Grande é a responsabilidade de quem escreve. Agitar ideias é mais grave do que mobilizar exércitos. O soldado poderá semear os horrores da força bruta desencadeada e infrene; mas enfim o braça cansa e a espada torna à cinta ou a enferruja e consome o tempo. A ideia, uma vez desembainhada, é arma sempre ativa, que já não volta ao estojo nem se embota com os anos. A lâmina do guerreiro só alcança os corpos, pode mutilá-los, pode trucida-los, mas não há poder de braço humano que dobre as almas. Pela matéria não se vence o espírito. A ideia o escritor é mais penetrante, mais poderosa, mais eficazmente conquistadora. Vai direto à cidadela da inteligência. Se a encontra desapercebida (e quantas inteligências desaparelhadas para as lutas do pensamento!), toma-a de assalto, instala-se no seu trono e daí dirige e governa, a seu arbítrio, toda a atividade humana. Pelo espírito subjuga-se a matéria.

As palavras do primeiro parágrafo, autêntica louçania linguística, redigiu-as pe. Leonel Franca, SJ, para o prefácio da primeira tiragem de “A Igreja, a Reforma e a Civilização”. Vasta é a literatura desse colendo filho de Loyola, infelizmente deslembrada hoje em dia.

Além da qualidade de conspícuo literato, pe. Leonel Franca, SJ, notabilizou-se pela ereção da primeira universidade católica do país, a que é hoje a PUC do Rio de Janeiro. Seu sonho, sempre em congruência com a santa madre Igreja, consistia num ensino superior confessional, católico, que, sobre apresentar um currículo exímio, outrossim comunicaria a doutrina salvadora de Jesus Cristo. Por conseguinte, na então embrionária universidade do Rio de Janeiro todos os professores eram católicos praticantes.

Outra área na qual o insigne jesuíta há de ser lembrado é o ecumenismo. Quem lê “A Igreja, a Reforma e a Civilização” depara-se com os fundamentos de um autêntico ecumenismo, nos moldes do decreto “Unitatis Redintegratio”, porquanto pe. Franca, SJ, disserta acerca dos princípios católicos e lanceta, uma a uma, as heresias. Se quisermos conversar sinceramente com nossos irmãos separados, não temos de conhecer a doutrina católica, bem como os erros que procuram denegri-la? Hoje em dia – que desgraça! – confunde-se muita vez ecumenismo com irenismo e, não raro, incautos interlocutores católicos se deixam persuadir por um cristianismo “light”, politicamente correto, que, não sendo mais católico, não é mais cristianismo!

Oxalá um dia os confrades de Leonel Franca, SJ, resolvam publicar as obras completas dele. Que regalo será ofertado à sociedade brasileira! Não somente aos que anseiam pela explicitação detalhada dos dogmas católicos, com maravilhoso didatismo, bem como aos amantes da língua portuguesa, que prezam a gramática e veem no idioma bem escrito e bem falado uma sublime manifestação de patriotismo e civilidade.

Edson Luiz Sampel

Doutor em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense, de Roma.

Membro da União dos Juristas Católicos de São Paulo (Ujucasp) e da Academia Marial de Aparecida (AMA).