A solidariedade, no dizer do Papa Francisco, é como uma virtude moral e um comportamento social, primeiramente praticada pelas famílias na missão educativa. Toda família deve formar os filhos para princípios fundamentais: o amor, a fraternidade, a convivência, a partilha, a liberdade, o respeito, a solidariedade, o cuidado pelo outro e as dimensões moral, espiritual e social da pessoa.

O Papa fala também da responsabilidade educativa de todos os agentes da cultura e dos meios de comunicação social. Todos têm a missão de cuidar da fragilidade que cresce no meio da sociedade, quando tudo parece diluir-se e perder consistência. Não é servir com características ideológicas, mas serviço de responsabilidade; não é desenvolver ideias, mas trabalhar a identidade das pessoas.

A palavra solidariedade nem sempre agrada, porque não se restringe a um ato esporádico de auxílio ao outro. Ela é expressão de comunidade, de prioridade naquilo que defende a vida e valoriza as pessoas. É atitude de não se conformar com o império do dinheiro, com o egoísmo sem sensibilidade para com a estrutura de pobreza, de desigualdade, de falta de trabalho, de casa e negação de direitos.

Falar de solidariedade é aludir ao nível moral das pessoas. É apelo para a consciência universal e preocupação pelo cuidado com as coisas comuns. Um exemplo citado pelo Papa se refere ao fato da pessoa ter água em abundância, mas gasta só o necessário, evitando desperdício, para que o outro também tenha para seu próprio uso. Isso é gesto humano, porque vai além das próprias fronteiras.

Nada pode justificar privilégios que venham a dificultar o uso dos direitos e da dignidade de todos, porque o mundo não foi feito apenas para alguns. Os bens criados têm um destino comum. O Papa cita na Fratelli Tutti São Gregório Magno, que diz: “Quando damos aos indigentes o que lhes é necessário, não oferecemos o que é nosso; limitamo-nos a restituir o que lhes pertence”.

São João Paulo II corrobora com o pensamento solidário ao dizer: “Deus deu a terra a todo gênero humano, para que ela sustente todos os seus membros, sem excluir nem privilegiar ninguém”. É justamente por isto que a Igreja fala, dentro da ordem ético-social, da função social da propriedade privada. Um bem da criação não poder ficar retido como propriedade fora do bem comum.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba.