A liturgia da missa do 24o. Domingo do Tempo Comum, fazendo eco às liturgias dominicais dos domingos precedentes, nos lança um grande clamor em favor da Misericórdia. Isso está, também, em conformidade com as reiteradas catequeses de Sua Santidade o Papa Francisco, que tem realçado a necessidade da misericórdia em contraponto ao legalismo reinante na Igreja. Muitos, infelizmente, num espírito principesco de uma Igreja que apenas coloca o seu vértice no carreirismo e nas obras faraônicas, melogomaníacas, de viés triunfalista usam o direito canônico para oprimir fiéis e clérigos esquecendo-se das duas parábolas magníficas deste domingo: a da ovelha perdida e do pai misericordioso.
Neste domingo tive a graça de visitar a Diocese de Limeira, a convite do querido irmão no episcopado Dom Vilson Dias de Oliveira, DC, e concelebrei a missa de consagração episcopal do quarto bispo de Almenara, MG, Dom José Carlos Cabral. Em consonância com o Evangelho deste domingo, no agradecimento da sua sagração, Dom Cabral disse textualmente: "Lembro bem das palavras de meu novo Arcebispo Metropolitano de Diamantina, Dom João Bosco Óliver de Faria, que Deus me livre de usar o báculo que ora recebo para punir as pessoas, mas apenas para acolhê-las, para caminhar com elas, para pastoreá-las e para sentir o clamor dos nossos fiéis, que precisam de pastores a exemplo do Coração de Cristo!".
A misericórdia é uma palavra difícil de viver, de testemunhar. Mais do que uma utopia ou de um discurso bonito a misericórdia é a gênese central do seguimento cristão. Jesus nos ensina a deixar de lado as noventa e nove ovelhas que estão no aprisco e ir ao encontro da ovelha perdida, a resgatá-la, a reintegrá-la na comunidade fiel e a mostrar-lhe o caminho da salvação.
Quando o Papa Francisco insiste tanto na misericórdia ele quer nos vergar ao Coração de Cristo, que não olha tanto para o pecado cometido, mas dá a mão ao pecador, para que livre das amarras que o cegam possa caminhar no caminho da luz, que é o Ressuscitado.
Peçamos a Deus a graça nesta semana, seja qual for o nosso estado de vida, se clérigo ou leigo, a nunca levantar os pecados dos irmãos, mas acolhê-los, caminhar com eles, dar-lhes a alegria que brota de Jesus. Jesus Ressuscitado, vivo e presente em nosso meio, é imensa ALEGRIA que nos ensina a PERDOAR, a acolher o irmão e a irmã, particularmente os que mais sofrem,os pecadores públicos e os que vivem nas periferias existenciais à margem da Igreja.
Num mundo vil como o nosso, em que muitas pessoas vivem apenas para destruir a reputação dos irmãos, plantando inverdades, repetindo mentiras até que estas se transformem em falsas verdades, em que a maledicência e o pré-julgamento e o preconceito vão na contra mão dos valores do Evangelho, somos convidados a acabar com qualquer desentendimento, com qualquer rixa, com todas as perseguições e vivermos como irmãos e irmãs. A alegria de Jesus não tira nada, nos dá tudo: o perdão e o recomeço de uma vida nova!
+ Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora(MG).