atolados na neve, a derrota iminente e totalmente isolada dos aliados. O povo estava desalentado com a situação e via a chegada da morte certa, pela fome. Além disso um outro dado de arrepiar: a Rússia tinha perdido  nos quatro anos de guerra um total de três milhões e oitocentos mil homens entre mortos, feridos e prisioneiros. Em fevereiro e março aconteceu a Revolução Burguesa: O povo saiu as ruas amotinado, saqueando, as prisões foram arrombadas e o caos se instalou. O governo reagiu com violência mas aos poucos o exército imperial se desintegrava e aderia aos revoltosos. O Czar Nicolau II teve que abdicar e em seguida foi aprisionado com toda a sua família. Um Governo Provisório, sob o Príncipe George Lvov, assumiu o controle do país. A situação interna permaneceu intensa porque a guerra continuava. Em junho Príncipe George Lvov renunciou e o socialista Alexandre Kerenski  assumiu o Governo Provisório e manteve o país na guerra. No meio da confusão interna uma nova revolução aconteceu em outubro: O líder Bolchevista Lênin, que aproveitando-se do caos interno regressara de seu exílio na Suíça, comandou o povo na tomada pelo poder. Praticamente sem violência e sem resistência, o Governo Provisório de Alexandre Kerenski caiu e Lênin com o apoio popular assumiu o comando do país na chamada Revolução Bolchevista.

Uma vez no poder, os bolchevistas tornaram-se partido único e o regime comunista foi instalado. A oposição foi suprimida com violência e Lênin implantou no país  um  terror  igual ao de Robespierre na França revolucionária. A Igreja Ortodoxa russa pagou um alto preço pela sua estreita ligação com o Regime Imperial Czarista. O regime comunista implantou o ateísmo de Estado e com isso a religião foi abolida. Os inimigos da revolução (contra-revolucionários) foram dizimados através da pena de morte. Antigos membros da nobreza russa, do governo imperial, sacerdotes e metropolitas da Igreja Ortodoxa, foram fuzilados ou tiveram que fugir para o exterior. A família imperial também foi dizimada: na madrugada de 17 de julho de 1918, por ordem de Lênin, foram fuzilados o Czar, a Czarina, as quatro filhas, o príncipe-herdeiro e quatro serviçais que os acompanhavam, em Ekaterinburgo, na Sibéria. Isso era para mostrar que não havia mais recuo e que a revolução era um fato consumado.

Nada disso teria importância para a história da Igreja se não fosse o fato de que os revolucionários russos tencionassem exportar a revolução, e com ela o comunismo ateu, para outros países. A Igreja condenou, posteriormente, o comunismo ateu. E mais tarde, após a Segunda Guerra mundial, quando o mundo se viu dividido em dois blocos (capitalistas e socialistas) a Igreja sofreu bastante nos países onde o comunismo se firmou.

Em 1918 o Papa Bento XV lançou um apelo ao mundo inteiro para que se rezasse e se comungasse na intenção do fim da guerra. Esta se arrastou ainda por  quase todo o ano. Novas armas haviam surgido no decorrer do conflito como os tanques, gases asfixiantes e o lança-chamas. As Potências Centrais ( Alemanha, Áustria-Hungria, Bulgária e o Império Otomano) lutavam juntas contra 32 nações. Contudo, a partir de setembro, o fim da guerra parecia estar próximo pois as potências centrais eram vencidas em todas as frentes. A Bulgária foi vencida e rendeu-se em setembro. Ingleses e franceses se voltaram sobre o Império Otomano e depois de conquistarem a Palestina e as possessões turcas no Oriente, o Sultão assinou a paz. Os Lugares Sagrados, com Jerusalém e toda a Terra Santa, há cerca de oitocentos anos (desde as cruzadas na Idade Média) nas mãos dos turcos, foram finalmente libertados pelos ingleses e franceses, após a conquista da Palestina.

Depois da derrota e rendição da Áustria-Hungria e da Alemanha, a guerra terminou em 11 de novembro de 1918. Foram quatro anos e meio de guerra que deixou a Europa arrasada, as nações falidas e mais de dez milhões de mortos.

Uma vez terminada a guerra os vencedores se reuniram na Conferência de Versalhes, na França para discutirem as condições do armistício. O Papa Bento XV pressente que estas negociações poderiam causar, futuramente, novas guerras se não fossem concluídas com justiça e por isso proclama que em toda cristandade se elevem preces para que a paz seja justa. Ao mesmo tempo, Bento XV pede aos bispos do mundo inteiro que angariem donativos e alimentos para as crianças esfomeadas da Europa Central destruída pela guerra. Também o coração do Pontífice se volta para lugares distantes onde outros povos sofrem de fome e vivem uma vida desordenada e convulsionada, pois a guerra modificou as fronteiras de muitas colônias fazendo-as passar para os vencedores e todas estas mudanças trouxeram tormentos para população local.

A atuação do Papa Bento XV durante o conflito, tentando amenizar o sofrimento de tantas almas através dos serviços da Igreja, rendeu-lhe uma homenagem no Oriente: Em Constantinopla, capital do Império Otomano, foi levantada uma estátua do Papa Bento XV com uma inscrição onde se lia o seguinte: "Ao grande Pontífice da tragédia mundial, benfeitor dos povos, sem distinção de nacionalidade ou de religião, em sinal de reconhecimento, o Oriente".

Depois da guerra, Bento XV viu o mapa da Europa ser modificado com o surgimento de novas nações. Procurou amparar o ex-Imperador Carlos I, da Áustria- Hungria, deposto do trono e exilado com toda a família, dando-lhe asilo em Roma e depois conseguindo um exílio na ilha da Madeira, em Portugal.

O Pontífice, preocupado com a evangelização dos povos nativos distantes, exorta os missionários a formar um clero indígena pois julga que os sacerdotes "pretos" ou "amarelos" conseguirão mais facilmente levar a Mensagem de Cristo a seus fiéis fazendo-os compreender que na Igreja não há diferença de raça ou de cor. Assim tem início a formação de sacerdotes e religiosos dos mais diferentes povos.

Bento XV ficará na memória dos homens como o intrépido Apóstolo da paz de Cristo durante a Primeira Guerra Mundial. Muito trabalhou em seu pontificado, que ocorreu num dos períodos mais turbulentos da história da humanidade, e muito mais teria feito. Todavia uma pulmonite o matou em 1922. Antes de expirar, o Papa Bento XV disse: Se Deus quer que trabalhemos ainda, estejamos prontos mas se Ele diz: Chega ! então que seja feita a Sua vontade !"

Antes de passarmos ao pontificado seguinte devemos considerar um acontecimento de certa importância para a cristandade ocorrida no Oriente. Depois da derrota na Primeira Guerra Mundial, o Império Otomano perdeu praticamente todas as suas possessões no Oriente. O Sultão Mohamed VI (que sucedera Mohamed V, em 1918, em plena guerra) é obrigado a assinar o humilhante Tratado de Sèvres mas os nacionalistas turcos liderados por Mustafá Kemal iniciam a partir de 1919  uma reação e resistência à assinatura do tratado. Uma guerra civil sacode o país e se arrasta por três anos. Os nacionalistas pregam o fim do Império,  a proclamação de uma república, a revisão do tratado e a modernização da Turquia.

Mesmo contando com a ajuda de americanos, ingleses e franceses que temiam a implantação do comunismo no país, o governo de Constantinopla foi perdendo gradualmente a luta interna e as tropas regulares turcas foram batidas na Ásia. Os nacionalistas turcos comandados por Mustafá Kemal cercaram Constantinopla e em 22 de dezembro de 1922 o Sultão Mohamed VI foi deposto do trono. Em seguida, Mustafá Kemal assumiu o controle da situação e o governo do país. A república foi proclamada e Mustafá Kemal se tornou seu primeiro presidente. Desaparecia assim, para sempre, o antigo e secular Império Otomano, cujos sultões, ao longo dos séculos, tantos causaram muitos sofrimentos aos cristãos que viviam em seu território.

Mustafá Kemal tomou ainda o nome de Ataturk (que quer dizer: o pai dos turcos) e de fato empreendeu as reformas prometidas. Ocidentalizou o país, aboliu antigos títulos nobiliárquicos do império, adotou o alfabeto ocidental, adotou uma tolerância religiosa que muito favoreceu os cristãos e ainda conseguiu a revisão do tratado de Sèvres onde a Turquia foi benefiada conseguindo manter seus territórios na parte européia. Entre outras mudanças a mais significativa foi  sem dúvida mudança do nome da capital: Constantinopla, que fora a capital de três grandes impérios ao longo da história ( Romano, Bizantino e Otomano)  passou a se chamar Istambul.

A mudança de situação na Turquia trouxe benefícios para a Igreja, que nas décadas seguintes manteve bom entendimento com o governo de Ancara (a nova capital) e os cristãos receberam mais liberdade no país. Hoje a Turquia é um país moderno, pró ocidental, que apesar de suas estruturas seculares procura caminhar em harmonia com as demais nações do mundo.