O episódio narrado na leitura do Evangelho do décimo domingo do Tempo Comum á a concretização do programa de Jesus anunciado na sinagoga de Nazaré: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos...”

    Na Galiléia, terra de gente empobrecida, Jesus realiza 14 dos 18 milagres relatados por Lucas em seu evangelho.

    Naim era uma aldeia insignificante da Galiléia. Sabe-se que a vida das aldeias era dura, mas, ao mesmo tempo, seus habitantes tinham profundo senso de solidariedade.

    Muitos textos do Antigo Testamento mostram a predileção de Deus pelos desamparados – órfãos, viúvas, estrangeiros. No presente texto, a compaixão é feita de palavras – “Não chore!" E do gesto de tocar a maca que carrega o defunto. O gesto é significativo, pois tocar um morto, naquela cultura, contaminava. O morto transmitia impureza.

    A compaixão quebra tabus e cria as suas próprias leis. Em vez de Jesus ser contaminado pelo morto, é o defunto que acaba sendo “contaminado” pela palavra de vida: “Jovem, eu lhe ordeno, levante-se!”

    O resultado é a vida que retorna àquele que morrera prematuramente e àquela que perdera tudo com a perda do filho.

    “O morto sentou-se e começou a falar". E Jesus o entregou a sua mãe.

    A reação do povo é, em primeiro lugar, de medo. É a reação típica diante do extraordinário e maravilhoso. O medo é como se o povo dissesse: “Isso só pode vir de Deus”.

    Em segundo lugar, a reação das comitivas presentes é uma aclamação: “Um grande profeta apareceu entre nós, e Deus veio visitar seu povo”.

    Deus ama e quer a vida e nós, também, devemos amá-la e querê-la. A mulher viúva e seu filho morto nos sensibilizam e nos levam à compaixão. Se não nos movem à solidariedade, é porque não temos em nós os sentimentos que havia em Jesus Cristo.

    Tenhamos, como a viúva de Naim, confiança no amor e no poder de Deus e a nossa vida se encherá da plenitude do amor e da serenidade para enfrentarmos as vicissitudes da vida.

    + Eurico dos Santos Veloso

    Arcebispo Emérito de Juiz de Fora(MG).