(as propriedades do Matrimônio I)

 

“Esta união íntima, já que é dom recíproco de duas pessoas, exige do mesmo modo que o bem dos filhos, a inteira fidelidade dos cônjuges e requer a indissolubilidade da sua união” (Gaudium et Spes – 2ª parte, cap. 1, n48)

 

Nesta última parte deste ciclo de reflexão a respeito do matrimônio, nos ocuparemos das suas propriedades: unidade e indissolubilidade.

Ambas as propriedades são essenciais pelo Direito Natural e pelo Direito Divino, portanto, válidas tanto para o matrimônio cristão como para o matrimônio não cristão. Contudo, no primeiro, elas adquirem um vigor todo especial porque foram elevadas, pelo sacramento, à ordem da Graça. Neste sentido existe uma responsabilidade mais grave por parte dos conjuntos cristãos, assim como uma ajuda de Deus imensamente maior para consolidá-las na fidelidade matrimonial.

A afirmação de que a unidade é propriedade natural baseia-se em aspectos sociais e antropológicos. A forma originária do matrimônio tem sido bastante debatida no âmbito da sociedade e da antropologia. A teoria mais aceita afirma que a instituição monogâmica é a mais antiga forma matrimonial existente nos vários tipos de civilizações primitivas. Estas camadas primitivas desconheciam a sodomia e o aborto, sendo o adultério severamente castigado. A poligamia só iria surgir nas civilizações posteriores, primárias e secundárias, não se encontrando também desenvolvimento normal da forma matrimonial dos povos da terra. Mesmo quando a poligamia se apresentava, ela estava invariavelmente ligada a fatores conjunturais, como, por exemplo, a corrupção moral ou a falta de homens/mulheres.

Todavia, não cabe aqui uma análise meramente quantitativa. O enfoque mais apropriado deve colocar a monogamia como um valor e não apenas como uma tendência histórica. Este valor está ratificado na própria experiência do homem, nos seus aspectos de equilíbrio psico-social. O matrimônio monogâmico ocupa um degrau mais elevado da evolução social e psicológica, sendo seus vínculos revestidos de maior solidez e segurança.

A imagem da Aliança de amor entre Cristo e a Igreja, nos mostra a necessidade da unidade como propriedade essencial da aliança entre os cônjuges. Abraão, o Patriarca, Moisés, o Legislador e, principalmente, Cristo, essência da própria Aliança, nos mostra o Povo de Deus (Igreja), unida a um só Deus e Senhor. Esta união singular, que não admite elementos terceiros, (outros deuses), é paradigma perfeito da estrutura familiar.