por  Pe Rhawy

Agora vamos fazer algumas considerações pontuando sobre a presença do Sacerdote entre os homens. É a primeira vez, acredito, que um texto conciliar fala deste problema.

De fato, existem duas tendências entre os sacerdotes. Uma tendência mostrava o sacerdote como um homem separado dos leigos: devia dar aos leigos o ensinamento de Cristo e os Sacramentos de Cristo, mas devia viver separados deles para ser mais facilmente puro, no sentido total da palavra, a respeito deste mundo no qual reina o pecado. A outra tendência demonstrava o sacerdote como totalmente presente entre os homens e nada devia retê-lo, em separado dos outros. Esta tendência mais moderna tinha os seus perigos. O Cardeal Suhart, no seu livro Le pêtre de la cité, afirma que “pode acontecer que chegando ao contanto com os homens, o sacerdote então, não tenho nada para dar a eles”.

O Concílio nos lembra o exemplo de Cristo e dos Apóstolos: “… o Senhor Jesus, Filho de Deus, enviado pelo Pai como homem para o meio dos homens, habitou entre nós e quis assemelhar-se em tudo aos seus irmãos, menos no pecado…” (PO, n. 03). Isto significa que a presença do sacerdote no meio dos homens tem o seu fundamento doutrinal em Cristo-Sacerdotal; fundamento no mistério da Encarnação, Senhor Jesus, Filho de Deus, Verbo feito carne Verbum caro factum est…

Segundo o ensinamento dos Santos Padres da Igreja nada pode ser salvo se não é assumido e unido a Deus, que se fez homem. E não se trata somente da presença de Cristo entre os homens através da sua natureza humana, mas também da presença sociológica: “Verbum caro factum est et habitavit in nobis”. Vemos Cristo que vive entre os homens em Nazareth e na sua vida pública, vive como os outros conformando-se a sua vida.

Esta presença é ao mesmo tempo psicológica: habitavit in nobis et voluit per omnia fratibus assimilari. Nós temos um Sumo Pontifíce – Jesus – que é capaz de compreender as nossas fraquezas, porque quis provar tudo, exceto o pecado.

Nesta luz nós compreendemos até o que ponto Jesus quis levar a sua presença entre os homens. Mas o absque peccato que significa?

Vemos que Jesus não só fica puro de qualquer pecado, mas mostra aos homens um certo “não conformismo” todas as vezes que, na maneira deles de agir, encontra algo que não é conforme ao seu Espírito. Pensemos ao encontro de Jesus com a Samaritana. Aquele comportamento não era segundo os costumes e o comum (o usual). Mas Ele, que tinha vindo para salvar todos os homens, não se conforma aos habitus deles.

Jesus almoça com os publicanos. Esta não era o comum, usual dos Hebreus, então se torna um escândalo para os Fariseus. Mas Jesus não se conforma, uma vez que tinha vindo, especialmente, para os pecadores. Jesus cura em dia de Sábado; coisa também esta que não se fazia. Vem assim sendo acusado como pecador, porque cura em dia de Sábado! Mas Jesus não aceita uma interpretação da Lei de Deus que esteja contra o espírito de Deus.

Se entende, então, que estar presente entre os homens não significa que devamos aceitar numa total “conformidade” com eles. A nossa deve ser certamente uma conformidade sociológica e psicológica, mas deve ser em cada caso uma conformidade de salvadores.

Jesus próprio, através desta atitude, nos mostra o Pai: … qui videt me, videt et Patrem meum… (Jo 14, 7) e nolo mostra por meio de sua vida. Assim também os Apóstolos manifestam o mistério da presença deles entre os homens. Certamente, eles, não tenham encontrado uma grande dificuldade para estar presente no meio dos Judeus, visto que eles mesmos eram da mesma raça. A dificuldade para eles começou quando tiveram que evangelizar os pagãos. Temos todos lido nos Atos dos Apóstolos, aquilo que o Espírito Santo pediu a São Pedro no momento da conversão de Cornélio. Não pediu a Cornélio de mudar os seus costumes de pagão para viver os costumes de Pedro. Mas Pedro não se negou de responder ao convite do Espírito Santo, também se aquilo lhe custava um certo sacrifício.

Descobrimos isto também na vida de São Paulo: “Omnia omnibus factus sum… Paulo quis ser judeu com os judeus, grego com os gregos. Presença sociológica e psicológica: Gaudere cum gaudentibus, flere cum fleutibus. E tudo isto a respeito da missão. Mas, ao mesmo tempo, encontramos indicados também os limites. O Concílio cita, aplicando-a especialmente aos sacerdotes, a palavra do Apóstolo Paulo: “nolite conformari huic saeculo” (Rm 12,2).

Nós sacerdotes devemos viver sem compromissos com o pecado; e era só com ele, mas com tudo aquilo que não é conforme ao espírito do Evangelho. Neste mundo atual que procura dinheiro, bem estar e o prazer a qualquer custo, nós não podemos ser cúmplices; não temos o direito a isso, sob nenhum título ou desculpa.

E, finalmente, notamos que os Apóstolos tem testemunhado o Cristo com a própria vida: “… imitatores mei estote sicut et ego Christi” (1Cor, 11,1). Da mesma maneira o sacerdote deve demonstrar e mostrar a figura de Cristo com a sua vida.

A presença do sacerdote entre os homens não exige então dele uma conformidade total, porque é a presença de Cristo entre os homens. O Concílio nos apresenta a este propósito, aplicações concretas. Eis o texto: “Segregados no seio do Povo de Deus, não, porém, para se separarem” (PO, n. 03). Este texto faz ilusão a aquele dos Atos dos Apóstolos: Segregate mihi Saulum et Barnabam (At 13, 2).

Segregantur e por quê? Porque existe uma diferença essencial entre o sacerdote e os membros do Povo de Deus. Cada sacerdote é consagrado para ser totalmente empenhado na sua missão.

Non separentur quer dizer, é separado e consagrado para ser pastor no mundo, para ser presença no meio dos homens, como representante de Cristo.

O Concílio tem também outras frases muito expressivas: “Não poderiam ser ministros de Cristo se não fossem testemunhas e dispensadores duma vida diferente da terrena, e nem pode riam servir os homens se permanecessem alheios à sua vida e às suas situações (20). O seu próprio ministério exige, por um título especial, que não se conformem a este mundo” (PO, n. 03). Os sacerdotes estão no meio dos homens, testemunhas de uma vida diversa a vida terrestre. Já, nisto, encontramo-nos diante do apelo ao celibato, a pobreza e a uma vida espiritual profunda, para poder ser, entre os homens, testemunhas de uma outra vida.

Ao mesmo tempo, porém, o Concílio diz que o sacerdote não podem ser úteis aos seus irmãos. Caso se mantenham alheios a sua existência e condições de vida, cf. PO, n. 03.

Devemos neste tempo não ser alheios a vida dos homens e ser no meio deles testemunhas de uma outra vida. Eis a nossa vocação, a nossa missão de presença de Cristo no meio dos homens.

Não é fácil explicar estas coisas de maneira conceitual. Penso que devemos aprofundar este mistério do nosso sacerdócio, meditando e assimilando juntos os textos conciliares, para ajudar-nos a viver segundo as exigências que estão aí inseridas.

Este trabalho comum, será um meio extraordinário para fazer a unidade entre nós. Se somos todos unidos na adesão total ao texto conciliar sobre os sacerdotes, teremos uma alma comum entre nós; e isto constituirá a base da união entre todos os sacerdotes.