por Pe Rhawy

 

O Celibato Eclesiástico

Também sobre este tema, devemos procurar o nosso caminho, que é próprio do sacerdote. O celibato sacerdotal não está de certo em oposição aos votos de castidade perfeita dos religiosos. Mas, na realidade se compreende perfeitamente se o considerarmos no sentido da missão sacerdotal.

Não se trata de uma obrigação estreitamente universal para todos; e etsão para prová-lo os sacerdotes do Oriente. Mas, como diz o texto conciliar, existem razões de conveniências.

A primeira razão: a nossa missão. Vemos em concreto como se comportam os primeiros apóstolos.

Cristo não pediu a eles de renunciar a algo: venite post me faciam vos piscatores hominum, quer dizer, de ir a Ele, de ser como Ele e de exercer a mesma missão como Ele.

Os Apóstolos compreenderam que não seria possível seguir Jesus sem deixar tudo. E deixaram tudo; não só as suas redes, os seus barcos, mas a todos que os cercavam. Naquela época deixar o pai era mais que deixar as esposas e os filhos, porque na organização social deles – patriarcal – também a esposa e os filhos, recebiam com toda a família o apoio necessário ao sustento do Pai.

Relictis retibus et patre: deixaram tudo mesmo. Por que? Não para ter um tempo de agir, mas para dar-se totalmente a Cristo no amor, para trabalhar com Ele. Eis o celibato missionário: dar-se totalmente ao Cristo no amor missionário, para poder ser com Ele, sem divisão; para trabalhar com Ele para a Salvação do mundo, dos homens, das almas.

O sacerdote aceita com coragem o sacrifício que lhe é pedido, quando pensa a necessidade do sacerdócio para a salvação do mundo, quando pensar que sem sacerdote o mundo não pode ser salvo. Não significa que não sofrerá, mas significa que ama bastante o Cristo e os seus irmãos e irmãs, para aceitar tal sacrifício. Eis o celibato como dom de Deus.

Encontramos uma expressão do Concílio que devemos compreender bem: diz que existe para a Igreja latina a lei do celibato. Parece-me que o sentido seja este: na Igreja latina os Bispos devem aceitar para o sacerdócio somente aqueles que receberam o dom do celibato; para que possam ficar fiéis à vocação somente aqueles que receberam este dom. porém, este dom de Deus não age de maneira mágica. Devemos compreendê-lo e compreendê-lo como um dom total de nossa vida a Cristo para salvar o mundo.

O Concílio Vaticano II mostra também que este amor do sacerdote para Cristo e para a humanidade é um amor que conduz a paternidade. Existe uma lei profunda da vida: o amor é fecundo, o amor dá vida. E para comunicar a vida de Deus, se compreende que Cristo nos pede de doar-nos totalmente a Ele e de viver no amor total. Dissemos que nós sacerdotes somos padres – verdadeiros pais.

E, finalmente, com o celibato nós damos o testemunho de uma vida diversa daquela terrestre, da vida divina, na qual não haverá mais matrimônio: ‘Viveremos como anjos de Deus’. Este celibato tem um valor enorme de testemunho. Muitos homens não acreditam na castidade dos sacerdotes, porque, quando existe, é um sinal muito forte.

Um dia alguém me disse: ‘não lhe entendo, você não fuma, não bebe, não está com mulher. Mas, quem é você? Um problema para ele: o testemunho de uma vida diversa, sempre incomoda. É necessário, contudo, que o testemunho seja um testemunho de alegria, o único testemunho de Cristo.

Dá para notar como em tudo isto existe uma identidade profunda entre aquilo que o Concílio nos pede e aquilo que as pessoas esperam e exigem, às vezes. Hoje, de nós, todos nos pedem que sejamos testemunhas vivas de Cristo! É disto que eles precisam!

Penso, porém que, de verdade nós vivemos agora um período particular importância da nossa história e da Igreja, por isso estou certo que após 50 anos de Concílio, ele ainda precisa ser vivenciado e experienciado nas nossas comunidades e em cada um de nós. Eis um papel importante, de primeiro plano, no mundo pós-moderno e do novo milênio de esperança e de paz.

Conclusão

Precisamos estar agora em atividade para aplicar o Concílio em nossas vidas, neste novo milênio que caminha, mas que pode descobrir uma riqueza que nunca deixa de ser atual e vivencial… Estamos a serviço para ajudar, muito depende de nós…

Os textos que lembramos devem-nos ajudar a sermos mais fiéis e devem-nos dar uma segurança profunda. O mesmo espírito de Deus, que guiou o Concílio Vaticano II nos guiará também na aplicação hodierna. É mister que coloquemos uma base sólida para os documentos conciliares. Isto, sobretudo, nos unirá profundamente entre nós e com os Bispos, para trabalharmos como discípulos missionários na renovação da Igreja, que o espírito Santo espera de uma Igreja que vive em constante estado de missão…