Por Pe. Rhawy

Todos reconhecem que o discernimento dos espíritos é uma das artes mais difíceis na orientação dos homens.

Quanto mais agudo é o elemento carismático, tanto mais se faz sentir a necessidade do discernimento. Nada mais natural que os que estão interessados, busquem e recorram a orientação espiritual prática.

Aquele que se sente chamado ou vocacionado tem obrigação moral de atender ao verdadeiro e avaliar a sua situação aos olhos de Deus.

Avaliar a sua realidade: ter critérios para realizá-la. Ter discernimento de fé viva e pessoal. Ter conteúdo no esboço vital e na caminhada da vocação, que deve ser cultivada e orientada.

Entendemos por discernimento vocacional cristão a permanente busca concreta da vontade de Deus, como processo, no qual, a vontade de Deus realizada, implica também a vontade de Deus pensada em conjunto, com uma ou mais pessoas. O que este enfoque significa? A superação simplesmente é tica da vocação, baseada no fazer o bem e evitar o mal; avançar num enfoque seriamente teológico do que significa ser vocacionado, no agir cristão. Se ser vocacionado é ser sacerdote no Sacerdote Cristo, então o discernimento vocacional deverá ter uma estrutura semelhante a de Jesus, o que se consegue seguindo-O. Este é o momento para apelar ao Espírito Santo por Jesus, no qual se deve prosseguir discernindo. Tudo deverá ser verificado a partir do Evangelho, e não ser declarado a priori; como posse de uma situação ou dom de determinadas situações criadas pelos homens. Não se poderá oferecer receitas simples, nem mesmo a partir de Jesus.

O que o padre espiritual deve oferecer é a estrutura do discernimento de Jesus. E isto pode ser feito a partir de uma realidade e não de uma simples conceitualidade.

Se a formalidade de Deus se apresenta a Jesus, como a de ser sempre maior, na abertura radical para Deus, o vacacionado, como Jesus, vai encontrar o lugar privilegiado de todo discernimento cristão: o amor ao homem.

Neste discernimento vocacional de Jesus, se dá o protótipo de todo discernimento cristão e a fotiori, o da vocacionalidade ao sacerdócio cristão.

É uma forma de afirmar a ultimidade de Jesus como que o fiel por antonomásia, ‘Aquele que viveu em plenitude e originalmente a fé’ (cf. Hb12,2), é que s revela no modo fundamental de corresponder ao Pai.

É claro que as soluções concretas a nossos discernimentos não poderão e nem deverão ser idênticas as de Jesus. De Jesus aprendemos, não tanto as respostas aos nossos discernimentos vocacionais, mas mais fundamentalmente como devemos aprender a discernir, partindo das opções e atitudes históricas que Jesus tomou.

Por mais difícil que possa parecer em situações concretas, discernir positivamente uma vocação ao sacerdócio cristão, o que se deve fazer, existe pelo menos um claro critério de discernimento para Jesus: “A vontade de Deus não é mistério, ao menos enquanto atinge o irmão e se trata de amá-lo”.

O primeiro passo para discernir é, então, ouvir o claro ‘não’ de Deus ao mundo de pecado que desumaniza o homem, e não tem nada de misterioso, sobretudo, manter esse ‘não’ ao longo da história, sem calar ou adoçar essa voz absolutamente com nada, nem sequer – como é frequente – com teodicéias aparentemente ortodoxas.

O segundo passo consiste no correlato ao ouvir o ‘sim’ de Deus a um mundo que tem que ser reconciliado, e, sobretudo, manter a realidade amorosa desse ‘sim’ como tarefa inabalável, mesmo quando a história, com grande frequência, o questiona radicalmente.

A vocação ao sacerdócio primeiramente deve ser orientada a corresponder na objetividade da história ao ‘sim’ ou ao ‘não’ de Deus sobre ela.

O pastor, que pretende formar, deverá, por isso, segundo o critério da práxis eficaz do amor, buscar a vontade de Deus, procurando soluções concretas e eficazes da pregação da Boa Nova, realizada e convertida em boa realidade.

Outro critério de conduzir espiritualmente é aquele da práxis sócio-política do amor, isto é, de um amor que se torna justiça. A história de Jesus dá claro testemunho de que não pode faltar a eficácia do amor para configurar toda a sociedade. É, a partir da justiça do Reino de Deus que se manterão e surgirão novas formas e diversas expressões de amor em todas as áreas da vida humana.

Por isso, o amor de Jesus é conflitivo ou o conflito está intrínseco ao amor de Jesus, desde o momento em que concebe sua universalidade a partir do lugar concreto do marginalizado, do oprimido e do pecador. Este conflito intrínseco de Jesus explica ao futuro sacerdote, que também o conflito extrínseco que sobrevém a práxis do amor sacerdotal vivido em forma polêmica, de recusa, de perseguição e de morte é coerente e testado por todos os Evangelistas

A direção espiritual deve, então, oferecer ao candidato ao sacerdócio uma disponibilidade a verificação. Deve-se possuir um a boa consciência, antes de discernir. Uma boa consciência objetiva depois de ter discernido. E para isso o porquê a história de Jesus e suas declarações sobre o autentico seguimento nos oferecem critérios de verificação: “se o poder do pecado se sentir verdadeiramente ameaçado; se o homem que discerne se vai configurando ao ideal do sermão da Montanha; se na luta histórica e conflitiva pela restauração do Reino o vocacionado passa da primeira fé, esperança e amor genéricos a uma fé contra a incredulidade, a uma esperança contra o desespero e a um amor contra a injustiça real, pode ser discípulo missionário do Divino Mestre.

O importante destas observações para a formação do futuro pastor-sacerdote é que sua vida se torne um processo, que através da verificação objetiva, se translada da postura do discernimento de pura intencionalidade, para a objetividade histórico-vivencial. E a partir desses critérios objetivos se prepara melhor o sujeito vocacionado para sucessivos discernimentos. A terrível lucidez do ultimo instante: “faça-se a tua vontade”, da oração do horto, estava realmente preparada pelas verificações objetivas dos anteriores discernimentos prévios de Jesus.

Inácio de Loyola é geralmente considerado um dos maiores mestres na arte de discernir e acompanhar e aclarar a questão da direção espiritual dos seminários. Inácio tinha nítida consciência de que o verdadeiro discernimento é um carisma, um dom de Deus; e igualmente uma ação da parte do homem mergulhado na oração. Os verbos preferidos por Inácio são sentir e conhecer e usa uma só vez discernir: o discernimento inaciano tornou-se por demais intimamente associado com a eleição a ser feito durante os Exercícios Espirituais.

Sabedoria, cautela, prudência, oração estavam a raiz do discernimento inaciano das muitas vocações o que homem se acha exposto. Semelhante método pode ajudar chegar à clareza que desejamos e de que tanto necessitamos.

Por isso, a Direção Espiritual, não é uma questão secundava no conjunto da vida cristã. Pelo contrário, o discernimento ou direção espiritual, é o critério que nos dá a medida do espírito cristão, para ser conduzidos a vida verdadeira: é um programa de vida espiritual que leva a luz evangélica e que leva a descobrir a vontade de Deus, cf. Hb 5, 14ss.

Uma direção espiritual, pode ser tal, somente na medida em que torna o homem vacionacionado a descobrir a si mesmo, através do discernimento, ou seja, descobrir, a vontade de Deus, contanto que, isto se faça, a partir, de “nova mentalidade, que não é a mentalidade da eficácia , nem sequer a mentalidade do apostolado, mas a desconcertamente mentalidade das que “seguem” a Jesus, no serviço do fraco, do pobre, do desprezado, até a Cruz. É a intenção de Cristo, ou, o estar a escola de Cristo.

A direção espiritual do seminarista, futuro ministro dos ministros e dos ministérios, é um constante convite para descobrir por si mesmo qual é a vontade de Deus e para escutar interiormente a sua voz. O mesmo se verifica na instância, onde tudo o que ajuda a encher de fervor a afetividade, que provém e é a verdadeira liberdade interior: “virilizar a vontade de tal forma que o indivíduo faz a vontade de Deus e o vocacionado, escolhido para o sacerdócio se torne comandante, um guia por sua vez”.

O discernimento, através da direção espiritual, é questão de ortodoxia e de ortopraxis? O discernimento é um momento constitutivo e interno da práxis histórica real, isto é, condicionada e situada no espaço e no tempo. A direção espiritual não pode ter como referência uma teoria, é um discernimento prático, é uma ação humana real. Não é uma interpretação verbal, trata-se de um “circulo prático”, onde o juízo pratico do discernir se funda na estrutura própria da ação do Espírito Santo.

No elenco paulino dos carismas, encontramos o discernimento dos espíritos (1Cor 12, 10) que é um dom ou graça do Espírito Santo, que permite distinguir, com clareza, nos atos e nas pessoas, aquilo que conduz à construção do Reino. A direção epsiritual é um juízo pratico, que atua precisamente na práxis, contudo não é o mundo das ideias, com função teórico, mas o da legitimação ou crítica da práxis, já que a escatologia é o fim último e é também horizonte estratégico de toda estratégia. É claro que na direção o correto discernimento exige, pois, uma adequada articulação a nível tático, estratégico e escatológico da própria vocação, a realizar sacerdotalmente.

A retição depende em definitivo da opção escatológica, por exemplo: os pobres são evangelizados; isto exige estrategicamente quais sistemas históricos onde os pobres estejam na prática da justiça; isto exige taticamente esta ou aquela ação concreta, inspirada por Deus, a qual inspiração exige por uma vez uma sã doutrina (ortodoxia) e a partir desta, fazer surgir a direção correta e a reta manifestação do Espírito Santo, na história da vida para chegar ao discipulado de Cristo. (...)

Disto inicia-se o rever a vida cotidiano (revisão de vida) a práxis a partir da luz da fé e do Evangelho, onde o juízo prático tira sua origem e seu fim. (...)