Algumas universidades católicas estão prestes a implantar a “cátedra da família”. Trata-se de um organismo sui generis, quase sempre atrelado à faculdade de direito, através do qual se propõe expor e defender a doutrina católica acerca do matrimônio e da família. Não é uma disciplina comum, mas um verdadeiro areópago universitário, onde se promoverão congressos, disquisições e toda sorte de eventos jurídicos relacionados à célula-mãe da sociedade.

            A pessoa que assumir a aludida cátedra será porta-voz da Igreja católica. Portanto, tal pessoa terá de responder aos seguintes questionamentos, mediante suas aulas de direito civil, notadamente de direito da família, por intermédio de seus livros e artigos:  

1) Combato o “aborto terapêutico” (quando há risco de morte para a gestante) e o “aborto sentimental” (depois do estupro)?

2) Combato o uso de pílula anticoncepcional?

3) Combato o emprego de preservativo?

4) Combato as pesquisas com células-troncos embrionárias?

5) Combato a denominada “fertilização heteróloga”?

6) Combato o divórcio, ou, quando escrevo sobre o assunto, limito-me a explanar a lei, sem demonstrar a imoralidade dela?

7) Combato a institucionalização do chamado “casamento gay”?

8) Combato a possibilidade de adoção de crianças por parceiros homossexuais?

            Se o candidato ao cargo de “catedrático da família” responder negativamente a qualquer uma das perguntas fundamentais acima formuladas, a autoridade eclesiástica competente não poderá jamais nomear tal pessoa. O verbo “combater”, utilizado nas questões supramencionadas,  denota a guerra ou liça que todo católico deve travar contra as principais pragas que hodiernamente flagelam a família.

Edson Luiz Sampel

Doutor em Direito Canonico pela Pontifífica Universidade Lateranense, de Roma.

Membro da Uniao dos Juristas Católicos de Sao Paulo (Ujucasp).