por Pe Rhawy

A obediência sacerdotal como obediência de Cristo

Não falo da obediência disciplinar, também se esta pode ter a sua importância, mas falo da obediência especificamente sacerdotal.

Segundo o ensinamento do Concílio Vaticano II esta possui dois aspetos (PO, n. 15): em primeiro lugar esta obediência é a Cristo como tal, é total, não admite nenhuma excessão: Servus Jesu Christi… Nós pertencemos totalmente a Cristo. Por isso fora esta obediência há uma culpa contra o nosso sacerdócio. Em segundo lugar, de que maneira nós devemos obediência a Cristo? O Concílio indica duas maneiras, a saber: uma através da nossa conformação a Cristo que sofre e outra através da nossa conformação a Cristo que realiza a sua Missão. Vejamos:

Através da nossa conformação a Cristo que sofre:

O Concílio Vaticano II, n. 12 da PO evoca o sacrifício de Cristo como via que conduz à glória e à fecundidade da sua missão: Per passionem intravit in gloriam suam. Depois, continua: simili modo sacerdotes. Somos chamados também nós, a seguir Cristo na sua Paixão.

Poderíamos falar dos diversos aspectos da nossa conformidade com Cristo que sofre. Não quero falar das penitências voluntárias, também se estas fazem parte da vida de Cristo, pensemos ao jejum de quarenta dias!

Mas gostaria de insistir especialmente sobre o aspecto quase necessário do sofrimento na vida sacerdotal. E tudo isto o vemos em Cristo. Existe a fadiga da nossa vida: é o penoso estar totalmente dedicados ao nosso ministério; existe uma fadiga real. E isto faz parte da imolação do sacerdote. Este dom total a Cristo introduz na nossa vida algumas privações. Mas, nós não podemos ser imagens vivas de Cristo sem sofrimentos. Nós devemos ser fiéis a Cristo e isto faz parte de nossa vocação sacerdotal.

No nosso ministério sacerdotal nós encontramos, necessariamente também, certas incompreensões e até certas oposições, às vezes até insultos e calúnias. Por esta experiência podemos compreender o exemplo das palavras de Jesus, pois Ele disse que o discípulo não é mais do que seu Mestre. E pede compreensão de suas palavras: Potestis bibere calicem quem ego bibiturus sum?… calicem quidem meum bibetis (Mt, 20,22).

O sacrifício que nós encontramos não é obstáculo a nossa Missão, pois é ele que a fecunda, conheceis a palavra: nisi granun frumenti… Nesta nossa Missa de cada dia nós devemos oferecer a Cristo os nossos sofrimentos, e não devemos ficar admirados se encontramos a cruz na nossa vida. Esta é em nós causa de paz e alegria, se a vivemos em obediência a Cristo: factus oboediens usque ad mortem mortem autem crucis (Fl 2,8).

Mediante a nossa conformação a Cristo que cumpre a sua missão:

Na organização de nossa vida sacerdotal, no cumprimento da nossa missão encontrar a unidade da nossa vida na dependência de Cristo.

O texto conciliar, a propósito, é explícito. Falando da unidade da vida sacerdotal, afirma no n. 14 da PO: “… os presbíteros alcançarão a unidade da sua vida, unindo-se a Cristo no conhecimento da vontade do Pai e no dom de si mesmos pelo rebanho que lhes foi confiado… Para que possam realizar concretamente a unidade de vida, considerem todas as suas iniciativas, examinando qual será a vontade de Deus, ou seja, qual é a conformidade das iniciativas com as normas da missão evangélica da Igreja. A fidelidade para com Cristo não se pode separar da fidelidade para com a Igreja. Por isso, a caridade pastoral exige que os presbíteros, para que não corram em vão, trabalhem sempre em união com os Bispos e com os outros irmãos no sacerdócio. Procedendo assim, encontrarão os presbíteros a unidade da própria existência na unidade da missão da Igreja, e assim unir-se-ão com o Senhor, e por meio d'Ele com o Pai, no Espírito Santo, a fim de que possam encher-se de consolação e superabundar na alegria.” (negrito nosso).

A nossa vida deve ser uma espiritualidade missionária e uma espiritualidade de dependência total, como se manifesta bem na atitude do Apóstolo Paulo:Senhor o que queres que eu faça?” (At 9, 4).

Quando fazemos o exame de consciência sacerdotal, não devemos examinar somente a nossa vida em relação as regras exteriores ou em relação a nossa consciência subjetiva. Devemos examinar a nossa vida em relação a Cristo e o Cristo Sacerdote.

A cada dia devemos dizer a Cristo: hoje cumpri a obra que você queria que eu fizesse… não se trata de dizer: hoje estou contente porque fiz tudo aquilo que eu queria, mas devemos estar felizes se tivermos feito tudo aquilo que Cristo queria. E nisto, podemos encontrar a paz, a alegria, a plenitude de nossa vida. Notamos que Jesus termina a sua vida com duas expressões: opus consummavi, quod dedisti mihi, ut faciam, (Jo 17,14) e consummatum est (Jo 19,30).

Eis o essencial da nossa obediência ao Cristo: oferecer todos os sofrimentos que nos são impostos através do nosso sacerdócio e cumprir a vontade do Senhor em cada dia da nossa vida. Deste ponto de vista, a nossa obediência deve ser total: servus Jesu Christi. Podemos ler ao capítulo oito da carta aos Romanos e considerar a imensa alegria que São Paulo encontrou no pertencer totalmente a Cristo.