Em outubro de 2013 comemorou-se os trezentos anos de edificação da primeira catedral mineira, a Catedral de Nossa Senhora da Assunção, a primeira catedral a ser construída no interior brasileiro, precisamente na cidade de Mariana, MG.
Como eu tive a graça de estudar no sacro colégio marianense, primeira instituição de ensino superior de Minas (1748), fundada por Dom Frei Manoel da Cruz, eu captei, ainda na minha adolescência os eflúvios barrocos do Áureo Trono Episcopal já ocupado pela têmpera de santos bispos Dom Viçoso, Dom Helvécio, meu amado professor Dom Oscar de Oliveira e meu querido e santo irmão Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida.
Em 1713 dá-se início a construção da Igreja Matriz da Vila do Carmo, que foi criada Catedral pela Bula "Candor Lucis Aeternae", de 1745, do Papa Bento XIV. A primeira catedral do interior do Brasil plasma a história dos católicos e confunde-se com a própria história dos mineiros. O espírito dos mineiros nasceu à luz da fé católica. Foi graças aos bispos marianenses, quando nosso estado era apenas uma circunscrição eclesiástica, e isso perdurou por muitos e longos anos, que da Sé Primaz ecoaram pelas montanhas de Minas o anúncio sempre novo do Evangelho de Jesus Cristo Ressuscitado e a fé na Virgem e a devoção dos santos, as procissões, as festas da Semana Santa, dos padroeiros, dos santos protetores das cidades, das fazendas, das lavouras.
A lavra apreciada do culto historiador e diretor do Arquivo Eclesiástico de Mariana, Monsenhor Flávio Carneiro Rodrigues, nos ensina que: "O território coberto pela diocese primaz de Minas, que compreendia a região mineira então habitada(centro e sudeste), aproximadamente um quinto do Estado, hoje repartido entre sete províncias eclesiásticas, se subdividiu numa radiosa constelação de bispados: Diamantina, Pouso Alegre, Campanha, Juiz de Fora, Belo Horizonte, Caratinga, Luz, Leopoldina, São João del-Rei e Itabira-Coronel Fabriciano. A sua catedral tornou-se assim a mãe dadivosa de tantas outras Catedrais".
E a genialidade de nossos Mestres, de Aleijadinho, de Ataíde, que até hoje continuam evangelizando pelas Igrejas-Monunentos da cristandade mineira a nos elevar o espírito ao encontro do Redentor.
Os bispos de Mariana, ao seu tempo e nos dias de hoje, foram missionários, educadores da juventude, defensores dos direitos da Igreja, protetores dos escravos e dos mais humildes, reformadores da vida eclesiástica e, principalmente, homens preocupados com a fundação de educandários, asilos, escolas, orfanatos, hospitais, creches, a mão dadivosa da Igreja Católica a abarcar sob a sua graça as necessidades dos filhos prediletos de Deus.
A alegria e a felicidade que a fé católica concedeu aos súditos marianenses, dos quais eu me inclui no passado, nos chama a missão de propor a via missionária aos homens e as mulheres de hoje que precisam de sinais de santidade. A Catedral tricentenária é um sinal de busca permanente de todo batizado a viver a sua missão de discípulo-missionário e de propagador do Reino de Deus.
Através da fé simples da gente mineira, gente que dobra os joelhos ao chão e levanta as mãos para o céu em atitude de quem pede, são baseadas na fé, na esperança e na caridade, e, fundamentadas, na prudência, na justiça, na coragem e na temperança.
Os bispos de Mariana, desde Dom Frei Manuel da Cruz até o meu caríssimo amigo e irmão Dom Geraldo Lyrio Rocha testemunharam e testemunham a fé, a esperança e a caridade e, mercê de Deus, desprovidos de qualquer espírito principesco ou triunfalista, fundamental o seu agir episcopal na prudência, na justiça, na coragem e na temperança.
Esse espírito episcopal dos bispos de Mariana, que fascinam os bispos que foram alunos do Seminário São José, como eu, nos relembram que sobretudo do "espírito de Minas", evocado por Drummond na confusão da grande cidade, é pautado na prudência, na justiça, na coragem, na temperança e no perdão.
Que o espírito destes santos pastores sejam apanágios da vida simples da gente santa de Minas, que matreiramente nos dá o testemunho do espírito de Minas, o espírito católico das Minas, chamada de Gerais.
+ Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora(MG).