É importante recordar o nosso caminho à luz do Vaticano II para tomarmos consciência de que ainda precisamos avançar.

Celebramos 50 anos do Concílio Vaticano II (1962-1966). A melhor maneira de celebrarmos o Concílio é descobrir em nossa prática pastoral os frutos das sementes lançadas pelo Concílio e nos deixar questionar pelas sementes que ele lançou e que ainda não frutificaram…

O Concílio é prática muito antiga na Igreja. O primeiro está descrito no livro dos Atos dos Apóstolos 15, quando havia uma discussão, um conflito a cerca das exigências para os pagãos tornarem-se cristãos. Este primeiro Concílio aconteceu na cidade de Jerusalém pelo ano 48.

Concílio é isto: quando a Igreja, através de seus representantes, se reúne para decidir sobre um assunto de seu interesse, seja a nível pastoral, seja a nível doutrinário e tem consciência que a decisão é querida pelo Espírito Santo: “Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós”. At 15,28.

O Concílio Vaticano II foi a vigésima primeira vez que a Igreja Católica reuniu-se através de seus bispos, na cidade do Vaticano, para buscar caminhos para o diálogo com o mundo moderno. Chama-se Vaticano II porque foi a segunda vez que aconteceu no Vaticano, sendo o primeiro nos idos de 1780.

Naturalmente que a ideia de convocar um Concílio não surgiu da noite para o dia, mas existiram fatores que o possibilitaram e exigiram. Podemos dividir estes fatores em externos e internos à Igreja.

Entre os fatores internos podemos citar os movimentos bíblicos, litúrgicos, missionários, ecumênico e patrístico (os padres dos três primeiros séculos).

Entre os fatores externos, contribuíram as transformações e econômicas, políticas e sociais, o aparecimento da Indústria e do proletariado (operários), a revolução comunista de 1917, as duas guerras mundiais, a planetarização da economia, da política e da cultura e a secularização.

O Vaticano II foi convocado pelo Papa João XXIII e encerrado e promulgado pelo Papa Paulo VI. Significou para a Igreja, em primeiro lugar, distanciar-se criticamente do modo como se compreendia: “sociedade perfeita”, “Reino de Deus na terra”, “cidade de Deus” que se opõe e se impõe aos homens. Esta compreensão herdada do passado, há tempo caduca, teimava em sobrexistir. E, em segundo lugar, foi uma exigência para a Igreja de se renovar para cumprir sua missão no mundo moderno, que no entanto, lhe era estranho.

Características do Vaticano II

$1a)     Pastoral – a preocupação principal dos bispos e cardeais não era a discussão sobre um determinado artigo da doutrina, mas buscar caminhos para a Igreja levar a mensagem de Cristo ao mundo moderno de modo vivo e atraente.

  1.  

$1b)    Ecumênico – no sentido de favorecer a unidade dos cristãos. Desde o início estiveram presente, observadores não-católicos e existiam regras a serem observadas para que o texto do documento fosse escrito “em estilo ecumênico”.

  1.  

$1c)     Doutrinário – o fato de ter sido ecumênico e pastoral, não exclui uma intenção doutrinaria, pois a preocupação pastoral e ecumênica exige uma determinada posição doutrinária e o modo de apresentá-la.

$1d)    Ensino autêntico – não se pode diminuir o valor teológico dos pronunciamentos doutrinários do Concílios, alegando que sua finalidade era apenas pastoral, sem condições básicas para autorizados pronunciamentos doutrinários, pois teria faltado a necessária intenção.

$1e)     Diferentemente doutros concílios nos quais a Igreja ensinava doutrina a quem não a aceitasse “seja anátema (excluído/separado/excomungado)”, neste, não existe esta fórmula negativa.

Valor dos documentos

Foram elaborados 16 documentos. Naturalmente nem todos tem o mesmo peso e valor. Os documentos estão assim classificados:

$1a)     Constituição Dogmática: texto que diz respeito à exposição de verdades doutrinarias.

$11.     Lumen Gentium: sobre a igreja, tem a intenção de oferecer um ensinamento mais precioso, sobre sua natureza e sua missão.

$12.     Dei Verbum: sobre a Revelação Divina, se propõe expor a genuína doutrina sobre a Revelação Divina e sua transmissão.

$1b)    Constituição Pastoral: texto que baseado em princípios doutrinários, tem a intenção de exprimir as relações da Igreja com o mundo e os homens de hoje:

3. Gaudium et Spes: sobre a Igreja no mundo de hoje, pretende esclarecer o mistério do homem e cooperar na descoberta da solução dos principais problemas de nosso tempo.

$1c)     Constituição: texto de natureza doutrinaria:

4. Sacrasanctum Concilium: sobre a Sagrada Liturgia, quer relembrar os princípios e normas práticas para a renovação e animação da Liturgia.

$1d)    Decreto: texto com disposições disciplinares:

5. Unitatis Redintegratio: sobre o ecumenismo, quer propor a todos os católicos os meios, os caminhos e os modos que lhes permitam restaurar a unidade entre todos os cristãos.

6. Orientalium Ecclesiarum: sobre as Igrejas Orientais Católicas, estabelece alguns pontos principais para que aquelas igrejas floresçam e realizem com novo vigor apostólico a missão que lhes foi confiada;

7. Ad Gentes: sobre a atividade missionária da igreja, deseja delinear os princípios da atividade missionária.

8. Presbyterorum Ordinis: sobre os ministério e vida dos presbíteros.

9. Christus Dominus: sobre a função pastoral dos Bispos na Igreja.

10. Perfectæ Caritatis: sobre a atualização dos religiosos, propõe tratar da vida e da disciplina dos Institutos religiosos.

11. Optatam Totius: sobre a formação sacerdotal, declara alguns princípios básicos para a formação sacerdotal.

12. Apostolicam Actuositatem: sobre o apostolado dos leigos, sua índole e possibilidades, transmitindo as inscrições pastorais para uma ação mais eficiente.

13. Inter mirifica: sobre os Meios de Comunicação Social, julga seu dever abordar as principais questões ligadas com os instrumentos de comunicação social.

$1e)     Declaração: texto que emite juízo sobre determinado estado de coisas ou sobre um problema concreto.

14. Gravissimum Educationis: sobre a Educação religiosa.

15. Dignitatis Humanæ: sobre a liberdade religiosa.

16 Nostra Ætate: sobre as relações da Igreja com as religiões não cristãs, no seu dever de promover a unidade e a caridade entre os homens e entre os povos, considerando sobretudo o que é comum aos homens e os move a vier juntos o seu destino.