3.1. A Identidade dos Sacramentos

A palavra SACRAMENTO vem da língua latina "SACRAMENTUM". É uma palavra jurídica. Significa o juramento sagrado que dois romanos faziam no templo. A palavra latina, por sua vez, traduz a palavra grega "MYSTERIUM". A palavra mistério não deve ser entendida na perspectiva racionalista, onde o mistério significa deficiência do ser humano, pois o ideal do conhecimento, é o conhecimento intelectual, racional. Aquilo que não é redutível ao racional, é considerado uma deficiência. Deve-se entender mistério na perspectiva personalista, cujo ideal de conhecimento humano é o conhecimento do outro. A maneira adequada de conhecer o outro é amando-o. O  conhecimento depende, então, da abertura do sujeito ao outro e do revelar-se do outro ao sujeito que quer conhecer. É uma mútua entrega. Desse modo, o mistério já não é um modo deficiente de conhecer mas ao contrário, a plenitude do conhecimento, enquanto se defronta com o mistério do outro.

Podemos comparar os Sacramentos e a Vida com nossos dois braços: o esquerdo e o direito. Os dois estão no corpo, são diferentes, mas para realizarmos bem nossas tarefas precisamos dos dois: um completa o outro. O mesmo pode se dizer dos Sacramentos e da Vida. São diferentes, mas um completa o outro e os dois pertencem à FÉ. É na nossa vida, em nossas lutas pessoais e comunitárias que vivemos nossa fé, lutando como Jesus lutou para que o mundo seja melhor para todos. Nossa fé deve ser concretizada no seguimento de Jesus. Na celebração dos Sacramentos, celebramos nossa luta que é feita em "nome de Jesus" celebrando Sua vida na Nossa vida e Nossa vida na vida Dele. Vejamos agora como os três elementos que constituem a festa aparecem nos Sacramentos:

 

3.2. O ACONTECIMENTO IMPORTANTE

Nos sacramentos celebramos o Acontecimento Pascal (vida morte e ressurreição de Jesus e a doação do Espírito Santo).

Assim como a Festa não celebra em geral a vida como um todo, e sim o Todo Da Vida, condensado num momento decisivo, numa encruzilhada, o mesmo acontece com os Sacramentos. Em cada sacramento celebramos a graça de Deus presente em nossa vida à luz do Mistério Pascal de Cristo, recordando este mistério.

Santo Tomás de Aquino foi quem melhor salientou a coerência interna dos sete sacramentos.

A Toda Vida. Toda Graça, diz ele. Ao Nascimento corresponde o Batismo, novo nascimento. Assim como o ser humano Cresce e se Desenvolve, também a Confirmação fortalece e aperfeiçoa a vida cristã. Como a vida e as forças precisam ser sustentadas pela comida e pela bebida da mesma forma, os filhos de Deus dispõem de um alimento: a Eucaristia. Trata-se a Doença: paralelamente, a Penitência e a Unção Dos Enfermos podem curar e restituir a vida da graça. Há dois outros Sacramentos que correspondem à vida Social A sociedade humana deve ter continuidade e ser governada: assim, o Matrimônio e a Ordem asseguram a continuidade da Igreja e o governo desta.

Em cada sacramento celebramos a graça de Deus presente em nossa vida à luz do Mistério Pascal de Cristo, recordando este mistério. Mesmo antes ou sem a celebração dos Sacramentos a graça de Deus está presente. O sacramento é a celebração desta presença.

Existe uma maneira de compreender a graça de Deus que é muito ruim: compreende-se a graça de Deus como algo fora da pessoa. A natureza humana seria perfeita e autônoma em sua ordem, a graça apenas se justapõe a ela, como uma tampa a uma panela. Fora da vida concreta a graça fica reduzida aos sacramentos e aos ritos e visto que o clero é quem ministra os sacramentos, acaba sendo o detentor da graça. Tendo a criação se dado "em Cristo" e sendo o ser humano voltado para o Reino de Deus, seria inconcebível que esta destinação última de seu ser fosse algo exterior, fora de seu próprio ser, sem afetar interiormente sua realidade concreta.

Segundo o Novo Testamento a Criação e a Encarnação não são duas realidades que se colocam uma sobre a outra, mas duas fases de um único projeto de Deus de sair de si, de se comunicar ao ser humano, fazendo participar gratuitamente de sua vida e felicidade. O ser humano e o mundo foram criados como destinatários da autocomunicação de Deus.

Assim fala claramente o texto de 1Cor 8,6: "Para nós há um só Deus, o Pai de quem tudo procede e para o qual vamos e um só Senhor Jesus Cristo, por quem tudo existe e pelo qual vamos (ao Pai)".

Em Jo 1,1-3 reaparece a mesma afirmação, só que a pessoa de Jesus de Nazaré é expressa como a Palavra de Deus: "No princípio era a Palavra e a Palavra estava com Deus e a Palavra era Deus. No princípio, ela estava com Deus. Tudo foi feito por meio dela e sem ela nada foi feito de tudo o que existe". (cf. Cl 1,15-17; Hb 1,1-4).

Ter sido criado em Cristo, ter sido criado como capacitado a dialogar com Deus que lhe vem ao encontro em Jesus Cristo, ter sido criado como ser livre que pode responder como pessoa a esta iniciativa de amor, dando-se aqui e agora na história a realização ou o fracasso de sua existência, não pode esta realidade deixar de afetar profundamente o próprio ser humano, não pode ser algo fora dele, como a tampa de uma panela.

Todo e qualquer ser humano, por ter sido criado em Cristo (cf. Cl 1,15-17), está intrinsecamente afetado pela graça, está constantemente sob o apelo do Deus de Jesus Cristo.

Os Sacramentos e toda a Liturgia são a Celebração do Acontecimento Importante da entrada de Deus no mundo. Neles celebramos o encontro entre Deus e a humanidade Deus em nossa vida Celebram o movimento de Deus para o ser humano e do ser humano para deus. Porém, não podemos nos esquecer que o movimento dos homens para Deus, também procede de Deus, é Dom  é Graça: "Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi" (Jo 15,16).

 

3.2.1. Quando a vida da comunidae é Páscoa?

A celebração do mistério Pascal é a maneira que a comunidade cristã tem para expressar a importância desse Acontecimento e para nunca se esquecer dele, para guardar bem vivo na memória. Na celebração do Mistério Pascal, a comunidade cristã mostra que suas lutas, sua vida é vivida e entendida à luz desse acontecimento. Enfim, para ligar sua vida a esse acontecimento.

Quem liga nossa vida à vida de Jesus é o Espírito Santo. "A Páscoa de Cristo que celebramos é fruto do espírito Santo que impulsionou o Filho de Deus a realizar a vontade do Pai até as últimas consequências (cf. Hb 9,14). E quem envolve no mistério pascal a vida, as lutas e as esperanças de todas as pessoas é o mesmo Espírito que na liturgia é invocado para a santificação do pão e do vinho e a união dos fiéis. O Espírito continua exortando-nos a que oferecemos nossa vida e nosso compromisso de servir aos irmãos na construção do Reino como hóstias vivas, santas e agradáveis a Deus. Aliás é este o nosso culto espiritual" (cf. Rm 12,1 - Doc CNBB nn. 43, 49 - Vida Litúrgica).

Animada pelo Espírito Santo, a Igreja - comunidade dos que crêem em Jesus Ressuscitado - é chamada a fazer, hoje na história, o que Jesus fez: dar a vida pelos outros em solidariedade:  sobretudo com os homens e mulheres empobrecidos, lascados, que vivem marginalizados: celebrando na vida, nas lutas vitórias e derrotas a Páscoa de Jesus Cristo.

Celebrar a Páscoa de Jesus significa, então, assumir o grito de tantos irmãos e irmãs que trazem a marca do sofrimento de Cristo. É clamar por libertação, é se reunir em nome da memória de Jesus que venceu a morte: "A morte foi absorvida na vitória. Morte, onde está a tua vitória? Morte, onde está o teu aguilhão"? (1Cor 15,55).

O Mistério Pascal de Cristo é o centro da História da Salvação e, por isso, o encontramos na Liturgia como seu objeto e conteúdo principal. Esse mistério envolve toda a vida de Cristo e a vida dos cristãos. Por sua obediência perfeita na cruz e pela glória da sua Ressurreição, o cordeiro de Deus tirou o pecado do mundo e abriu-nos o caminho da libertação definitiva. Por nosso serviço e nosso amor, mas também pelo oferecimento de nossas provações e sofrimentos, nós participamos do único sacrifício redentor de Cristo, completando em nós o que falta às tribulações de Cristo pelo seu corpo que é a Igreja. (Doc 43, 48 - CNBB).

Portanto, o Mistério Pascal, o mistério da passagem das situações de morte para a vida plena, não se restringe à pessoa de Jesus. O que Deus fez no passado, faz agora, no presente, no meio de seu povo.

 

32.2. A Expressão Significativa

Acima vimos que nos sacramentos e na Liturgia celebramos o encontro entre Deus e o ser humano. Celebramos o movimento de Deus para o ser humano e deste para Deus e que este movimento deve ser traduzido em luta pela justiça, deve ser manifestado no amor fraterno e que isto é Dom, é Graça de Deus. É resposta da fé. Não é mérito pessoal. Nossa resposta a Deus, que sempre passa pela mediação dos outros, é fruto do Espírito Santo.

Deus, na medida em que estabelece um diálogo com o ser humano, não comunica qualquer coisa, mas se comunica a si mesmo como amor e interpela a pessoa toda, todo o seu ser - "Aquele que não conhece a Deus, porque Deus e amor"(1Jo 4,8). Portanto, podemos entender o encontro entre Deus e a humanidade como Comunicação.

O ser humano comunica-se por palavras, gestos e atitudes. Tem uma linguagem verbal (falada) e uma linguagem não-verbal (não falada). Por um lado, a linguagem não verbal é sua própria vida, suas lutas e ações de cada dia. A gente conhece melhor uma pessoa não tanto pelo que ela diz, mas por seu comportamento moral, familiar, profissional, etc. Além disso, a linguagem não-verbal é também composta por gestos que todos entendem: piscar o olho, dar a mão abraçar, inclinar etc. ... Assim, muitas vezes as pessoas se comunicam sem usar a palavra.

 

No gesto simbólico trata-se de expressar de uma cheia de sentido o acontecimento importante. Para captar toda a riqueza da LITURGIA temos que estar atentos à sua linguagem não-verbal: os símbolos, os gestos.

É muito importante entender os gestos simbólicos, porque todos os sacramentos são gestos simbólicos que expressam a ação do Espírito Santo que nos leva a seguir Jesus, nos faz lutar como Ele lutou.

Na liturgia, os gestos simbólicos têm um significado além deles mesmos. Quando se usa uma coisa num gesto simbólico, esse objeto se transforma, se ilumina, tem um novo sentido, que não tinha antes.

Tomemos como exemplo dois pedaços de madeira. Enquanto pedaços de madeira poderiam servir para fazer fogo, para cozinhar a comida ou poderiam ter qualquer outra utilidade. Quando alguém pega dois pedaços de madeira cruzada um com o outro formando uma cruz, esses pedaços de madeira se transfiguram, tomam um sentido novo que não tinham antes. A madeira não é mais madeira. Agora lembram a cruz de Cristo. Se essa cruz é usada numa romaria da terra, a caminhada com a cruz lembra a luta de Jesus e sua vitória: lembra a luta dos camponeses, dos sem-terra, que lutam por causa da esperança na Ressurreição de Jesus, acreditam que um dia a justiça vencerá, a terra será livre, têm esperança que "um dia vai ser melhor". É por isso lutam...

Assim como o agricultor transforma a natureza com seu trabalho: de um matagal faz a lavoura; o operário transforma o ferro em automóvel; o povo organizado e ungido pela luta transforma a situação de injustiça em mais justiça; do mesmo modo, quando a gente faz com um objeto um gesto simbólico, estamos transformando um pouco de realidade. A madeira (um pouco de realidade) é transformada em cruz, que é carregada em caminhada. Essa caminhada lembra a luta dos camponeses. Na cruz está a luta de Jesus, mas também está a luta do povo que crê.

Ao fazer um gesto simbólico, alguma porção do mundo já se transformou em coisa nova. Na LITURGIA, o gesto simbólico se ilumina com a luz de Cristo. O gesto simbólico muito mais que nossas palavras. Ele nos faz olhar a realidade presente e sonhar com a futura: o Reino de DEUS. Por isso o gesto simbólico não tem sentido por si mesmo, mas por aquilo que aponta.

Nos Sacramentos, o gesto simbólico aponta sempre para o que foi a vida de Jesus e para o sentido de sua vida vista a partir da Ressurreição. E é olhando a partir da Ressurreição de Jesus que nossa luta recebe seu grande sentido. Esta realidade maior e final (a Ressurreição) é que celebramos nos sacramentos, através dos gestos simbólicos.

Criar um símbolo, fazer um gesto simbólico, não é simplesmente pôr outro sentido numa realidade num objeto qualquer, seja por convenção (seria mero SINAL exterior à realidade, ao objeto), seja por ALEGORIA (não levaria a sério a realidade, o objeto) Para que haja gesto simbólico, a realidade, o objeto tem de ser levado à sério, de tal forma que o símbolo também sirva de mediação da realidade. Caso contrário a realidade, o objeto não é transfigurado, transformado. Por exemplo: usar uma panela como tambor não é gesto simbólico, pois panela não se destina a ser instrumento musical. Entretanto, bater no fundo de panelas vazias para expressar a fome do povo, é um gesto simbólico, pois a batida na panela não se destina a acompanhar uma música, mas recordar sensivelmente que ela está vazia e o povo passando necessidade.

Quando no gesto simbólico a matéria, o objeto é levado à sério torna-se uma denúncia de que a matéria, o objeto (no caso a panela) está sendo mal usado na vida, na realidade histórica e que precisa ser transformada. Assim, o gesto simbólico realiza, a sua maneira e a seu nível próprio, o que o ser humano concretiza pela luta: transformar a história, as relações sócias e a si mesmo.

Desse modo o gesto simbólico, antecipa a meta, o objetivo que impulsiona a luta: um mundo melhor para todos. Feitos na fé, na liturgia, o gesto simbólico é um antecipação a realidade total e final do REINO DE DEUS.

Quando no gesto simbólico, as pessoas se fixam nele e não no que ele significa, no simbolizado por ele, ou seja, a experiência de vida ele perde seu significado tornando-se mero ritualismo, porque o gesto simbólico já não manifesta, mas oculta as intenções reais.

 

3.2.3. A Importância da Palavra na Celebração dos Sacramentos.

O que faz a festa ficar "gostosa" é o Acontecimento que se celebra. O motivo faz parte da festa. É a Narração do acontecimento festejado que dá sentido à festa.

Na celebração litúrgica dos Sacramentos a Palavra tem a grande função de ligar o  Gesto Simbólico ao Acontecimento festejado.

A Palavra na celebração dos sacramentos não é como o informe ou o relato feito por um jornalista que comunica acontecimentos de uma maneira fria, objetivo preocupado com a maior exatidão possível dos detalhes. O relato do jornalista supõe que o passado é sempre passado, enumera os fatos de forma distanciada.

A PALAVRA na LITURGIA é narração! A função primária da Palavra na liturgia é ser narração. A distinção entre narração, e ‘relato' ajuda a explicar o significado e a função da Palavra na celebração litúrgica.

è O Relato ou Informe caracteriza-se por ser uma comunicação objetiva, preocupada com a exatidão dos fatos. E nessa medida é algo acabado, pertencente ao passado ao qual nada se pode acrescentar para manter sua veracidade.

è A linguagem narrativa, interpreta o significado e a importância do acontecimento. Narrar um fato é entrar em sua realidade única e irreversível olhando a sua possibilidade passada (do qual saiu) e as suas possibilidades futuras e deste modo dar à realidade passada um futuro. Enquanto o relato mantém o acontecimento no passado na narração, existe uma tensão entre passado e futuro. Ela quer atualizar o passado e possibilitar o ouvinte vivenciar o acontecimento narrado. Ela fala à experiência de quem ouve.

Diferentemente do relato, cativo da lei da necessidade, dada sua objetividade na descrição do fato, a narrativa é portadora da plasticidade que permite criar um espaço para aquilo que parece vital ao ouvinte. "A narração se move no meio entre a possibilidade arbitrária do ‘assim e também de outra maneira' por uma parte e a necessidade do ‘assim e não de outra maneira' por outra parte. Sem cai na arbitrariedade, enraizada ao ocorrido, a narração pode explicitar em um acontecimento mais aspectos do que os constatados no momento do acontecer a narrativa retira do passado suas possibilidades e assim abre o futuro ao passado. Através da linguagem narrativa, a história sucedida vai adiante como história que sucede.

è A Palavra na liturgia não pertence à linguagem constativa, ou seja, àquela que se limita em relatar acontecimentos, descrever objetos, transmitir conteúdos de informação. O que a caracteriza é ser uma certa forma de ação, e que ela realiza alguma coisa; em uma palavra, ela tem uma operatividade.

J. Ladrière, constata tríplice operatividade na linguagem litúrgica, a partir da análise dos pronomes pessoais, dos verbos operativos utilizados na liturgia: a de uma indução existencial, a de uma instituição e a de uma presentificação.

è Ele denomina Indução Existencial uma operação pela qual uma forma expressiva desperta naquele que a assume, uma certa disposição afetiva que abre a existência a um campo específico da realidade. A afetividade não deve ser restrita à emoção ou sentimento, mas deve ser compreendida como receptividade aberta à realidade. Na linguagem litúrgica trata-se de abertura a acolhida é realidade da salvação que vem de Deus por Jesus Cristo, abertura receptiva aquilo que está sendo anunciado nos textos lidos, àquilo que é celebrado nas palavras de louvor, nas palavras de ação de graças, nas palavras do cânon. Todas essas palavras preparam a alma para ouvir o que elas propõem e efetuam. Nesse sentido a linguagem litúrgica é auto-implicativa: envolve a pessoa toda, toca por dentro, estabelece encontro com Deus. É também performativa, leva a pessoa a modificar sua práxis, induz à conversão.

è Instituição. O ‘nós' indica a pluralidade de locutores, mas que agem de maneira coletiva, tornando-se um só locutor. "A linguagem não é a expressão de uma comunidade constituída, antes dela e fora dela; também não é a descrição do que seria uma tal comunidade. Ela é o lugar e o instrumento pelo qual a comunidade se constitui e é na medida em que ela dá a todos os participantes, como colocutores, a possibilidade de assumir os mesmos atos, que ela estabelece entre eles essa reciprocidade operante que faz a realidade de uma comunidade". A comunidade que recebe das palavras da liturgia, sua coesão, sua estatura, é apenas uma célula constituinte do tecido maior é a Igreja - Corpo do Cristo.

è presentificação é o aspecto mais fundamental da operatividade da linguagem litúrgica. Através dela se torna presente para os participantes, não como um espetáculo a ser visto, mas como realidade cuja efetividade eles assumem em sua própria vida, aquilo que ela diz, o que ela cria de diferentes maneiras: O Mistério Pascal. A presentificação deve ser entendida na estrutura do tempo da salvação, na tensão entre o já acontecido e o anúncio do esperado, do ainda-não realizado. "O presente, é um momento que se inscreve entre um acontecimento fundador que ela reatualiza, e um horizonte de realização que ela antecipa".

è Na liturgia, a palavra faz surgir a força do símbolo. Este por si, não se liga ao passado, à história da salvação. Santo Agostinho, referindo-se ao batismo, explicita seu significado, quando escreve: "é a Palavra que purifica; suprima-se a Palavra, e que é a água senão simplesmente água? A Palavra une-se ao elemento e este se torna um sacramento, que é como que uma palavra visível". A palavra e os símbolos litúrgicos possuem a capacidade de conter todo o peso da história da salvação e, ao mesmo tempo, de enraizar-se nas profundeza do inconsciente pessoal e coletivo.

 

Gesto Simbólico

É fundamental para que haja comunicação humana que as palavras, os gestos, os sinais sejam compreendidos, que atuem como ponte entre os interlocutores.

Para percebemos o sentido profundo da comunicação do gesto simbólico é indispensável penetrarmos na complexidade e riqueza do símbolo.

 

Símbolo

A palavra grega símbolo (syn-bállein = unir) designava originalmente um anel duplo, uma placa ou um caco de barro quebrado em dois. A aproximação das duas partes quebradas era sinal de reconhecimento, de unidade, de amizade entre aliados ou iniciados. A primeira função do símbolo é criar vínculo, uma relação amistosa entre as pessoas. Devemos ter sempre presente o fato de que o símbolo decorre de um ato social. Symballein, na sua forma transitiva, significa pôr comum, reunir, intercambiar, e na sua forma intransitiva, encontrar-se, juntar-se.

A partir desse significado, foi dado o nome de símbolo a toda realidade concreta que evocasse, mediante certo tipo de relação, qualquer outra coisa ou algo impossível de ser percebido empiricamente. O símbolo tem a função de transpor barreiras e cisões, a fim de reunir coisas que antes tinham sido separadas. O efeito do símbolo é sempre integrador: seja a integração da pessoa consigo mesma, seja com os demais seres humanos, seja com a natureza, seja com o próprio Deus.

Somente o ser humano pode dar, deste modo, sentido às coisas e, por isso, distingue-se dos animais. "Definir o homem como homo symbolicus equivale a dar a definição mais coerente e adequada que hoje temos condições de apresentar do ser humano". Definir o ser humano como animal simbólico é reconhecido nele um dos traços que o definem e o diferenciam dos demais animais, é sublinhar sua capacidade de simbolização que começa com a linguagem e culmina com a simbolização da relação da pessoa com o mundo e com as coisa. Portanto, o símbolo não é algo exclusivo das crianças. Das pessoas neuróticas, ou dos povo primitivos. É consubstancial do ser humano, constitui uma parte fundamental da sua vida espiritual, e é anterior à linguagem e à razão discursiva.

"O símbolo revela certos aspectos da realidade - os mais profundos - que se negam a qualquer outro meio de conhecimento. Imagens, símbolos, mitos não são criações irresponsáveis da psique, respondem a uma necessidade e preenchem uma função pôr a nu as modalidades mais secretas do ser".

Elencar algumas características do símbolo nos ajudarão a compreender o que é o gesto simbólico e sua importância constitutiva do universo litúrgico.

 

Características do Símbolo

a) Símbolo é, em sua constituição mais elementar, a expressão de uma experiência. Isto implica que para haver símbolo é absolutamente necessário que haja experiência humana, vivida desde a profundidade do ser. Sem ela, não pode haver símbolo. Exatamente porque o ser humano vive experiências fundamentais que penetram suas raízes no inconsciente, essas experiências não podem ser assumidas e expressadas senão mediante as expressões de comunicação que chamamos símbolo.

O símbolo não é criação individual precede o indivíduo, nasce no seio de uma coletividade, dela se nutre e nela adquire sentido. O ser humano não fabrica os símbolos de acordo com o seu arbítrio, nem entra a seu arbítrio nos símbolos coletivamente gerados, para viajar pela vida como se viaja em um automóvel.

b) A experiência, expressada pelo símbolo, comporta uma dimensão não racionalizável, não expressa por palavras, não redutível a estruturas puramente racionais. Por isso, no símbolo existe algo que não existe no sinal. O sinal consiste na união do significante com um significado, porém, o significado é sempre um conceito. No símbolo se dá precisamente, como constitutivo específico, um componente não conceitualizável (não expresso em palavras).

c) O símbolo tem uma força interna, uma potência intrínseca. Tem tal força, porque se constrói especificamente em virtude da correspondência que se dá entre as pulsações inconscientes e sua expressão externa.

d) O símbolo não significa em sentido próprio, mas sempre figurado. Isto  quer dizer que, quando se trata de um símbolo, tanto a pessoa que o coloca, como quem o recebe, não se orientam para ele, mas para o que se quer expressar mediante o símbolo, ou seja, para a experiência humana que está em jogo e que se expressa mediante o símbolo.

e) O símbolo pode ser contemplado. O símbolo remete sempre para um além de si mesmo. Por isso, o misterioso, o inefável, o que por si mesmo é essencialmente invisível, pode ser oferecido mediante o símbolo. Trata-se de realidades que nos remetem a uma totalidade de sentido na experiência humana. Uma experiência de totalidade não pode ser abarcada, nem descrita, por nenhuma palavra, por nenhum sinal convencional. A totalidade de sentido que resulta inevitavelmente invisível, se nos mostra e se nos oferece mediante o gesto externo, gesto simbólico, que nos remete para além dele mesmo. Na liturgia, o símbolo, aponta para Deus presente dentro dele. Deus é apreendido não com o símbolo, mas no símbolo. O específico do símbolo é ser epifania do mistério, manifestação do indizível. O símbolo nos abre para a transcendência no seio da imanência, aponta para a presença no meio da ausência, remete à comunicação quando se experimenta a solidão. Mas precisamente pelo seu caráter inexaurível, o símbolo além de desvelar, vela, em vez de manifestar oculta, para não dissolver o mistério.

O símbolo pressupõe um código socialmente admitido de comunicação, quer dizer, a expressão externa e simbólica, que assume e comunica a experiência profunda. Tem de estar socialmente admitida pela cultura na qual o símbolo se põe. E tem que estar admitido culturalmente como expressão de tal experiência.

→ A oposição entre símbolo e realidade, simbólico e histórico não tem razão de ser. O simbólico relaciona-se os mais real e profundo da pessoa e seu mundo. O simbólico não implica negação do histórico, nem o exclui. O simbólico é independente do histórico, mas não o substitui. O faz é enraizar o histórico no real.

O símbolo não luta contra a razão, nem a razão deve buscar a eliminação do símbolo. O símbolo não é simples adorno da razão, nem exerce função subsidiária do conceito. Há uma razão simbólica que amplia o horizonte da razão na perspectiva do positivismo e empirismo destruidora do símbolo. A razão simbólica caracteriza-se pela quantidade, pela alteridade e pela não manipulação. É uma razão solidária, dialógica e respeitosa com as outras formas de racionalidade.

O símbolo foge a todo esquema de valor, a toda concepção utilitarista e produtivista da vida e do ser humano. Não move-se no quadro do valor mercantil nem do valor de uso do objeto. Um presente, por exemplo, sem grande valor pode ser mais estimado do que um presente de custo elevado. Na essência do símbolo está o carecer de valor de mercado. O que importa não é o valor, nem a utilidade social ou econômica, mas a comunicação entre sujeitos. Esse é precisamente o significado originário do conceito "símbolo".

→ apresentadas essas característica do símbolo a noção de gesto simbólico emerge com facilidade. No símbolo uma realidade tangível é referenciada a outra realidade, à totalidade de sentido. No gesto simbólico a realidade que remete à outra, é uma atitude, um gesto humano. Ou seja, a pessoa expressa a totalidade de sentido. Sem a mediação de qualquer objeto, mas unicamente através de seu corpo. Contudo, também é possível expressar-se mediante uma realidade material, como por exemplo, dar um presente, carregar o andor do santo da devoção na procissão.

"No e pelo gesto simbólico alguém está presente ao outro e não abstratamente, mas na forma concreta do gesto, como o gesto a manifesta".

→ A ação simbólica goza de uma vicariedade, ou seja, inaugura para quem dela participa uma capacidade cuja realização figurada já é fornecida, em nosso caso, a do encontro reconciliador do ser humano com Deus e dos seres humanos entre si. O limite, provindo dessa mesma vicariedade, é que a realização que ela apresenta não chega a consumar-se efetivamente nela; isto não por falta de realismo e de eficiência, mas porque sua eficiência para ser plena, requer a totalidade da vida. A liturgia realiza simbolicamente o que nos resta a fazer. Faltando essa compreensão é a verdade mesma da celebração que está sendo alterada.

Desse modo, o ato salvador do pai, plenamente realizado em Jesus Cristo sob o véu dos acontecimentos históricos, essa mesma ação salvífica, realiza-se sob o véu do símbolos culturais da Igreja. Participamos nos dois acontecimentos não apenas de pensamento e ação de graças, mas tomando parte no mesmo ato de Cristo. "O rito litúrgico não pretende arrebatar o favor de Deus, mas receber dele a salvação histórica e escatológica realizada em Jesus Cristo, Senhor da história enquanto criador e redentor".

Aparentemente, a liturgia cristã compartilha das concepções que regulam os cultos não-cristãos, fundados numa distinção dualista entre o mundo profano e o mundo sagrado. Para viver sem excessiva tensão, o ser humano organiza, delimita os campos com precisão e estabelece ritos de passagem, de transição de uma esfera à outra para aliviar a tensão, adquirindo a paz e a harmonia do sagrado. A participação no mundo do sagrado tende a substancializar as coisas ou realidades a ponho de serem classificadas quase ontologicamente em sagradas e profanas. Admitir tal segregação é cair na idolatria.

Na visão cristã da salvação existe uma tensão simbólica entre a criação e o cumprimento. Deus leva progressivamente a sua perfeição a toda criatura. Na perspectiva da teologia da criação "as coisas não são sagradas em si mesmas, mas podem ser consagradas; assumida pelo homem como expressão de sua relação com Deus", mediante a assunção intencional. Entre as coisas criadas não existem umas mais próximas e outras mais distantes de Deus. Tudo está próximo de Deus, tudo é obra Sua, e portanto, toda criação pode servir para encontrá-lo. A distância se dá não entre criatura e criatura, mas entre criador e criatura.

O caráter sagrado da liturgia indica a unidade e a tensão da criação inteira para a santidade, para a plenitude da vida de Deus. As coisas, os gestos, as palavras, os lugares devem referir-se à totalidade da vida cujo sentido profundo manifesta-se na consagração e na assunção intencional.

O símbolo, o gesto simbólico, são expressões de uma experiência, logo devem brotar de dentro, do interior da pessoa. Por conseguinte, pareceria que não tem sentido regulamentar o uso de gestos simbólicos. Sem dúvida essa é uma conclusão apressada. A experiência humana comporta gestos simbólicos regulamentados. Trata-se do rito.


Vários significados para Sacramentum Mysterium (Síntese final de uma pesquisa de Leonardo Boff e, publicada sob o título "O que significa propriamente o sacramento Rb 84 (1974) pp. 860-895. cf. pp. 894-895). Se lançarmos um olhar sobre a linha evolutiva do conceito mysterium - sacramentum resulta um quadro bastante detalhado. Nota-se que o conceito no decorrer da história sofreu uma sempre mais crescente restrição na determinação de sua natureza.

a) Sacramentum pode traduzir o mysterium noetestamentário, significando o plano da salvação de Deus.

b) Sacramentum-Mysterium pode significar o próprio Jesus como o mysterium de Deus (Cl 2,3), em quem o plano salvífico de Deus alcança o seu ponto alto de concretização.

c) Sacramentum-Mysterium significa os fatos da vida de Jesus, seu nascimento sua morte e ressurreição mysteria et sacramenta carnis Christi (os mistérios e sacramentos da carne de Cristo).

d) Sacramentum-Mysterium pode indicar as fases do plano da salvação de Deus, ou seja:

- a história antes de Cristo como figura, typus, symbolo (figura, tipo, símbolo) e promessa da realidade futura:

- a história de Jesus como realização das promessas e do eschaton (fim) presente:

- a história depois de Jesus como tempo da Igreja continuação da ação salvífica e, ao mesmo tempo tipo e promessa da obra da salvação definitiva num "novo céu e numa nova terra.

e) Sacramentum-Mysterium é usado para significar o aspecto visível dos mistérios cristãos e dos mistérios da economia da salvação, ou seja no sentido estrito da palavra. Isto é, a revelação cristã como um ensinamento revelado por Deus que ultrapassa a razão humana.

f) Sacramentum-Mysterium significa o aspecto visível dos mistérios cristãos e do plano da salvação de Deus. O Sacramentum contém um mysterium, ou o mysterium mostra-se manifesta-se no Sacramentum.

g) Sacramentum-Mysterium significa a união do visível com o invisível, que se torna compreensível apenas para os fiéis iniciados, permanecendo incompreensível aos que estão fora.

h) Sacramentum-Mysterium contém mysteria et sacramenta carnis Christi (mistérios e sacramentos da carne de Cristo). Isto é, os eventos da vida de Cristo celebrados e tornados presentes na comunidade de culto: a Liturgia da Igreja em  toda a plenitude.

i) Sacramento-Mysterium tem o sentido dos setes sacramentos, ou seja, daquelas ações litúrgicas da Igreja que tornam presentes e comunicam a cada homem, em determinadas circunstância da vida, a salvação e o plano da salvação de Deus.

j) Sacramentum em sua última redução pode significar o sinal externo da salvação, a faceta externa da própria graça em sua tendência encarnatória e eclesial em relação ao ser humano sacramental: o assim chamado Sacramentum tantum (o sacramento tão somente) da teologia dos manuais.

A breve história da palavra mysterium-sacramentum, nos diversos significados, quis trazer novamente à luz toda a riqueza desta palavra: forma visível da graça invisível Santo Agostinho. Todos os significados apóiam-se sobre uma base comum, a unidade repleta de tensão do divino e do humano, do temporal e do eterno, do visível e do invisível. Como desejamos mostrar ainda, trata-se "na doutrina da Igreja antiga sobre o mysterium-sacramentum, não de algum ensinamento esporádico, mas de uma estrutura geral de uma visão que tornava transparente toda a economia da salvação bem como cada uma de suas partes. Esta estrutura consiste exatamente no fato de Deus nos ter visitado em nossa corporeidade com sua salvação e seu filho. Esta estrutura do pensar sacramental deve ser analisada mais de perto, para que a sua importância, sobretudo, em sua aplicação aos sete sacramentos possa ser devidamente aproveitada e possam ser removidas as dificuldades provenientes do pensar moderno secularizados, científicos-técnicos e pragmáticos.

Para a compreensão do sentido da narração e os vários tipos de linguagem narrativa na Bíblia, veja-se G. Lohfink. Agora Entendo a Bíblia. Paulinas, São Paulo, 1978, pp. 55-148. Para a estrutura a característica linguística da narração, com ampla bibliografia, veja-se E. Jüngel. Dios Como Mistério del Mundo. Sigueme, Salamanca, 1984, pp. 391-403.

E. Jüngel. Op. Cit., p 392.

"As histórias mais importantes estão dirigidas à fé, exigem do leitor que o mesmo se transforme em agente da narração e siga (= imite) as ações narradas. Seu interesse se cifra na história já contada ou repetida que afeta ou impressiona ao ouvinte e faz que se transforme em agente da palavra, de tal maneira que possa voltar a ser narrada por ele". Ibidem, p. 396.

"O interesse prático ao qual se orienta o narrador, não vai imediatamente à ação, mas quer tomar experimentável o que sem a palavra narrativa não se entende por si mesmo, porém graças à palavra narrativa aparece como algo evidente por si mesmo. O que se provoca primariamente não é a razão prática, mas o juízo". Ibidem, p. 396.

Ibidem, p. 392.

"À diferença da liberdade da fábula, porém também à diferença da necessidade do conceito a narração é uma fala triunfadora, na qual se há de chegar a que a história passada libere de novo suas possibilidades mais íntimas. Se essas possibilidades não são liberadas, então a narração do real não teve consideração ao possível e a historicidade da realidade (narrada a historicamente) falhou e com a historicidade juntamente falhou a essência da narração". Ibidem.

Ibidem p. 393.

J. Lidriere. artigo citado in pp. 183-194. Neste artigo, o autor, apoiado na distinção entre linguagem constativa e performativa elabora por J. L. Austin, in Philosophical Papers (Oxford 1961) e How to do things with words. Oxford, 1962, aplica-a à liturgia. Aqui p. 184. o relevo é nosso.

Cf. Ibidem, p. 188-194.

Cf. Ibidem, p. 190.

Ib., p. 191

Ib., p. 193

Aa Vv. Os Sacramentos, vol. 11: Iniciação à Teologia, 1ª série, Paulinas, São Paulo, 1980, p 35.

L. M. pinkus. Símbolo e Liturgia, in Dicionário de Liturgia, p. 978.

Cf. Os Sacramentos. Op. Cit., pp. 25-26.

Ver arte in L. M. pinkus. Op. Cit., p. 978.

ELIADE, M. Imagnes u Símbolo, Taurus, Madrid, 1974, p. 12

Nos fundamentamos em CASTELLO, J. M. Símbolos de Liberdad, pp. 176 - 179

no mundo da sexualidade, o abraço, o beijo ou a carícia comunicam muito mais que todo um tratado sobre o assunto. A experiência do amor não pode se comunicar em profundidade, senão mediante expressões simbólicas.

Acosta T.J.J. Os Sacramentos Liturgia do próximo, Paulus 1998, p. 101

o que numa determinada cultura pode ter grande força simbólica, noutra, pode ser considerado um gesto desagradável. Por exemplo, no Brasil não é comum homem beijar homem. Também é necessário que o símbolo seja admitido na cultura. Entre nós não se aceita a magia negra.

TABORDA, F. Sacramento Práxis e Festa. P. 70.

MANIGNE, J.P art. cit. P. 180.

FERNANDEZ, P. Que é Celebrar..., p. 243.

RUBIO, A. G. Unidade na Pluralidade, p. 491. no contexto, o autor justifica o emprego do termo consagração, embora outros teólogos prefiram usar santificação: por ser um termo menos equívoco, por conectar o profano, respeitado como tal, com o Deus salvador, e consagração poder ser entendido mágico. Apesar desse inconveniente esse termo tem a vantagem de apontar para a realidade de que as coisas criadas não são neutras. Apontam por elas mesmas para o único sagrado em si mesmo que é Deus. "Na consagração, assunção intencional humana e orientação para o sagrado, presente nas coisas criadas, articulam-se mutuamente. Por isso, preferimos continuar a usar o termo consagração, no sentido explicado". Ibidem, p. 491.