Lc 21,25-28.34-36
Meus caros amigos,
Com este domingo iniciamos o Advento, formado pelas quatro semanas que precedem o Nascimento de Jesus Cristo. Um tempo litúrgico de grande sugestão religiosa, porque está impregnado de esperança e de expectativa espiritual, tempo de preparação para o Natal do Senhor. A partir deste domingo, a Igreja se veste de roxo para esperar, em atitude de vigilância, em oração e penitência, para este grande momento: A chegada do nosso Salvador.
Com a entrada do Advento a liturgia da Igreja recomeça a sua caminhada cíclica. No mundo exterior, as lojas especializadas já vão iluminando e ornamentando os seus ambientes. Ao lado disso, nossa consciência cristã é convidada a viver o espírito litúrgico deste tempo de preparação para o Natal. É uma ocasião em que o povo cristão revive o duplo movimento do espírito: por um lado, eleva o olhar rumo à meta final da sua peregrinação na história, que é a vinda gloriosa do Senhor Jesus; por outro, recorda com emoção o seu nascimento em Belém. A esperança dos cristãos orienta-se para o futuro, mas permanece sempre bem arraigada num acontecimento do passado.
A palavra “advento” significa “vinda”, “presença”. No mundo antigo indicava a visita do rei ou do imperador a uma província; na linguagem cristã refere-se à vinda de Deus, à sua presença no mundo; um mistério que envolve totalmente o cosmos e a história, mas que conhece dois momentos culminantes. São Bernardo de Claraval nos ensina que existem três dessas vindas de Jesus. A primeira ocorreu há mais de dois mil anos, na humildade de uma manjedoura, em Belém. A terceira será a vinda definitiva, no fim dos tempos, quando Jesus se assentará no trono da glória para julgar os atos da humanidade. A segunda vinda, por sua vez, é uma vinda intermediária, que pode acontecer todos os dias, por meio dos sacramentos, sobretudo pela Confissão e pela Eucaristia. E é justamente essa a vinda para a qual devemos nos preparar no tempo do Advento (cf. S. BERNARDO DE CLARAVAL, Obras completas, Madrid, 1953, p. 177).
Nada melhor para assimilarmos o verdadeiro espírito deste período de preparação para o Natal do que relembrarmos as palavras cheias de sabedoria, que aparecem no prefácio das missas das duas primeiras semanas. Referindo-se ao Divino Salvador, elas dizem: “Revestido da nossa fraqueza, Ele veio a primeira vez para realizar seu eterno plano de amor e abrir-nos o caminho da Salvação. Revestido da sua glória, Ele virá uma segunda vez para conceder-nos em plenitude os bens outrora prometidos e que hoje vigilantes esperamos”.
E as leituras deste primeiro domingo do advento nos permitem descobrir o que é, na sua realidade, este tempo: um misto de recordação, de presença e de expectativa, como é, aliás, toda a liturgia da Igreja. Expectativa é também o que ecoa do texto evangélico. Nele Jesus faz chegar até nós aquelas palavras que impregnam todo o tempo do Advento: Ficai atentos! Vigiai! O Evangelista São Lucas já nos apresenta uma proclamação de esperança: Aproxima-se o tempo da salvação do homem.
O Natal, de fato, é o primeiro passo de um caminho que vai terminar na glória da segunda vinda de Cristo. Por isso, somos convidados a Vigiar. A liturgia deste domingo nos ajuda a refletir sobre como deve ser esta atitude cristã de espera. Vigilância é a grande palavra. Porém, não uma vigilância feita de susto e de terror, mas feita de confiança em Deus que nos ama. Somos convidados à vigilância porque o Cristo está para chegar.
A palavra “vigiai” é hoje dirigida também a cada um de nós, porque cada um, na hora que só Deus conhece, será chamado a prestar contas da própria existência. Isto exige um justo desapego dos bens terrenos, um arrependimento sincero dos próprios erros, uma caridade laboriosa em relação ao próximo e uma entrega humilde e confiante a Deus.
No Advento, a liturgia nos repete com freqüência e nos assegura que Deus “vem”: vem para estar conosco, em cada uma de nossas situações; vem para viver entre nós, para viver conosco e em nós; vem para preencher as distâncias que nos dividem e separam; vem para nos reconciliar com Ele e entre nós. Ele vem na história da humanidade para tocar à porta de cada homem e de cada mulher de boa vontade, para oferecer aos indivíduos, às famílias e aos povos o dom da fraternidade, da concórdia e da paz.
No texto evangélico encontramos uma série de imperativos para nos aproximar do assombro desta espera: levantai-vos, erguei a cabeça, tende cuidado, estai acordados, ficai de pé (cf. Lc 21, 34-36). Vale a pena escutar este grito do nosso coração que continuamente nos exige o milagre de uma novidade que não acabe. Acolher na nossa vida o Filho de Deus que vem ao mundo, eis o compromisso deste Advento.
O tempo do Advento nos leva a recordar Aquele que já chegou, e a acolher sua vinda incessantemente presente. Por último, prepara-nos para o dia da sua volta prometida. Este é o paradoxo da nossa fé: recordar quem veio, a partir da acolhida de quem nunca foi embora, para preparar-nos para receber quem voltará. O paradoxo consiste em que o sujeito é a mesma pessoa: Jesus Cristo. Este é o tempo que nos prepara para a celebração do Natal cristão. Levantemos! Despertemos!
O Senhor Jesus veio no passado, vem no presente e virá no futuro. Ele abraça todas as dimensões do tempo, porque morreu e ressuscitou e, compartilhando nossa precariedade humana, permanece para sempre e nos oferece a própria estabilidade de Deus. Nesta ânsia pela vinda do Senhor, sempre podemos crescer mais, para que sua chegada seja preparada do modo mais perfeito possível. Portanto, a liturgia deste domingo nos ensina o dinamismo do crescimento, com vistas ao reencontro definitivo com nosso Senhor. O cristão é aquele que, em cada dia, sente que há um caminho novo a fazer. É nesta atitude que somos chamados a viver este tempo de espera pelo Messias.
Os abalos e catástrofes cósmicos que expressam a vinda do Filho do Homem são vistos numa perspectiva de transformação do universo e do próprio homem. Por isso, a reação humana em face destas realidades tremendas não é de temor, mas de confiança, de esperança. De fato, os fiéis se erguem, levantando a cabeça em vez de se prostrarem e se curvarem, pois, reconhecem a proximidade da própria salvação (v. 28). E a vida do homem desenvolve-se no amor do Senhor, não obstante todas as dolorosas experiências da destruição e da morte, a caminho da final realização em Deus.
O Advento traz consigo o convite à paz de Deus para todos os homens. E necessário construirmos esta paz e continuamente a reconstruirmos em nós mesmos e com os outros: nas famílias, nas relações com os vizinhos, nos ambientes de trabalho e na vida da sociedade inteira.
Saibamos estar prontos a encontrar o Salvador, que vem revelar-nos o rosto do Pai celeste. Que o Senhor nos conceda a graça de iniciarmos com impulso e boa vontade o itinerário do Advento, indo com as boas obras ao encontro de Cristo, nosso Redentor.
Peçamos também à Virgem Maria, aquela que foi escolhida por Deus para ser a mãe do Salvador, que ela nos guie e nos acompanhe neste caminho do Advento. Ela espera com grande recolhimento interior o nascimento do seu Filho, que é o Messias. Todos os seus pensamentos se dirigem para Jesus, que nascerá em Belém. Assim, possamos também nós, aproveitar este tempo para uma preparação adequada na espera daquele que Vem. Assim seja.
- Anselmo Chagas de Paiva, OSB
Mosteiro de São Bento/RJ