Resposta a um artigo sem pé nem cabeça

Certo artigo, nem um pouco gaio ou alegre (significado da palavra inglesa gay), mas, pelo contrário, bastante triste, foi veiculado dias atrás pela Internet. Como o referido artigo, intitulado “Deus é gay?”, contém inverdades e falácias que podem deixar perplexo o católico incauto, vale a pena rebater os lânguidos argumentos e a desonestidade intelectual do texto.

Escreveu-se o seguinte: “É preciso reler o Evangelho pela ótica gay, como pela feminista, já que a presença de Jesus entre nós foi lida pelas óticas aramaica (Marcos); judaica (Mateus); pagã (Lucas); gnóstica (João); platônica (Agostinho) e aristotélica (Tomás de Aquino).” Ora, isto não procede! O essencial da doutrina e da ética de Jesus se encontra nos quatro evangelhos. Não há contradição entre eles. Nenhum dos evangelistas jamais abonou a conduta homossexual. 

Este outro excerto corrobora a desonestidade intelectual: “A unidade na diversidade é característica da Igreja. Basta lembrar que são quatro os evangelhos, não um só: quatro enfoques distintos sobre Jesus.” Sim, repito, trata-se de quatro enfoques. Contudo, o núcleo da doutrina e da moral cristãs é idêntico nos quatro evangelhos, nos quais só se valoriza a heterossexualidade, vivida mediante o sacramento do matrimônio. 

Mais adiante, grafou-se esta bazófia: “Até a década de 1960, predominava no Ocidente uma única ótica teológica: a europeia, tida como ‘a teologia’. O surgimento da Teologia da Libertação, com a leitura da Palavra de Deus pela ótica dos pobres, causa ainda incômodo aos que consideram a ótica eurocentrada como universalmente ortodoxa.” Bem, os atos homossexuais, tidos pela moral católica como intrinsecamente desordenados (Catecismo da Igreja Católica, n. 2357), não hão de ser soerguidos ao patamar de “ótica teológica”. Que absurdo! Nem mesmo a teologia da libertação se traduz numa ótica teológica, porque a moribunda teologia é, na verdade, uma ideologia marxista. 

No fim, redigiu-se este período gramatical, de uma puerilidade à flor da pele: “A dificuldade de a Igreja Católica aceitar a plena cidadania LGTB se deve à sua tradição bimilenar judaico-cristã, que é heteronormativa. Por isso, os conservadores reagem como se o papa traísse a Igreja, a exemplo do que fizeram no passado, quando se recusaram a aceitar a separação entre Igreja e Estado; a autonomia das ciências; a liberdade de consciência; as relações sexuais, sem fins procriativos, dentro do matrimônio; a liturgia em língua vernácula.” Não é verdade! A dificuldade, ou melhor, a impossibilidade de a Igreja aceitar o comportamento homossexual, ou melhor, a prática dos atos homossexuais, reside na fidelidade institucional ao evangelho de Jesus Cristo. É do ensinamento de Cristo que a Igreja tira o parecer negativo sobre o homossexualismo e positivo sobre a heterossexualidade, como é a partir do mesmo ensinamento messiânico que a Igreja, por exemplo, inculca a defesa da vida humana, desde a concepção. Os outros pontos levantados, quais sejam, a separação entre a Igreja e o Estado, a autonomia das ciências etc., não se põem no mesmo nível da problemática homossexual, porquanto muitos dos citados temas trazem em si questões opináveis, diferentemente dos denominados atos homossexuais, considerados pela Igreja opostos à lei natural (Catecismo da Igreja Católica, n. 2357).

A Igreja tem, sim, um imenso carinho pelas lésbicas e pelos gays. Destarte, quer ser companheira deles, auxiliando-os no caminho da santidade, na superação dos entraves de ordem sexual. Nada obstante, como já falei algures  ( http://www.youtube.com/watch?v=L-R3Zgp5bKk&list=UUYuWs2fG0M-sFxIWX9ta8zA ), a Igreja nunca abençoará o coito anal ou determinados outros atos libidinosos, moralmente proibidos tanto para os heterossexuais quanto para os homossexuais.  

Edson Luiz Sampel 

Doutor em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense, de Roma. 

Membro da União dos Juristas Católicos de São Paulo (Ujucasp).