JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Ut Unum Sint.: sobre o empenho ecumênico. [in São Paulo, Loyola, 1995].

 

UtUnum Sint: "que todos sejam um"[Jo 17, 21]

(dividida em Três Capítulos)

  1. Empenho ecumênico da Igreja Católica

1. Questão: Como atualizar e expandir o mistério de comunhão reunindo todos em Cristo, ‘sacramento inseparável de unidade'?

2. Tese: Deus quer a unidade da humanidade na comunhão, que implica conversão, renovação, baseada na oração comum, estruturada no diálogo de consciência e resolvendo a divergência com gestos concretos.

3. Argumentos:

3.1. Bíblicos: AT, desejo de Deus Ez 37, realizado em Xto NT, Jo 11, .

3.2. Teológico: O Pai envia o Filho, que cumprindo a missão, envia o Espírito da unidade para congregar a todos no amor, razão da oração para que todos sejam um. Todo batizado, morto e ressuscitado em Xto, deve buscar a unidade, senão é um escândalo e uma contradição ao mundo.

3.3. Vias:

-          Eclesial è Deus Uno e Trino inspira o desejo de união (graça), numa visibilidade e unidade eclesial, buscando a salvação de todos.

-          Unitatis Redintegratio: reconheçam os sinais dos tempos e participem do trabalho da unidade (construída pelo vínculo da fé, sacramentos e comunhão hierárquica; quereres Xto, unidade, Igreja, comunhão de graça):

-     A Igreja de Cristo subsiste na Católica, mas há elementos de eclesialidade noutras comunidades cristãs e igrejas

-     Necessidade de conversão do coração, levando a renovação numa reforma perene.

-     Importância da doutrina que não modifica o depósito da fé.  Lembra outro documento conciliar Dignitatis humanae liberdade religiosa

-          Ecumenismo não é apêndice, mas algo da vida e da ação da Igreja.

-          Primado da oração: ecumenismo espiritual, na oração em comum o amor encontra a expressão mais acabada (dá vida e infunde vigor), impetra a unidade! Na comunhão de oração Xto está realmente, reza em nós e por nós. Verdade: não estamos em plena comunhão, mas se reza em janeiro ou na semana antes de Pentecostes: expressão da realidade insondável da paternidade de Deus e a verdade sobre a humanidade própria de cada um e de todos. Oração é a alma da renovação ecumênica.

-          Diálogo: é preciso deixar antagonismos e conflitos, sempre pronto a querer a reconciliação, de unidade e de verdade, desaparecendo manifestações de confrontação recíproca. Diálogo que não é unilateral (só da Sé Apostólica), que é um exame de consciência dos cristãos e apesar das divisões a unidade é tarefa possível de ser realizada. Por fim, diálogo que resolva as divergências, confrontando pontos diversos, superando obstáculos a plena comunhão, com auxilio de teólogos católicos, fiéis à doutrina da Igreja e de outros assessores. Ecumenismo autêntico:  graça de verdade.

-          Todo teoria só tem sentido quando praticado, daí o mesmo se dá com o ecumenismo!

 

4. Resposta: Para que tal desejo seja cumprido é mister prática, seja pastoral, cultural, social e principalmente no testemunho (martírio) evangélico, como epifania crística, numa comunhão fraterna que conduz a unidades dos cristãos.

 

 

  1. Os frutos do diálogo

1. Questão: Há fruto no ecumenismo?

2. Tese: Os irmãos (outros batizados, encarnados em Xto) não são inimigos e quando dialogam frutificam a comunhão e o desejo do próprio Cristo: a unidade.

3. Argumentos:

3.1. Batismo: fraternidade reencontrada - pelo batismo cria-se a fraternidade universal, cristãos se convertem a uma caridade fraterna que abraça todos os discípulos de Xto.

3.2. Antropologia (teológica/etica) e justiça social: a solidariedade no serviço à humanidade - participação de cristãos em projetos em defesa do homem (defesa dos direitos e combate a insjustiça/ Solicitudo rei Socialis) e necessidades de todos.

3.3. Bíblia: convergência da palavra de Deus e no culto divino - tradução ecumênica e a reforma litúrgica (o que é essencial!)

3.4. Valorizar os bens doutros; apreciar os bens presentes nos outros cristãos - bens verdadeiramente cristãos oriundos de um patrimônio comum.

3.5.  Eclesiológico/koinonia/ Oriente :Crescimento da comunhão - fruto do diálogo teológico e as relações entre cristãos. Diálogo com as Igrejas do Oriente - manifestação pública da procura da comunhão, daí a valorização da tradição litúrgica e da sagrada tradição (restauração da comunhão entre latinos e orientais). Restabelecimento dos contatos: autoridades, perdão mútuo e compromisso solidário. Igrejas irmãs: estruturas de unidade que existiam antes da divisão que são um patrimônio de experiência que guia o nosso caminho ao reencontro da plena comunhão, daí (reafirmação da comunhão de fé que existe), tira ações pastorais úteis à vida (Orientalis ecclesiarum). Constatação dos Avanços nos diálogos (1979 ..) com a Comissão mista internacional; demais Igrejas Orientais que já estão em comunhão com a Igreja Católica, o Concílio exprimiu seu apreço agradecendo a Deus pelos muitos filhos orientais da Igreja Católica, que vivem em plena comunhão com os irmãos ocidentais. Todo patrimônio espiritual, litúrgico e teológico à plena catolicidade e apostolicidade da Igreja. O papa ressalta os seus encontros com vários desses patriarcas orientais.

3.6. Diálogo com as outras Igrejas e Comunidades eclesiais no Ocidente: laços de afinidade devida à convivência do povo cristão durante os séculos passados, reconhece (entre estas Igrejas e Comunidades e a Igreja Católica) discrepâncias consideráveis de índole histórica, sociológica, psicológica, cultural, sobretudo, de interpretação da verdade revelada. Diálogo plurilateral com  "Grupo Misto de Trabalho" 1964 com o Conselho Ecumênico das Igrejas e desde 1968 teólogos católicos tomam parte dele como membros de plenos direitos no Departamento teológico do referido Conselho através da Comissão "Fé e Constituição". Diálogo fecundo e rico de promessas e com reflexões sobre muitas questões controversas como o Batismo, a Eucaristia, o Ministério ordenado, a sacramentalidade e a autoridade da Igreja. Tal esforço tem merecido o elogio de toda a comunidade ecumênica. Busca difícil e delicada acompanhada pela oração da Igreja Católica e das outras Igrejas e Comunidades eclesiais.

3.7. Relações eclesiais e colaboração realizadas: agradece a Deus os progressos na busca da unidade, papa cita vários episódios históricos positivos, contatando que abundam nas Igrejas locais as iniciativas e ações em favor da unidade dos cristãos: empenho das Conferências Episcopais, das dioceses e das comunidades paroquiais têm sido de grande importância. Salienta além do fruto do louvor e ação de graças, o viver da justiça na sincera caridade para com o próximo. A vida social e cultural oferece amplos espaços de colaboração ecumênica. Comunhão de fé entre os cristãos oferece uma base sólida para sua ação conjunta não só no campo social, mas, também, no âmbito religioso. Interesse ecumênico pela PAZ.

 

4. Resposta: Há um terreno fértil onde se pode colher os frutos do diálogo, seja em níveis bíblicos, antropológicos, eclesiológicos como também no campo social e cultural, revelando o rosto de Xto. Enfim, ‘quando o nosso olhar percorre o mundo, a alegria invade o nosso espírito e constatamos que os cristãos se sentem cada vez mais interpelados pela questão da paz'.

 

  1. Quanta est nobis via?

1. Questão (colocado pelo próprio título): Quanto tempo nos falta?

2. Tese: O escopo do ecumenismo é restabelecer a plena unidade visível de todos os batizados.

3. Argumentos:

3.1. Intensificar diálogo: os frutos até agora são uma etapa (prometedora e positiva); ecumenismo que implica recordar a herança deixada pelos Apóstolos". Da unidade fundamental ir para visível para realizar o sinal da comunhão plena na Igreja uma, santa, católica e apostólica.

3.2. recepção dos resultados obtidos: não são apenas simples afirmações das Comissões bilaterais, mas, tornam-se patrimônios comuns (amplo e cuidadoso processo crítico que analise e verifique com rigor a sua coerência com a Tradição de fé recebida dos Apóstolos e vivificada na comunidade dos crentes reunida ao redor do Bispo seu legítimo Pastor, com a assistência do Espírito Santo.)

3.3. Continuar o ecumenismo espiritual e testemunhar a santidade: cada um deve procurar os próprios erros e confessar as suas culpas, colocando-se nas mãos de Jesus Cristo, assim poderemos oferecer base sólida àquela conversão dos indivíduos cristãos e à contínua reforma da Igreja. esforço de envolver as Comunidades cristãs neste espaço espiritual onde Cristo induz a todos.

3.4. Contributo da Igreja Católica na busca da unidade dos cristãos: Unitatis Redintegratio sublinha que a plena unidade só se realizará quando todos participarem da plenitude dos meios de salvação que Cristo confiou à sua Igreja, diálogo ecumênico esforça-se por suscitar uma recíproca ajuda fraterna na qual as Comunidades se dedicam a dar mutuamente aquilo que cada uma tem necessidade para crescer, tal dinamismo de mútuo enriquecimento deve ser seriamente considerado, baseado na comunhão, não deixará de impelir à comunhão plena e visível, meta suspirada do caminho que estamos realizando.

3.4. O ministério da unidade do Bispo de Roma: Entre todas as Igrejas e Comunidades eclesiais, a Igreja Católica está consciente de ter conservado o ministério do Sucessor do apóstolo Pedro, o Bispo de Roma que Deus instituiu como "perpétuo e visível fundamento da unidade". O papa roga que o Espírito Santo dê sua luz aos pastores e teólogos das diversas Igrejas para que possamos procurar, evidentemente juntos, as formas mediante as quais o ministério do Bispo de Roma possa realizar um serviço de amor, reconhecido por uns e outros. Tal tarefa tem de ser executada em comum e não de forma unilateral, da parte do Bispo de Roma.

3.5. Plena unidade e evangelização: perspectiva missionária. Não se pode falar do Evangelho da reconciliação sem se empenhar na ação pela reconciliação de todos os cristãos.

4. Resposta: Visibilidade da unidade se dará com a ação do Espírito Santo, nos esforços contínuos de todos, no intensificar diálogo, no testemunho da santidade, na colegialidade, na missionariedade e na reconciliação de todos os cristãos, ou seja, no tempo que ainda nos resta.

 

 

Exortação: todos os irmãos epíscopos dêem toda a atenção ao empenho ecumênico, promovam a unidade de todos os cristãos na certeza de que a Igreja a isso está obrigada por expressa vontade de Cristo. missão episcopal e obrigação derivante da fidelidade a Cristo, solicitude na restauração da união estende a todos os fiéis, tarefa afeta a cada um em particular, de acordo com a sua capacidade.

Com a oração, a ação de graças e na esperança haveremos de consegui-lo. Só possível pela graça do próprio Deus que deseja tal coisa!