Estamos passando por muitas experiências inéditas na vida da Igreja, justamente em tempo dos maiores momentos celebrativos ligados à Semana Santa e a Páscoa. Chegamos à Festa da Ascensão do Senhor, comemorando a volta de Cristo para a casa do Pai, mas sem a presença dos fieis nos tempos. Assistimos a volta da Igreja para as casas das famílias, como verdadeiras igrejas domésticas.

Ao voltar ao Pai Jesus atualiza a comunhão entre o divino e o humano, porque realiza a Aliança que Deus fez com Abraão. Ele deixa um legado de transformação na vida da sociedade, convocando o mundo para agir de forma diferente, dando primazia para o amor e a fraternidade. É o que todos esperam desse tempo de pandemia, porque o vírus está mexendo com toda a humanidade.

A esperança exige de todas as pessoas um projeto de ação libertadora e salvadora, feito com responsabilidade. Projeto que passa também pelo cumprimento do isolamento social, forma mais eficiente agora para a defesa da vida. Ficando em casa sofremos o desgaste existencial, a impossibilidade de executar as tarefas planejadas até que tudo volte à sua normalidade.

Todos os projetos das igrejas neste ano estão praticamente suspensos, mas isto não significa fragilidade na condução da fé cristã e nem descompromisso com a vida da comunidade. É oportunidade para as pessoas sentirem a prática cristã no contexto do lar, da mesma forma como viviam as primeiras comunidades cristãs, que não estavam ligadas a templos. Era a Igreja nas casas.

Não é fácil ficar em casa, cada um se privando do direito de ir e vir. Isso não pode ser entendido como exigência das autoridades, mas como iniciativa consciente e madura de cada brasileiro, porque está em jogo a vida dos cidadão. Além de ser um gesto humano, o é também uma atitude cristã, para se evitar a contaminação. Mas temos a esperança de realidades novas na condução do mundo.

Essa pandemia ocasionada pelo coronavirus pode ser perfeitamente interpretada como a afirmação de uma denúncia pública e generalizada contra os diversos sistemas injustos dominadores que se impõem pelo uso da força e da violência. Essa é uma das marcas muito frequentes dos últimos tempos, que causa desrespeito e destruição da vida humana, clamando por justiça.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba