A Igreja militante, a Igreja padecente e a Igreja triunfante, respectivamente, os viajores deste mundo, os que se encontram em estado de purgatório e os santos bem-aventurados do céu rejubilam de felicidade pela canonização de são João XXIII e são João Paulo II.

São João XXIII convocou o Concílio Vaticano II. Esse evento magnífico, ocorrido entre 1962 e 1965, promoveu uma atualização (aggiornamento) na Igreja, vale dizer, capacitou-a ao diálogo com o mundo moderno, sem a perda dos valores católicos. À luz do ensinamento do papa emérito, o Concílio Vaticano II tem de ser interpretado em estrita conexão com os outros 20 concílios ecumênicos precedentes, sobretudo em intima harmonia com o Concílio Vaticano I (1869 e 1870) e o com o Concílio de Trento (1545 a 1563).

São João Paulo II disse logo no limiar de seu pontificado: "Non abbiate paura!" Não tenham medo! Conclamou os fiéis a abrirem o coração a nosso Senhor Jesus Cristo, permitindo que o ideário do evangelho transforme as pessoas, bem como as instituições políticas e econômicas. Qual pastor supremo da cristandade, em constantes périplos, protagonizou momentos importantes da história da humanidade, como o fim do comunismo ateu.

O que os novéis santos têm em comum? Eu diria que a absoluta fidelidade ao depositum fidei, isto é, à boa nova proclamada por nosso Senhor Jesus Cristo. A propósito, nenhum papa, nos dois mil anos de existência da Igreja, titubeou uma única vez em expor corretamente a fé e a moral cristãs.

Entre as batalhas travadas por são João Paulo II, uma das mais atrozes consistiu em conter a catastrófica e virulenta ofensiva de certas teologias da libertação, as quais infeccionaram a sociedade eclesial, sobremodo na América Latina, retardando em muitos aspectos o desenvolvimento espiritual do povo de Deus.

Ao lado de são João XXIII, temos de homenagear igualmente outro bispo de Roma: Paulo VI. Com efeito, o Concílio Vaticano II poderia ter levado décadas para terminar com sucesso. No entanto, graças à habilidade de Paulo VI, conforme explicou Jean Guitton, da Academia Francesa, em menos de 4 anos, os padres conciliares lograram concluir frutuosamente essa assembleia maravilhosa, que trouxe e continua a trazer infindáveis bênçãos aos cristãos e a todos os homens de boa vontade.

As canonizações aqui referidas consistem num relevante alento aos católicos. De fato, ultimamente, a Igreja de Cristo é vítima de vitupérios, em virtude da postura dela a favor da família tradicional e em prol da vida humana desde a concepção. Os dois santos papas, do paraíso, intercederão por todos aqueles que tiverem coragem de anunciar dos telhados o evangelho (Lc 12,3), arrostando os inúmeros algozes hodiernos!

Edson Luiz Sampel

Doutor em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense, do Vaticano.

Membro da União dos Juristas Católicos de São Paulo (Ujucasp).