por Pe Rhawy

 

A obediência sacerdotal como obediência a Igreja

O sacerdote deve também obediência ao Papa, ao Bispo e a Igreja em gênero. Mas, o que é esta obediência? Quando o concílio Vaticano II fala de obediência dos Bispos ao Papa e dos Presbíteros ao Bispo, recorda uma expressão muito tradicional: a comunhão hierárquica (PO, n. 15).

A comunhão hierárquica se baseia sobre o sacerdócio; existe um só Sacerdócio. E nós não podemos ser verdadeiros sacerdotes se considerarmos o nosso sacerdócio fora da unidade. Dom Clemente nos disse numa das aulas de História da Igreja no Mosteiro de São Bento que um leigo, um dia depois da segunda sessão do Concílio Vaticano II dizia: “Os bispos com a colegialidade, encontrarão uma maneira de se tornarem independente do Papa”. Ora, além de não entender nada, este leigo não penetrou e nem saboreou no âmago da obediência!

Antes do Concílio, a desobediência de um Bispo ao Papa era certamente um fato muito grave, mas era só uma desobediência. Ora, a desobediência ao Papa se torna um pecado contra o próprio sacerdócio, porque este é colegial; quer dizer, cada um faz parte de um corpo único com todos os Bispos e o Papa.

De fato, agora, os Bispos são de verdade mais unidos ao Papa, uma vez que sentem uma participação maior as responsabilidades do mesmo. (Esta era uma das frases mais ditas pelo Saudoso Dom Clemente Isnard, OSB, nas aulas). Um Bispo não tem só a responsabilidade de sua Diocese, mas é corresponsável com o Papa de toda a Igreja e sente que esta responsabilidade pode ser exercitada somente em dependência do Papa.

Não se trata, para os Bispos de uma obediência passiva, mas de uma obediência ativa. Eles não devem esperar o que o Papa dê diretivas sobre tudo o que deve fazer, mas devem assumir a responsabilidade e pô-la em função. E quando se trata do bem da Igreja Universal devem informar ao Papa.

Certamente não devem fazer pressão sobre Ele, porque isto seria uma atitude não conforme a comunhão hierárquica; mas, informá-lo, se torna um dever de caridade filial; para que seja capaz de conduzir a Igreja de Deus segundo a vontade de Cristo. Quando se trata de tomar iniciativas, cada Bispo não deve necessariamente noticiar tudo ao Papa, mas deve informá-lo de todas aquelas que achar um dever submetê-las ao seu parecer.

Evidentemente não podemos dizer que seja exatamente a mesma coisa, quando se trata de obediência dos Sacerdotes ao Bispo; mas existem muitos aspectos semelhantes. Também em relação ao Bispo a obediência sacerdotal não é somente disciplinar, porque nasce da Comunhão Hierárquica: cooperatores ordinis nostri. Os sacerdotes, então não devem ser só executores da vontade do bispo, porque são corresponsáveis com ele da Diocese.

Esta comunhão com o Bispo não diminui a obediência, mas situa bem em Cristo. E penso que, depois do Concílio Vaticano II, segundo o sentido profundo do Presbyterium, os sacerdotes devem SENTIR e levar com o Bispo a responsabilidade de toda a Diocese. Assim, quando fizer uma pergunta ou levar uma proposta, não poderão pensar somente na sua Paróquia, mas colocarão sua pergunta no âmbito da Diocese sobre a qual se estende toda a responsabilidade do Bispo.

Num certo sentido, precisa dizer, que os Sacerdotes devem ter uma mentalidade “Bispal”, (mas sendo bons e santos sacerdotes unidos ao seu Bispo), como os Bispos devem ter uma mentalidade Papal em relação a Igreja Universal.

Se o Concílio Vaticano II aplica aos Sacerdotes a palavra de São Paulo Sollicitudo omnium ecclesiarum (2Cor 11,28ss), com maior razão esta se aplica no interior de uma Diocese.

Nesta perspectiva nós encontramos, então, no Concílio, devo dizê-lo, a condenação de todo e qualquer individualismo. E me parece que este ponto é um dos mais importantes da renovação da espiritualidade do sacerdote.

Existe um individualismo em relação ao Bispo, que se verifica quando alguém faz a sua obra, na sua paróquia ou na sua função, sem levar em conta todo o resto.

Existe, também, um individualismo em relação aos outros sacerdotes, que se verifica quando alguém considera só a sua Paróquia e se comporta como se esta fosse a Igreja Universal. Somos corresponsáveis!!! E o sinal de tal mentalidade conseguida, se tem quando não somos mais tentados a criticar os outros. Quando alguém é corresponsável e vê as dificuldades, se pergunta: que devo fazer? Ou reze, mas não critique; porque isto está fora do sentido da corresponsabilidade. A obediência não deve ser passiva, nem em relação ao Bispo, nem em relação aos outros Sacerdotes.

Se tivermos de verdade o sentido da corresponsabilidade, baseada na Missão e na caridade, compreenderemos a necessidade de informar ao Bispo sobre as coisas necessárias ao Ministério.

Não é possível para um Bispo conhecer todos os particulares de uma Diocese, nem estar presente em todo e qualquer lugar, mas se faz presente através dos Sacerdotes. Diz o Concílio que o sacerdote é a “presença do bispo”, ali, onde está. É possível pensar que algumas vezes uma informação não seja agradável ao Bispo, como é possível que aconteça com os Bispos em relação ao Papa. Neste caso, nós devemos nos por em espírito de caridade e de afeto filial, e dar as informações que achamos necessárias. Se não o fizermos, somos responsáveis também tratando-se de coisas às vezes penosas.

É este o fundamento do diálogo entre Bispo e os Sacerdotes: um diálogo que se estabelece num plano de responsabilidade comum. Ao mesmo tempo não devemos estar em passividade.

Quando de verdade, o bem das almas o pedem, devemos apresentar ao Bispo, as iniciativas que, segundo o bom senso, se impõem. Não, certamente, quando se trata de particularidades, mas quando a importância é evidente. Se não o fizermos, seremos responsáveis do bem que não se cumpre, por nossa omissão.

A obediência sacerdotal é uma obediência grande, missionária como a obediência de Cristo em relação ao Pai; uma obediência dinâmica, que desenvolva a personalidade do Sacerdote e que é um sinal da unidade da Igreja.

Temos, ainda, responsabilidade, também, em relação aos outros sacerdotes. Não podemos dizer: “aquele é o pároco na tal paróquia, não na minha; por isso não me interessa o que ele faz”. Somos todos juntos, responsáveis. A indiferença não é conforme o Sacerdócio.

Mas, como podemos ajudá-lo? Nós não podemos mandar na Paróquia de um outro, mas podemos antes de mais nada respeitá-lo. Não podemos fazer o bem a um outro se ele não se sentir respeitado, estimado, amado. Um ambiente sacerdotal deve ser um ambiente de respeito, de estima, de confiança, de gentileza e de amor.

Esta é uma necessidade que se impõe a cada um por motivo do nosso sacerdócio, porque todos nós participamos do único sacerdócio de Cristo, que rezou para os seus apóstolos: “… até que fossem uma só coisa como Tu, ó Pai, és em mim e Eu em Ti” (Jo 17,21). Quero dizer: unidade de pensamento, unidade de orientação e unidade de amor, unidade de fraternidade.

Tudo isto pode ser difícil humanamente, mas temos em nós a Graça Sacerdotal que nos configura com Cristo. Temos todos nós na celebração da Missa a comunhão que nos une em Cristo. Temos, agora, também os textos do Concílio que fazem 50 anos e que ainda continuam vivos e valiosos como um precioso tesouro a cada um de nós. De verdade estes textos nos oferecem a possibilidade de unir-nos entre jovens e idosos, entre aqueles que tem uma orientação ou outra diferente; e nos ajudam a respeitar a diversidade que é uma riqueza, desde que não crie oposição. Gestos do Romano Pontífice Bento XVI nos mostrou muito disso.

A comunhão hierárquica é um grande dom conciliar e nós devemos entrar no espírito desta sem hesitação, também se nos faz maiores exigências e nos pede maiores responsabilidades. Mas, o senhor está conosco; devemos ter confiança!