Visão Histórico Teológica dos Sacramentos

Os sacramentos são acontecimentos constitutivos da experiência cristã. Visitando os textos do NT encontramos uma significativa catequese bíblica dos sacramentos. Em seus primórdios, a fé cristã caracteriza os sacramentos, como prolongamento na Igreja, dos grandes acontecimentos da salvação, e introduzindo o(a) fiel na comunidade escatológica da graça e da salvação.

Nos  Séculos. III-IV, a Igreja conheceu uma verdadeira iniciação bíblico-litúrgica aos mistérios sacramentais, com longa preparação (que, segundo notícias de Hipólito, chegava a durar três anos), atingindo seu momento fundamental com a inscrição para o batismo, na quaresma. Os candidatos (catecúmenos ou audientes) constituíam um grupo à parte.

Progressivamente, a partir dos Séculos VII-VIII cada vez mais há um distanciamento da vida sacramental em relação à evangelização e ao seu ambiente litúrgico natural. Esse afastamento já se iniciara com o ingresso dos bárbaros na Igreja. O latim, a língua litúrgica já não era entendida por essas populações e, não obstante, as leituras bíblicas era realizadas nessa língua. A falta de contato vivo com a Sagrada Escritura, fonte e alimentação da espiritualidade cristã, inevitavelmente leva a um empobrecimento da rica experiência cristã.

Nos séculos seguintes, em virtude do caráter moralista assumido pela pregação medieval, especialmente quando - com o surgimento das ordens mendicantes - começou-se a pregar fora da missa, acentuou-se ainda mais a separação entre a Bíblia e os sacramentos. A espiritualidade cristã vai se configurando cada vez mais fora do ambiente vital dos sacramentos. Constituindo-se por uma multiplicidade de devoções particulares e de exercícios piedosos que acabaram por esterilizar os próprios sacramentos, isolando-os do contexto da vida eclesial e da espiritualidade bíblica. Desse modo são introduzidas duas dicotomias na vida cristã: separação entre sagrada Escritura e os Sacramentos, e separação entre os sacramentos e a vida cristã.

A partir do século XVI, há até poucas décadas passadas, a Teologia dos sacramentos girou em torno dos ensinamentos do Concílio de Trento, cuja preocupação determinante era a de afirmar de modo claro e inequívoco os pontos que a Reforma Protestante duvidavam, dentre os quais, a negação da origem evangélica de pelo menos quatro dos setes sacramentos e sua eficácia na concessão da graça. Logo após o Concílio de Trento desenvolveu-se mais uma mentalidade apologética do que o esforço propriamente teológico no sentido de um esforço positivo de compreensão dos sacramentos no contexto global da economia da salvação.

Todo esse desenrolar histórico nos ajuda a compreender uma prática sacramental, ainda bastante difundida, feita de hábitos e obrigações, que por vezes chega a dar a impressão de uma mentalidade mágica na qual os sacramentos são esvaziados de seu mais autêntico e profundo significado.