caros amigos,

Com este domingo iniciamos o Advento, um tempo litúrgico de grande sugestão religiosa, porque está impregnado de esperança e de expectativa espiritual. No Advento, o povo cristão revive o duplo movimento do espírito: por um lado, eleva o olhar rumo à meta final da sua peregrinação na história, que é a vinda gloriosa do Senhor Jesus; por outro, recorda com emoção o seu nascimento em Belém. A esperança dos cristãos orienta-se para o futuro, mas permanece sempre bem arraigada num acontecimento do passado. 

O tempo do Advento é formado, no Rito Romano, pelas quatro semanas que precedem o Natal do Senhor. A palavra “advento” significa “vinda”, “presença”. No mundo antigo indicava a visita do rei ou do imperador a uma província; na linguagem cristã refere-se à vinda de Deus, à sua presença no mundo; um mistério que envolve totalmente o cosmos e a história, mas que conhece dois momentos culminantes: a primeira e a segunda vinda gloriosa no fim dos tempos.

Neste domingo a liturgia da Igreja começa a sua caminhada cíclica com a entrada do tempo do Advento, preparação para a vinda do Deus que vem habitar entre nós. No mundo exterior, as lojas especializadas já vão iluminando e ornamentando os seus ambientes.  Ao lado disso, nossa consciência cristã é convidada a viver o espírito litúrgico deste tempo de preparação para o Natal.

Nada melhor para assimilarmos o verdadeiro espírito deste período de preparação para o Natal do que relembrarmos as palavras cheias de sabedoria, que aparecem no prefácio das missas das duas primeiras semanas. Referindo-se ao Divino Salvador, elas dizem assim: “Revestido da nossa fraqueza, Ele veio a primeira vez, para realizar seu eterno plano de amor e abrir-nos o caminho da Salvação.  Revestido da sua glória, Ele virá uma segunda vez, para conceder-nos em plenitude os bens outrora prometidos e que hoje vigilantes esperamos”.

E os textos deste primeiro domingo nos permitem descobrir o que é, na sua realidade, este tempo: um misto de recordação, de presença e de expectativa, como é, aliás, toda a liturgia da Igreja.  Expectativa é também o que ecoa do texto evangélico deste primeiro domingo do Advento.  Nele Jesus faz chegar até nós aquelas palavras que impregnam todo o tempo do Advento: Ficai atentos! Vigiai!  O Evangelista São Lucas já nos apresenta uma proclamação de esperança que abre o tempo do Advento.  Aproxima-se o tempo da salvação do homem. 

Como de fato, Natal é o primeiro passo de um caminho que vai terminar na glória da segunda vinda de Cristo. Por isso, somos convidados a Vigiar.  Vigilância é a grande palavra.  Porém, não uma vigilância feita de susto e de terror, mas feita de confiança em Deus que nos ama.  O evangelho nos convida à vigilância, porque o Cristo está para chegar

A palavra “vigiai” é hoje dirigida também a cada um de nós, porque cada um, na hora que só Deus conhece, será chamado a prestar contas da própria existência. Isto exige um justo desapego dos bens terrenos, um arrependimento sincero dos próprios erros, uma caridade laboriosa em relação ao próximo, e sobretudo, uma entrega humilde e confiante a Deus.

No Advento, a liturgia nos repete com freqüência e nos assegura que Deus “vem”: vem para estar conosco, em cada uma de nossas situações; vem para viver entre nós, para viver conosco e em nós; vem para preencher as distâncias que nos dividem e separam; vem para nos reconciliar com Ele e entre nós. Ele vem na história da humanidade para tocar à porta de cada homem e de cada mulher de boa vontade, para oferecer aos indivíduos, às famílias e aos povos o dom da fraternidade, da concórdia e da paz.

O “vir” de Deus, concentra-se nas duas principais vindas de Cristo, a de sua Encarnação e a de seu regresso glorioso no fim da história. O tempo de Advento vive entre estes dois pólos. Nos primeiros dias se sublinha a espera da última vinda do Senhor.

No texto evangélico encontramos uma série de imperativos para nos aproximar do assombro desta espera: levantai-vos, erguei a cabeça, tende cuidado, estai acordados, ficai de pé (cf. Lc 21, 34-36). Vale a pena escutar este grito do nosso coração que continuamente nos exige o milagre de uma novidade que não acabe. 

 

O tempo do Advento, como de fato, nos leva a recordar Aquele que já chegou, e a acolher sua vinda incessantemente presente. Por último, prepara-nos para o dia da sua volta prometida. Este é o paradoxo da nossa fé: recordar quem veio, a partir da acolhida de quem nunca foi embora, para preparar-nos para receber quem voltará. O paradoxo consiste em que o sujeito é a mesma pessoa: Jesus Cristo. Este é o tempo que nos prepara para a celebração do Natal cristão.  Levantemos!  Despertemos!

O Senhor Jesus veio no passado, vem no presente e virá no futuro. Ele abraça todas as dimensões do tempo, porque morreu e ressuscitou e, compartilhando nossa precariedade humana, permanece para sempre e nos oferece a própria estabilidade de Deus. 

Nesta ânsia pela vinda do Senhor, sempre podemos crescer mais, para que sua chegada seja preparada do modo mais perfeito possível.  Portanto, a liturgia deste domingo nos ensina o dinamismo do crescimento, com vistas ao reencontro definitivo com nosso Senhor. O cristão é aquele que, em cada dia, sente que há um caminho novo a fazer. É nesta atitude que somos chamados a viver este tempo de espera do Messias.

Os abalos e catástrofes cósmicos que expressam a vinda do Filho do Homem são vistos numa perspectiva de transformação do universo e do próprio homem.  Por isso, a reação humana em face destas realidades tremendas não é de temor, mas de confiança, de esperança.  De fato, os fiéis se erguem, levantando a cabeça ao invés de se prostrarem e se curvarem, pois, reconhecem a proximidade da própria salvação (v. 28).

Peçamos à Virgem Maria, a Mãe do Salvador, e que é também a Mãe da Esperança, a humilde Virgem de Nazaré, escolhida por Deus para ser a Mãe do Redentor, que ela nos guie neste caminho do Advento.  Ela espera com grande recolhimento interior o nascimento do seu Filho, que é o Messias.  Todos os seus pensamentos se dirigem para Jesus, que nascerá em Belém.  Assim, possamos também nós, aproveitar este tempo para uma preparação adequada na espera daquele que Vem.  Assim seja. 

D. Anselmo Chagas de Paiva, OSB