Belíssima a forma como a língua portuguesa expressa os dias da semana! Ao contrário da totalidade dos outros idiomas novilatinos e anglo-saxônicos, que optaram por nomes pagãos (Lunes, Martes etc., para exemplificar com o espanhol), em português, os dias da semana não têm nomes próprios. Por isso, dizemos segunda-feira, terça-feira, quarta-feira etc., empregando o ordinal. Também por este motivo grafamo-lo com letra minúscula. A palavra feira indica dia. A “primeira feira” é o domingo, que é o dies Domini, ou, dia do Senhor. Recebe esta designação porque é o dia em que Jesus ressuscitou dos mortos; é a Páscoa que se celebra toda semana. 

No século XIII, o papa pediu que os países passassem a adotar o calendário litúrgico. Parece que só Portugal obedeceu aos rogos do vigário de Cristo. Desta feita, os falantes do português ganhamos esse presente de ouro. Com efeito, quando dizemos segunda-feira (e não “Lunes”, nem sequer Monday, que é dia da lua), exprimimos uma realidade teológica assaz profunda: este é o segundo dia após a ressurreição de nosso Senhor, ou seja, depois do acontecimento mais importante da humanidade. Assim, nosso dia a dia está completamente embevecido nos valores cristãos. A língua nos incita a ler a realidade sob a ótica pascal. Isto é maravilhoso! 

Hoje não é simplesmente terça-feira; é o terceiro dia na sequência da ressurreição. De fato, nosso coração se enche de esperança. Dá sentido à caminhada, ao trabalho rotineiro: somos constantemente lembrados de que nosso maior inimigo, a morte, já foi definitivamente vencido pelo Cristo ressurrecto, que trouxe vida abundante a todos (Jo 10, 10). 

 

Texto extraído, com adaptações, do livro "Católico até debaixo d'água" (Editora LTR), do canonista Edson Luiz Sampel. A