No dia 28 de outubro de 1958, com apenas três dias de conclave, foi eleito o Cardeal Ângelo Roncalli, que tomou o nome de João XXIII. Contava já com 77 anos de idade e muitos diziam que seria um papa de transição, por causa da idade avançada, e que seria uma figura meio apagada entre Pio XII e o futuro papa. João XXIII era um homem bom e cordial, de uma viva inteligência e boa experiência na diplomacia internacional. Antes de ser papa servira à Igreja como Visitador Apostólico na Bulgária em 1924 e mais tarde como Delegado Apostólico na Turquia e na Grécia durante a Segunda Guerra Mundial. Nessas duas ocasiões aproximou-se dos irmãos separados da Igreja Ortodoxa. Foi um presságio da futura obra ecumênica de reconciliação em favor das igrejas orientais.

Homem de grande simplicidade, João XXIII mudou o estilo do Papado: saía a pé, caminhava pelas ruas da cidade, visitava sacerdotes, doentes e prisioneiros mostrando sempre uma fisionomia alegre e bem humorada. Certa vez, num dia de natal, ele visitou as crianças do hospital Menino Jesus. Tal como um avô, curvava-se sobre os leitos e conversava com os pequenos enfermos acariciando-os e confortando-os.

João XXIII nomeou um grande número de Cardeais e pela primeira vez na história eleva ao episcopado um bispo negro, D. Laurean Rugambwa, de Tanganica (mais tarde Tanzânia), juntamente com um bispo japonês e outro filipino. Em 29 de janeiro de 1959 anuncia aquilo que será o maior acontecimento da história da Igreja no século XX: a convocação do Concílio Ecumênico Vaticano II.

João XXIII inaugurou o Concílio Vaticano II em 11 de outubro de 1962.Era o Vigésimo primeiro Concílio da história da Igreja. Como sabemos, o Concílio Ecumênico Vaticano I ficou suspenso em 1870, quando da queda do Estado Pontifício, deixando em aberto várias questões teológicas e pastorais. Agora, este novo Concílio se propunha tratar dos temas de atualização da Igreja numa época em que os costumes e as mentalidades evoluíam com certa rapidez. Fora preparado desde 1959 por diversas comissões, que elaboraram estudos e textos a ser apresentados aos padres conciliares. Foram convidados, como observadores, representantes dos protestantes, dos ortodoxos orientais, e dos demais cristãos separados. Por ocasião da inauguração do Concílio, estavam presentes dois mil quinhentos e quarenta participantes. Os observadores não católicos eram cerca de cinqüenta. Houve também senhoras observadoras a partir de 1964. Como programa dos trabalhos conciliares, o papa indicava a tarefa de tornar a Igreja presente no mundo e sua mensagem sensível à razão e ao coração do homem envolvido na revolução técnica do século XX.

O Concílio decorreu em quatro fases, respectivamente nos meses de outubro a dezembro dos anos de 1962,1963,1964 e 1965. Nos intervalos entre essas fases, as Comissões de peritos trabalhavam arduamente para atender às sugestões e à diretrizes emanadas dos padres conciliares. Foram promulgados dezesseis documentos  como as Constituições, Decretos e Declarações, que levaram em consideração os principais temas que se impunham à reflexão da Igreja. O Concílio teve índole  eminentemente  pastoral  visando  à  fé  cristã  e   sua  disciplina,  em  vez  de se voltar  para  definições de fé e Moral. A abertura equilibrada dos documentos conciliares pode ser percebida em seus traços marcantes:

a)   Renovação da liturgia que deveria ser celebrada em estilo mais comunitário e acessível aos fiéis. As missas passavam a ser celebradas nas línguas nacionais sem a obrigatoriedade do latim.

b)  Reafirmação da Igreja como Sacramento, estruturado por Pedro e a hierarquia, sem deixar de responsabilizar, na medida precisa, todo o povo de Deus.

c)   Abertura para com os demais cristãos (protestantes, ortodoxos e outros) que não se acham em plena comunhão com a Igreja de Cristo entregue a Pedro e a seus sucessores através dos tempos.

d)  Declaração sobre as religiões não cristãs nas quais os padres conciliares realçaram a existência de elementos positivos.

e)   Declaração sobre a liberdade religiosa, que significa o direito inerente de todo homem de formar livremente sua consciência diante de Deus e da fé.

f)   Tomada de uma posição da Igreja frente às diversas facetas que o mundo de hoje lhe apresenta tais como a família, a comunidade política, a economia, a cultura, a paz e a guerra.

Em síntese, pode-se dizer que o Concílio Vaticano II foi uma das mais significativas realizações da Igreja nos tempos modernos, portadora de amplas conseqüências, das quais, infelizmente, algumas delas  foram menos felizes em virtude da falsa compreensão dos textos e da mente dos padres conciliares.

João XXIII escreveu ainda oito Encíclicas, das quais duas tiveram especial repercussão: "Mater et Masgistra"(Mãe e Mestra) de 15 de maio de 1961 e a "Pace in Terris" (Paz na Terra) de 11 de abril de 1962. As duas versavam a questão social em termos cada vez mais nítidos. Esta última proclamava como pilastras da paz internacional a verdade, a justiça,  amor e a liberdade.

A doença tortura o papa. Na tarde de 31 de maio de 1963, João XXIII entra em agonia e os fiéis fazem orações por ele na Praça de São Pedro. Nos dias seguintes seu estado de saúde se agrava. No dia 3 de junho o Papa João XXIII faleceu quando caía a noite. Não somente os católicos choram a morte do Pontífice mas também os não católicos e todos os que tiveram do falecido papa as mãos estendidas para o diálogo e a sua amizade. A Providência Divina o levou antes que o Concílio fosse concluído mas esta tarefa caberia ao seu sucessor. A ele a Vontade de Deus reservou uma missão importante para a Igreja, no mundo de sua época. E esta missão ele desempenhou com grandeza pelo bem da Igreja e de todo o mundo.