O povo brasileiro tem qualidades humanas de grande valor. Milhares de famílias do Rio, na Jornada Mundial da Juventude, abriram seus banheiros aos peregrinos, gratuitamente, para resolver um problema humano, impossível de solucionar pelo mais organizado país do mundo. Neste mesmo evento, os donos de bares e restaurantes tinham um medo enorme de levar uma "finta" dos jovens, que possívelmente poderiam comer e beber à vontade, e mais do que de repente, sumirem entre a multidão. Pois a nossa juventude toda, honrou os seus débitos, não deixando ninguém no prejuízo. Mas carregamos alguns defeitos, por demais conhecidos entre os outros povos, que nos tiram a objetividade. Trata-se do famoso jeitinho brasileiro, cuja tendência leva a burlar as leis. Ainda não assimilamos que 'a verdade vos libertará" (Jo 8, 32).

Mas persistem em nosso meio, cá e acolá, defeitos que precisam ser eliminados progressivamente. Entre esses cito, em primeiro lugar, a intolerância com o sucesso alheio. Conheci um restaurante, de beira de estrada, que ia mal e estava sempre cheio de dívidas. Uma família comprou o imóvel, e porque todos na família pegavam firme no serviço, a empresa se tornou próspera e de renome. Não queiram saber como essa família arrumou inimigos, e levou vários anos para ser aceita pela sociedade local. Essa atitude não deixa de ter uma conotação socialista, quase dizendo: eu sou pobre porque você é rico. É nessa chave de leitura que eu coloco a perseguição, sem trégua, contra o Eike Batista. A sua execração pública vem de vários meses, e só terminará com sua destruição total. O segundo defeito, bastante presente entre nós, é o desejo de ser funcionário público. Não me refiro aos excelentes profissionais, que fazem o Brasil funcionar. Sinto-me decepcionado com o funcionário que pendura o paletó na cadeira, e sai para tomar cafezinho. Esse cidadão não quer trabalho: ele quer emprego. Não tem ideal. Não sente capacidade para o arrojo pessoal, para a iniciativa independente. Trata-se de mais uma ideologia socialista, que apregoa que o único patrão honesto é o Estado, sem se preocupar de onde o poder público tira o seu lastro.

Dom Aloísio Roque Oppermann scj –Arcebispo Emérito de Uberaba, MG.
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